Capítulo 3

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Durante o caminho, observei a cidade. Tomei consciência de onde estava e me senti um pouco feliz por ter saído daquele lugar. Entramos em um bairro nobre da cidade, com várias residências elegantes, e ao final da rua havia um condomínio imenso e maravilhoso.

— Você mora aqui? — Olhei para ele com curiosidade.

— Nós moramos aqui.

Por um momento, travei olhando para ele, não estava esperando esse tipo de resposta.

— Estamos em um contrato de casamento, lembra? Você estava à venda, e eu comprei...

Revirei os olhos e voltei a observar a paisagem urbana. Era óbvio que ele estragaria qualquer tentativa de conversa. Entramos na garagem de uma das casas. Ele saiu do carro e abriu a porta para mim.

— Esta é a casa onde você vai morar. Tentarei visitá-la algumas vezes, apesar da minha agenda apertada — disse ele, abrindo a porta que levava para o interior da casa.

O ambiente era deslumbrante, com um clima totalmente diferente daquela outra casa aterrorizante. Era realmente um ambiente familiar. Um homem de terno e uma mulher estavam parados, parecendo nos esperar.

— Esta é Cecilia, a governanta, e Josué, o segurança da casa — Ele sorriu e se aproximou de mim, passando o braço em volta da minha cintura. Olhei para ele sem entender e, antes que eu pudesse reagir, ele apertou mais forte. — Pessoal, esta é Ayla, minha noiva.

Eu tinha esquecido dessa parte da história. Após uma breve conversa com ambos, ele me levou para conhecer a casa. Passamos por salas luxuosas, uma cozinha moderna e um jardim deslumbrante. Finalmente, chegamos ao quarto onde eu ficaria. Obviamente, era o quarto dele, mas ele me assegurou que não dormiria comigo.

— Eu tenho uma dúvida: como você me achou à venda?

Michael me observou por um momento. — Isso é história para o nosso jantar. Está com vontade de comer o quê?

— Michael, como você me achou?

Sua expressão mudou rapidamente, tornando-se brava e ríspida.

— Estou cansado de só você falar e mandar. Já me arrumou problemas demais em um único dia. Só porque te tirei daquela casa, você acha que pode fazer qualquer pergunta e agir dessa forma? — Ele saiu do quarto, fechando a porta com força.

Sentei-me na cama e observei a enorme sacada enquanto esperava que ele voltasse, mas só ouvi ele avisando a governanta que precisava ir embora.

Enquanto ouvia os passos de Michael se afastando, senti uma mistura de alívio e frustração. Levantei-me e caminhei até a sacada, olhando para o jardim bem cuidado abaixo. O cheiro das flores misturado com a brisa suave trouxe uma sensação momentânea de calma.

A porta do quarto se abriu, e Cecilia entrou com uma expressão gentil.

— Senhorita Ayla, posso lhe trazer algo? Um chá, talvez?

— Um chá seria ótimo, obrigada.

Cecilia saiu do quarto e, poucos minutos depois, voltou com uma bandeja contendo uma xícara de chá fumegante e alguns biscoitos.

— Espero que goste — disse ela, colocando a bandeja sobre uma mesa próxima.

— Obrigada, Cecilia. Você pode me dizer mais sobre esta casa? — perguntei, tentando desviar minha mente da interação tensa com Michael.

— Claro, senhorita. Esta casa pertence à família de Michael há gerações. É um lugar seguro e cheio de história. Ele gosta de manter as coisas em ordem e discretas — disse ela, com um sorriso acolhedor.

— Parece um bom lugar para viver — comentei, tomando um gole do chá.

Cecilia sorriu novamente e se retirou, deixando-me sozinha com meus pensamentos. Voltei para a sacada, sentindo o peso das circunstâncias. Minha vida havia mudado drasticamente em tão pouco tempo, e eu precisava encontrar uma maneira de navegar por essa nova realidade.

A noite caiu, trazendo consigo uma quietude quase palpável. Deitei-me na cama, tentando relaxar, mas os eventos do dia continuavam a martelar na minha mente. Estava prestes a adormecer quando ouvi uma batida suave na porta.

— Entre — disse, levantando-me um pouco.

A porta se abriu lentamente, revelando Michael. Ele parecia menos rígido, mas ainda carregava uma aura de autoridade.

— Desculpe pela forma como falei mais cedo — disse ele, com um tom mais brando. — Estou acostumado a ter controle de tudo, e essa situação é... diferente.

Assenti, surpresa pela sua mudança de atitude.

— Eu entendo. Também estou tentando me ajustar a tudo isso.

Ele caminhou até a janela, olhando para a noite lá fora.

— Vamos tentar fazer isso funcionar, pelo menos por enquanto. Ambos temos algo a ganhar com essa situação.

Assenti novamente, sabendo que ele tinha razão. Precisávamos encontrar um equilíbrio, mesmo que fosse temporário.

— Boa noite, Ayla — disse ele, virando-se para sair.

— Boa noite, Michael.

Fechei os olhos, tentando encontrar um pouco de paz na confusão que minha vida havia se tornado.

Os dias seguintes passaram em um ritmo estranho e novo. Michael e eu estabelecemos uma rotina silenciosa, quase mecânica. Eu passei a conhecer melhor a casa, explorando cada canto e criando uma relação amigável com Cecilia e Josué. Apesar do clima inicial de tensão, aos poucos fui percebendo que havia mais em Michael do que sua postura dura e autoritária.

Uma tarde, enquanto passeava pelo jardim, encontrei um pequeno espaço com um balanço pendurado em uma árvore. Sentei-me e comecei a balançar suavemente, sentindo a brisa fresca no rosto. Foi então que ouvi passos se aproximando.

— Gosta daqui? — perguntou Michael, surgindo atrás de mim.

— É tranquilo — respondi, sem olhar diretamente para ele.

Ele sentou-se em um banco próximo, observando-me por um momento antes de falar.

— Este era o lugar favorito da minha mãe. Ela costumava passar horas aqui, lendo e refletindo.

Surpresa por sua revelação, parei de balançar e olhei para ele. Havia uma suavidade em seus olhos que eu ainda não tinha visto.

— Deve ter sido uma mulher incrível — comentei, tentando manter a conversa.

— Ela era — ele concordou, com um leve sorriso. — Forte, determinada, mas também gentil. Aprendi muito com ela.

Por um momento, ficamos em silêncio, apenas aproveitando a tranquilidade do jardim.

— Ayla, sei que as circunstâncias não são ideais, mas quero que saiba que não pretendo ser um tirano — disse ele, quebrando o silêncio. — Tenho minhas razões para tudo isso, e espero que possamos encontrar uma maneira de tornar isso mais... suportável.

Assenti, sentindo uma conexão momentânea.

— Eu também espero que possamos fazer isso funcionar — respondi sinceramente.

Michael levantou-se e caminhou até o balanço, parando ao meu lado.

— Há um evento importante amanhã à noite, um jantar de negócios. Preciso que esteja ao meu lado.

— Claro, estarei lá — disse, tentando esconder minha apreensão.

Ele assentiu e, antes de se afastar, tocou levemente meu ombro.

— Obrigado, Ayla. Boa tarde.

Fiquei observando enquanto ele se afastava, pensando nas camadas que começavam a se revelar em nossa estranha convivência.

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