Capítulo 50

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A antiga sede das Valquírias repousava nas sombras da madrugada, seu exterior imponente e imortalizado pelas incontáveis batalhas que suas paredes haviam testemunhado. As janelas góticas, altas e estreitas, permitiam que a lua cheia derramasse sua luz prateada sobre os corredores de pedra, banhando tudo em um brilho espectral. A tensão no ar era palpável, enquanto a comitiva de Jannet avançava em direção à ala mais sombria do complexo: a prisão subterrânea, onde Ksora aguardava seu destino.

As torres, que uma vez ressoavam com os cânticos de guerra das Valquírias, agora eram silentes, exceto pelo som ritmado das botas de couro batendo no chão de pedra. Jannet, à frente da comitiva, mantinha o olhar fixo adiante, seus pensamentos mergulhados no que estava por vir. Os corredores que antes exalavam glória e orgulho agora pareciam ecoar com a decadência e o ressentimento que permeavam o coração de Prythian sob o reinado de Gatria

A escada em espiral que levava ao subsolo parecia se estender infinitamente, cada passo descendo mais fundo em uma escuridão onde até mesmo a luz da lua era sufocada.

No interior úmido e escuro da prisão, Emerie, Morrigan e Gwyn estavam trancafiadas em uma cela isolada. Emerie, com suas asas illyrianas, encarava a porta de metal com uma expressão de pura frustração. Seus cabelos escuros caíam sobre seus ombros, a luz tênue da tocha destacando sua pele morena.

Morrigan, a prima de Rhysand, mantinha a cabeça erguida, sua beleza notória ainda resplandecendo mesmo nas sombras do cárcere. Seus cabelos dourados estavam em desalinho, mas seus olhos não perderam o brilho de desafio. Gwyn, a antiga diretora das Valquírias e sacerdotisa, estava sentada em um canto, suas mãos cruzadas no colo enquanto observava o movimento do corredor pela pequena abertura da porta.

A porta da cela se abriu com um rangido agudo, e Jannet entrou. O ar carregado de tensão parecia quase palpável enquanto ela se aproximava das três mulheres. Jannet olhou para Emerie, Morrigan e Gwyn com um olhar que misturava desprezo e uma falsa simpatia.

— Vejo que decidiram não comparecer à festa de ascensão — Jannet disse, sua voz suave como seda, mas envenenada com sarcasmo. — Uma pena. Poderiam ter visto o que é verdadeira liderança.

Emerie cerrou os punhos, mas permaneceu em silêncio. Morrigan, no entanto, deu um passo à frente,  uma demonstração de seu desdém pela situação.

— Não precisamos assistir a um espetáculo para saber o que Gatria se tornou, Jannet — Morrigan respondeu, seu tom afiado. — Trair aqueles que mais zelaram por seu bem, aqueles que acreditariam em sua visão... é isso que você chama de liderança?

Jannet soltou um riso seco, aproximando-se da porta da cela.

— Não são vocês que definem o que é traição — retrucou. — Mas não se preocupem, logo terão uma visão clara do que acontece com traidores. Afinal, Ksora será interrogada. Talvez isso sirva de exemplo.

Gwyn ergueu o olhar, uma mistura de preocupação e raiva brilhando em seus olhos.

— Ksora sempre foi fiel às Valquírias, Jannet. Se ela compartilhou informações, foi por acreditar que estava fazendo o certo para todos — argumentou Gwyn. — Torturá-la não mudará o que Gatria fez.

Jannet se aproximou da cela, seus olhos fixos em Gwyn.

— Talvez, mas Ksora pagará pelo que fez — afirmou Jannet, sua voz baixa e ameaçadora. — E vocês vão assistir cada segundo disso. Pode ser que sirva para mudar suas perspectivas.

As três mulheres se entreolharam, suas expressões firmes, apesar do medo que se escondia atrás de seus olhos. Elas sabiam que estavam em desvantagem, mas não permitiriam que Gatria as quebrasse tão facilmente.

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