Capítulo 47

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A luz dourada do sol filtrava-se pelas folhas verdes e brilhantes do jardim , criando um espetáculo de cores enquanto as fadas dançavam ao som de uma melodia suave e alegre. Era um dia de celebração, o aniversário de Nyx, o filho mais velho de Feyre e Rhysand, reunindo amigos e aliados em uma festa repleta de magia e risos.

Gatria, uma criança pequena de olhos âmbar e cabelos castanhos escuros, estava entre os presentes. Sua curiosidade inata a levava a explorar cada canto do jardim. Enquanto os adultos conversavam e riam, ela se afastou silenciosamente, fascinada por uma fonte mágica que emitia uma luz cintilante e encantadora.

A fonte estava no centro de um pequeno pátio, rodeada por flores que desabrochavam ao toque da luz mágica. Gatria estendeu a mão, sentindo a energia vibrante dançar entre seus dedos. Ela riu, uma risada pura e inocente, e começou a brincar com a luz, manipulando-a de forma instintiva, sem compreender o perigo.

Enquanto isso, Nyx, seu primo de cabelos escuros e olhos violetas, observava a cena com curiosidade. Ele estava brincando com alguns amigos, mas a visão de Gatria brincando com a fonte mágica capturou sua atenção. Ele se aproximou, encantado pela luz e pela habilidade da pequena Gatria de manipulá-la.

Cassian e Nestha, os pais de Gatria, estavam conversando com Feyre e Rhysand, aproveitando o clima festivo. Cassian, com seus olhos castanhos profundos e postura imponente, observava a festa com um sorriso orgulhoso, enquanto Nestha, de cabelos loiros prateados e olhar atento, mantinha um olho vigilante sobre sua filha.

Amren, que estava no início de sua gestação e cuja barriga ainda não havia crescido, estava por perto, observando a celebração com um leve sorriso. Recentemente, ela havia estudado livros antigos e textos arcanos, ganhando uma pequena noção do poder de Gatria. No entanto, a verdadeira magnitude dos poderes da criança ainda era um mistério.

De repente, a energia ao redor da fonte começou a intensificar-se. Gatria, alheia às consequências, continuou a brincar, sua concentração inocente transformando a magia em algo instável. Uma explosão de luz e energia irrompeu do centro da fonte, espalhando-se pelo jardim.

A onda mágica atingiu Amren em cheio, lançando-a para trás. Ela caiu no chão com um gemido de dor, sentindo uma mudança profunda e imediata em seu corpo. O impacto foi tão severo que Amren percebeu, com um desespero silencioso, que havia perdido o bebê que carregava. A explosão também a privou da capacidade de gerar outros filhos no futuro.

Nyx estava a poucos metros de distância quando a explosão ocorreu. A força da energia mágica o lançou ao ar, e ele aterrissou desajeitadamente, seus olhos arregalados de terror. Feyre, que estava perto, reagiu instantaneamente. Com um movimento rápido, ela conjurou um escudo mágico para proteger seu filho, correndo para abraçá-lo e verificar se ele estava bem.

__ Nyx! Você está bem? __ Feyre perguntou, sua voz trêmula de preocupação enquanto o abraçava.

__ Estou bem, mãe, __ respondeu Nyx, com a voz um pouco trêmula, mas sem ferimentos graves. Ele olhou para Gatria, que estava parada, assustada e confusa com o que havia acontecido.

Cassian e Nestha correram para Gatria, suas expressões refletindo uma mistura de medo e preocupação.

__ Gatria, você está bem? __ perguntou Cassian, tentando manter a calma enquanto se aproximava da pequena.

__Eu... eu não queria machucar ninguém __ sussurrou Gatria, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela olhou para as mãos, que ainda tremiam com a energia residual da explosão.

Amren se levantou com dificuldade, seus olhos brilhando com uma mistura de dor e raiva.

__ Essa criança é perigosa __  disse ela, sua voz carregada de uma severidade que costumava mostrar. __ Ela precisa ser contida antes que cause mais danos.

