Mabel Morgans sempre sentiu que a vida na elite era um desafio. Irmã mais nova do tão respeitado Elijah Morgans, e filha de pais poderosos, entretanto, ela nunca se encaixou.
Apesar disso, a garota com seus recém dezenove anos completos é ciente qu...
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Mabel Morgans
Tudo ao meu redor é um borrão de luz e som quando recobro a consciência. Sinto uma superfície áspera e úmida sob mim, e uma sensação de calor e segurança me envolve. Ao abrir os olhos, noto que estou deitada sobre uma toalha no convés da lancha, com Caleb ao meu lado. Está com uma expressão pensativa, fumando um cigarro enquanto encara o oceano com as madeixas úmidas.
O cheiro da nicotina mistura-se com o aroma salgado do mar, e o som das ondas contra o casco da lancha cria um pano de fundo tranquilo. Minha cabeça ainda está girando um pouco, e sinto um leve tremor no corpo, mas a sensação de estar segura e fora de perigo é reconfortante.
Sullivan solta uma pequena fumaça dos lábios e exala um suspiro, virando a cabeça lentamente para me olhar. Seu rosto mostra um misto de alívio e cansaço ao notar que estou acordada.
— Finalmente retornou ao mundo dos vivos, pequenina — diz, sua voz rouca, mas com um tom que soa quase cuidadoso.
Olho para ele, para dentro daqueles olhos amendoados que mudam de tom constantemente, tentando processar a situação. A lembrança da tontura e da escuridão que me envolveu ainda é vívida, e sinto uma onda de vergonha por ter sido tão teimosa.
— Você preferiria o contrário?
Caleb faz uma careta presunçosa e dá uma risada curta.
— Não... com toda certeza, não. Causaria muita dor de cabeça.
— Esse é o meu maior talento, se ainda não percebeu.
— E quanto ao piano?
A pergunta me pega de surpresa. Por um momento, fico em silêncio, apenas analisando-o.
— O que tem o piano?
— Achei que esse fosse o seu maior talento. Pelo menos, é o que costumam dizer por aí.
Claro que todos em Malibu, inclusive ele, sabiam dessa habilidade que eu cultivava desde pequena e que se intensificou quando comecei as aulas práticas. Não tinha como esconder, já que sempre me chamavam para tocar em qualquer evento que me encontrasse presente e estava acostumada, já que tocar piano sempre foi algo que me definiu. A minha pequena dose de personalidade. Só não imaginava que ele também concordasse com isso. E, ao mesmo tempo que amava, as lembranças das expectativas e pressões que sempre acompanharam tal talento me faziam esquecer dessa paixão.
— As pessoas dizem muitas coisas o tempo todo, Sullivan — solto com desdém, finalmente. — Não quer dizer que estejam sempre certas. Você, mais do que ninguém, deveria saber disso.
Um sorriso surge no canto dos lábios dele, como se minhas palavras o tivessem atingido, mas de uma maneira que Caleb estava preparado. Então ele pergunta, sob um tom casual, mudando completamente de assunto: