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JUSSARA

Eu ainda lembrava da minha conversa com Agenor na delegacia, pouco antes dele ser levado para a cadeia, ela ainda estava fresca na minha mente. As palavras cruéis, o ódio em seus olhos, tudo aquilo que me marcou.

***

Dois anos atrás...

Eu estava esperando em uma salinha, segurando firme os últimos papéis do divórcio nas minhas mãos suadas.

Como eu não tinha percebido antes? Ou eu só não queria ver o que estava diante dos meus olhos?

Finalmente, a porta se abriu e Agenor entrou, escoltado por dois policiais. Ele estava com algemas nos pulsos, mas ainda exibia aquele olhar arrogante.

Ele sentou à minha frente, os policiais saíram da sala, nos deixando sozinhos. Olhou para mim com desprezo, e eu senti um nó se formar no meu estômago.

— Vamos acabar logo com isso. — disse ele, a voz fria.

— Sim, vamos. — respondi, tentando manter a calma.

Coloquei os papéis na mesa entre nós, e Agenor pegou a caneta, assinando os documentos com movimentos bruscos. Quando terminou, ele jogou os papéis na minha direção, sem sequer olhar para eles.

— Pronto. Agora você está livre de mim. — ele disse, com um sorriso sarcástico.

— E você está indo para onde merece. — respondi, tentando não deixar a raiva transparecer.

— Você acha que é tão fácil, não é? — ele disse, inclinando para frente. — Acha que assinar esses papéis resolve tudo e que o problema aqui sou eu?

— Pelo menos é um começo. — disse, tentando não vacilar. — E é claro que o problema sempre foi você, Agenor.

— Você é uma idiota, Jussara. — ele disse, balançando a cabeça. — Sabia que nunca teve graça transar com você?

As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. Fechei os olhos por um momento, tentando manter a compostura.

— Você não sente vergonha de dizer isso? — perguntei, a voz trêmula.

— Vergonha? Vergonha é o que eu sinto de ter passado tanto tempo contigo. — ele respondeu, rindo. — Eu sempre procurei prostitutas para me aliviar porque você sempre foi uma incompetente. Nem para causar tesão servia.

Senti as lágrimas ameaçando cair, mas me recusei a chorar na frente dele.

— Você é um monstro. — disse, com a voz embargada. — E está onde merece estar.

— Você acha? — ele riu, um som frio e cruel. — Você devia era me agradecer por ter que aturar uma mulher como você. Todas as vezes que enfiei o pau dentro de você, esperava encontrar uma boceta quente e molhada, mas só encontrei uma mulher fria com uma boceta gelada e sem graça. Você é uma piada, Jussara.

As palavras dele me rasgaram por dentro. Eu tremia, tentando segurar as lágrimas.

— Você é nojento. — sussurrei, sentindo a bile subir à minha garganta.

— Nojento? — ele zombou. — Nojento é ter que fingir que você era boa de cama. Eu fingia, Jussara, fingia porque você é uma inútil. Você acha que qualquer homem vai te querer depois de mim? — ele disse, com desprezo. — Você vai ficar sozinha, porque homem nenhum vai querer você depois de te comer e ver que você é uma porcaria.

— Chega, Agenor. — disse, a voz falhando. — Eu não preciso ouvir isso.

— Precisa sim. — ele insistiu, a voz cheia de veneno. — Você precisa saber que foi sua frieza, sua incompetência que me fez procurar em outros lugares. Você é a culpada, Jussara. Culpada por eu ser assim.

— Você vai pagar por tudo o que fez. — disse, tentando manter a voz firme. — Você vai apodrecer aqui dentro. — disse, com a voz embargada. — E eu vou encontrar minha felicidade, com ou sem alguém ao meu lado.

— É mesmo, sua frígida? — ele debocha. — Está louca se pensa que algum maluco vai te querer. Você vai ficar sozinha, infeliz e lembrando de mim.

— Prefiro ficar sozinha a estar com alguém como você. — respondi, finalmente deixando a raiva transparecer. — Prefiro a solidão à companhia de um monstro.

Agenor se levantou quando os policiais retornaram para levar ele embora, lançando um último olhar de desprezo em minha direção.

— Vamos ver até quando você pensa assim. — ele disse, se levantando quando os policiais retornaram para levá-lo embora. — Adeus, meu amor.

Fiquei sentada, observando enquanto ele era levado embora. As palavras dele continuaram a ecoar na minha mente, me perseguindo.

Voltei para casa naquela noite me sentindo esgotada. Olhei para os papéis do divórcio, finalmente assinados, e senti alívio.. Era o fim de um capítulo doloroso da minha vida, mas o começo de um novo... incerto e assustador.

***

Eu sabia que as palavras de Agenor não eram verdadeiras, mas elas ainda tinham um poder estranho sobre mim. A ideia de ser fria, de não ser desejada, de nunca encontrar alguém que me amasse de verdade, me assombrava.

Eu tentava ocupar minha mente com outras coisas, mas aquelas palavras cruéis sempre voltavam para me assombrar e em uma noite, enquanto estava deitada na cama, as lágrimas finalmente vieram. Chorei por tudo que tinha perdido, por todos os anos desperdiçados, por todas as vezes que deixei Agenor me fazer sentir tão pequena e insignificante. Chorei por todas as feridas que ele havia causado em Amélia e em tantas outras crianças.

Eu me sentia culpada de ter trazido esse monstro para a nossa casa.

Enxuguei as lágrimas e respirei fundo. O passado era passado, e eu não podia mudar isso. Mas poderia mudar meu futuro. Podia escolher não deixar que as palavras de Agenor definissem quem eu era.

Me levantei da cama e fui até o espelho. Olhei para meu reflexo, vendo uma mulher cansada, mas também determinada. Sorri para mim mesma, um sorriso pequeno, mas sincero.

— Você é forte, Jussara. — murmurei para o reflexo. — E você tem que arriscar, viver a sua vida.

A partir daquele momento, eu prometia a mim mesma não deixar que as palavras de Agenor me fizesse desperdiçar ainda mais tempo.

Na noite em que PH apareceu na minha porta eu percebi que talvez houvesse esperança para mim. Que talvez eu pudesse ser desejada por alguém.

E ali, naquele instante eu tinha decidido que não iria pensar demais, eu cederia ao que eu realmente queria... e naquele momento eu só queria saber o como era estar nos braços de PH.


Desejo Proibido: A história de Jussara e PHWhere stories live. Discover now