Anastasia
Carrick Grey sumiu do mapa a duas semanas. A última informação sobre ele foi uma estadia num hotel de beira de estrada em Washington no dia do atentado e depois disso nem mesmo um sinal de fumaça.
Curiosamente é o mesmo intervalo de tempo que, durante uma conversa sincera até demais, o Doutor Newton foi aberto comigo e confessou o quão pequenas são as chances do Christian ter uma vida normal novamente — isso se ele acordar do coma.
As medicações mais pesadas foram retiradas, alguns dos aparelhos também mas ele simplesmente não acorda e eu sinceramente não aguento mais as pessoas ao meu redor falando que eu preciso respirar fundo e manter a calma.
Eu nunca apreciei tanto o silêncio como aprecio agora, principalmente quando estou com a Kate. Ela é a única que parece entender toda a merda e não perde tempo enchendo a minha cabeça com pensamentos positivos idiotas e frases clichês. Quando quero conversar ela me escuta, quando quero apenas ficar olhando pela janela ela permanece ao meu lado silenciosamente.
Mia é uma bagunça irrecuperável. Ela tem tido crises de pânico horríveis desde que o Christian foi baleado e eu não sei mais o que fazer, principalmente porque ela se recusa a ver qualquer psiquiatra ou terapeuta e não sou a melhor pessoa agora para ficar do lado dela oferecendo apoio. Até tentei no início mas três dias foram o meu limite e eu quase enlouqueci com a pressão que senti nos meus ombros.
Eu nunca fui uma mulher medrosa, ou pelo menos não era.
Ultimamente abrir os olhos de manhã já é motivo de pavor. Significa o nascimento de um novo dia e a perspectiva do que esse dito dia pode me trazer é tenebroso. A mera ideia do Christian nunca acordar desse coma é aterradora e a possibilidade de estar grávida não ajuda na minha situação.
— Acabar com a dúvida é melhor do que ficar se martirizando dessa forma, sabia? — dou um pulo e olho sobre o ombro para uma Kate de sobrancelhas arqueadas e braços cruzados me olhando do limiar da porta.
Ela suspira e entra no quarto que tem sido mais a minha casa do que o apartamento que o Taylor alugou para nós no centro de Washington, temporariamente.
— Prefiro fazer isso com o Christian. — tento soar indiferente mas sinto as lágrimas queimando nos meus olhos.
Me viro novamente para a janela e aperto os braços ao meu redor, observando as gotas de chuva batendo no vidro e escorrendo.
Comecei a me sentir estranha a mais ou menos uma semana e, por mais que tenha tentado culpar a situação atual de merda que estamos vivendo, a possibilidade de ser uma gravidez são imensas. Filhos já era uma coisa que estava nos nossos planos e a ideia parecia deliciosa mas agora tem um gosto amargo, quase doloroso.
Não é justo trazer uma criança ao mundo enquanto o pai dela está entre a vida e a morte, certo?
Deus, de onde saiu essa merda?
Talvez eu tenha perdido a coerência definitivamente.
— Ana, eu sei que a sua cabeça está a mil agora e que a última coisa que você precisa é alguém te falando o que fazer, mas nós somos melhores amigas e isso me dá liberdades de decidir coisas por você. — sinto as mãos dela segurando meus ombros firmemente e girando o meu corpo. — Você vai fazer um teste de gravidez e se o resultado for positivo vamos começar a cuidar dessa gestação enquanto o Christian se recupera.
— Kate, por favor, eu não...
— Vocês estavam planejando um bebê, não é? Queriam uma criança, queriam dar o próximo passo no casamento de vocês. — ela sorri e limpa a lágrima que teimosamente rola pelo meu rosto. — Sei que não é como você imaginou, Ana. Eu te conheço e sei que planejou esse momento um milhão de vezes na sua cabeça mas não quer dizer que vai ser menos especial só porque é diferente. Faça o teste e se estiver grávida vai ser mais uma coisa para contar ao Christian durante as suas visitas. Doutor Newton já disse que ele ouve tudo, talvez seja isso que esteja faltando para ele acordar finalmente.
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Mr. President
RomanceA corrida pela Casa Branca nos obrigou a lidar com os problemas do passado e aquilo que estava mal resolvido...