***

Enquanto Gatria terminava sua declaração, os servos entraram em silêncio, carregando bandejas cobertas com pratos requintados, cada um mais suntuoso que o outro. O aroma dos assados, dos temperos raros e das sobremesas delicadas começou a preencher o salão, mas nenhum dos presentes parecia realmente interessado na comida. Havia uma tensão no ar que cortava o apetite como uma lâmina afiada.

Os pratos foram colocados à frente dos convidados com uma precisão impecável, mas Gatria ignorou completamente o que lhe foi servido. Seus olhos vagavam pelo salão, observando as reações, saboreando o silêncio constrangedor que havia se instalado. A música suave ao fundo parecia uma tentativa inútil de aliviar a atmosfera pesada que pairava sobre todos.

Cassian e Nestha permaneciam em um silêncio sombrio, comendo apenas por reflexo. Feyre tocou o braço de Rhysand, que respondeu com um breve olhar. Seus olhos percorriam a mesa, mas o que ele procurava ainda não estava presente.

Nyx.

Gatria notou a ausência também. Ela franziu a testa, não por preocupação, mas por irritação. Onde estaria Nyx em um momento tão crucial? O filho de Rhysand e Feyre deveria estar ali, testemunhando o desmoronamento de sua família, de seu mundo.

O silêncio foi rompido por Azriel, cuja voz soou baixa, mas firme.

— E quanto a Nyx? — ele perguntou, com os olhos sombrios pousados em Gatria. — Ele também faz parte dessa verdade que você está tão ansiosa para revelar?

Gatria olhou para Azriel com um brilho frio nos olhos. Havia uma intenção oculta por trás de seu olhar, algo que ainda não havia revelado.

— Nyx... — ela murmurou, como se ponderasse o nome. — Ele já não é mais uma criança. Mas, é claro, até os adultos têm papéis a desempenhar neste jogo, não é?

Antes que qualquer resposta fosse dada, as portas do salão se abriram, e Nyx entrou, guiado por dois guardas da Valquíria. Ele caminhava com uma postura que demonstrava a confiança de alguém que havia crescido em poder e responsabilidade, mas seus olhos revelavam uma confusão e cautela, como se ele percebesse que algo muito maior estava em jogo.

Nyx parou diante da mesa, os olhares de todos fixos nele. Ele não se intimidou, mas sua presença intensificou ainda mais a tensão no salão. Feyre se mexeu na cadeira, os olhos da mãe cheios de preocupação, mas Nyx manteve-se firme, aguardando.

Gatria o observou por um momento, seu sorriso frio se expandindo.

— Aqui está, o futuro de Prythian — Gatria anunciou, como se estivesse apresentando um troféu. — O herdeiro do Grão-Senhor da Corte Noturna.

Nyx cruzou os braços, encarando Gatria com um olhar desafiador, recusando-se a ser um peão em seu jogo.

— Se você tem algo a dizer, Grã-Rainha, diga agora. Não sou mais uma criança que pode ser manipulada por seus joguinhos — respondeu ele, sua voz firme e controlada.

Um silêncio tomou conta da sala enquanto Gatria analisava Nyx. Ela inclinou a cabeça, intrigada com a firmeza do jovem adulto.

— Não se preocupe, Nyx. — A voz de Gatria era suave, mas carregada de veneno. — Eu respeito a sua posição. Afinal, quem poderia imaginar que o herdeiro da Corte Noturna mostraria tanta... determinação?

Rhysand finalmente falou, sua voz gelada e controlada.

— Deixe meu filho fora disso, Gatria. Este é um assunto entre nós, não com ele.

Gatria lançou um olhar divertido para Rhysand, então voltou sua atenção para Nyx.

— Seu filho já está envolvido, Rhysand. Ele faz parte de tudo isso. Do passado, do presente... e do futuro.

Nyx não desviou o olhar, seu semblante era de determinação e foco, pronto para enfrentar o que quer que viesse. Gatria, no entanto, sabia que havia muito mais em jogo do que ele percebia.

O jantar, que deveria ser uma celebração, havia se transformado em um campo de batalha de palavras afiadas e segredos revelados. Gatria, imperturbável, observava tudo, satisfeita com o caos que havia criado, enquanto Nyx, consciente de seu papel como herdeiro, compreendia que estava no centro de um jogo muito mais perigoso do que havia previsto.

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