Mabel Morgans sempre sentiu que a vida na elite era um desafio. Irmã mais nova do tão respeitado Elijah Morgans, e filha de pais poderosos, entretanto, ela nunca se encaixou.
Apesar disso, a garota com seus recém dezenove anos completos é ciente qu...
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Mabel Morgans
Observo o prato de filé mignon à minha frente, ignorando o desconforto que paira sobre a mesa. A fome está ali, mas contida, esmagada pelo peso da obrigação e pelas memórias que me incomodam.
Um dos mordomos dos Sullivan se move com uma precisão quase robótica enquanto serve o jantar, e só consigo pensar no quanto preferia estar em qualquer outro lugar, embora não tivesse escolha.
Os jantares com a família Sullivan eram um ritual semanal, e mamãe me obrigou a vir, como sempre, alegando que, com as famílias sendo tão próximas há anos, não seria educado recusar. Mas esses encontros eram uma tradição da qual eu nunca pedi para fazer parte e que eu não tinha o menor interesse em estar presente.
Não que eu tenha algo contra a família Sullivan em geral. Vivian Sullivan é uma mulher adorável, sempre atenciosa e com um jeito caloroso. Seus outros filhos, Cole e Timothy, são carismáticos e têm aquele brilho divertido no olhar, como se estivessem sempre planejando algo novo. Até o pai deles, Christian, por mais rígido que pareça, tem seus momentos de simpatia.
Mas Caleb Sullivan... Caleb Sullivan era sempre o maldito problema.
Sinto os olhos dele sobre mim, como sempre. Ao lado de Elijah, ele não diz nada, mas o peso do seu olhar é inconfundível, carregado de algo que não sei bem como descrever. Talvez fosse incômodo ou apenas uma tensão mal disfarçada. Eu sabia que ele me observava, mas me recuso a dar a ele a satisfação de reconhecer isso.
— Quer mais um pouco de vinho, Mabs?
A voz de Cole me tira dos pensamentos. Ele está sentado ao meu lado, me oferecendo a garrafa com um sorriso amigável. Eu sorrio de volta, aliviada por estar perto dele e não de Caleb.
— Claro, por que não?
Cole me serve com cuidado, e por alguns segundos consigo me distrair com a leveza da conversa. Mas o incômodo nunca desaparece totalmente.
— Como estão indo as aulas de piano?
Dou de ombros, tentando parecer casual, enquanto ele enche minha taça, mas a verdade é que minha mente ainda está longe dali, perdida em pensamentos sobre Riven e a confusão que sinto.
— Estão indo bem — giro a taça de vinho em minhas mãos. — Ainda não sou uma prodígio, mas pelo menos o professor não está arrancando os cabelos.
Ele ri, um som leve que quebra um pouco a tensão.
— Sempre ouvi falar que ele é muito talentoso.
— É verdade, ele é.
— Você deve estar aprendendo muito com ele.
— Sim, certamente ela está aprendendo bastante — Caleb se envolve na conversa ao dar um gole na própria taça, e sinto meu estômago se revirar. O tom é casual, mas a maneira como me observa é tudo menos leve.
