Na manhã seguinte, a praça pública de Prythian estava lotada. No centro da praça, um trono elaborado foi erguido, cercado pelas poderosas Valquírias de Gatria, imponentes em suas armaduras reluzentes. Sobre ele, sentava-se Kisha, mãe de Ksora, com uma expressão sombria e resignada.
Gatria surgiu de uma das entradas, vestida com um manto negro que contrastava com a luz do dia, seus passos firmes ecoando pelo silêncio que se instalara na praça. Ela caminhou até o trono de Kisha, cada olhar da multidão fixo nela, cada suspiro preso na expectativa do que estava por vir.
— Hoje — começou Gatria, sua voz amplificada magicamente para alcançar todos os cantos da praça —, testemunharemos as consequências da deslealdade e da traição. Que isso sirva de lição para todos os presentes, de que a ordem de Prythian deve ser mantida a qualquer custo.
As Valquírias, em uma formação impecável, conduziram Ksora até o centro da praça. Suas roupas estavam rasgadas, seu rosto marcado por lágrimas e pelo cansaço, mas sua postura era desafiadora. Ela olhou para sua mãe no trono, seus olhos refletindo uma mistura de desespero e raiva.
Kisha manteve-se ereta, seu olhar firme não vacilou enquanto observava a filha. A dor de uma mãe que vê sua filha humilhada publicamente era palpável, mas Kisha sabia que sua presença era um símbolo da decisão inflexível de Gatria.
— Ksora, por trair sua rainha e pôr em risco a estabilidade de Prythian, você será submetida ao Caminho da Vergonha — continuou Gatria, seus olhos frios fixos na figura de Ksora.
A multidão se aglomerava em ambos os lados do caminho que Ksora percorreria, cercada pelas Valquírias imponentes em suas armaduras, suas espadas brilhando à luz do sol. Ao som das trombetas que anunciavam o início da caminhada, um silêncio pesado caiu sobre os espectadores.
Ksora, de cabeça erguida, começou sua lenta jornada. Seus pés descalços encontravam o chão áspero, enquanto ela tentava manter a dignidade em meio ao escárnio. Os primeiros murmúrios surgiram da multidão, crescendo rapidamente em um coro de desprezo.
— Traidora! — gritou alguém, lançando um tomate que se espatifou no chão ao lado de Ksora.
— Você merece isso! — ecoou outro, atirando um punhado de lama que atingiu a perna de Ksora.
O ritmo lento da caminhada foi pontuado pelos objetos que voavam em sua direção: frutas podres, pedras pequenas e até mesmo pedaços de pano rasgado. Alguns espectadores cuspiam no chão à medida que Ksora passava, enquanto outros simplesmente a observavam, chocados com a cena.
No meio da praça, os antigos Grão-Senhores estavam reunidos em um camarote especialmente construído para o evento. Rhysand, com uma expressão dura e impassível, observava a caminhada sem demonstrar emoção. Feyre, ao seu lado, desviou o olhar, seu rosto marcado pela dor e pela incredulidade.
— Isso não pode ser verdade — sussurrou Feyre para Rhysand. — Nunca pensei que chegaríamos a esse ponto.
Rhysand assentiu, mas manteve-se em silêncio, seus olhos fixos em Ksora.
Do outro lado do camarote, Cassian e Nestha estavam igualmente abalados. Cassian tinha os punhos cerrados, seus olhos fixos no chão enquanto tentava conter sua raiva e frustração. Nestha, com o rosto pálido, segurava a mão de Cassian, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas.
— É monstruoso — disse Nestha, sua voz cheia de tristeza. — Não importa o que ela tenha feito, ninguém merece isso.
Gatria, no topo do trono, observava tudo com um olhar calculista. Sua postura era ereta e confiante, um símbolo de autoridade inquestionável.
À medida que a caminhada continuava, Ksora começou a fraquejar. Seus passos vacilaram, então ela caiu . Mas uma das Valquírias se aproximou.
__ Levante-se __ disse a valquíria, sua voz firme.
Ksora respirou fundo, endireitando os ombros enquanto lutava para continuar a andar.
Finalmente, a caminhada terminou em frente ao portal que a exilaria para as terras humanas. Ksora parou, virando-se para a multidão uma última vez. Seus olhos encontraram os de sua mãe, e por um breve momento, um entendimento silencioso passou entre elas.
__ Ainda se arrependerão de ajoelharem-se a esse monstro que chamam de Rainha . __ disse Ksora, sua voz ecoando pela praça.
Com essas palavras, Ksora atravessou o portal, desaparecendo na luz brilhante. A praça ficou em silêncio, as palavras dela ressoando na mente de todos. Gatria levantou-se, sua expressão impenetrável.
— Que isso sirva de aviso — declarou ela, sua voz fria e determinada. — Prythian é meu, e qualquer um que desafiar minha autoridade enfrentará as mesmas consequências.
A praça foi tomada por gritos de Vitória e aplausos, exceto para aqueles que de onde estavam com a vista privilegiada no camarote.
Enquanto Gatria se afastava, a praça começou a se dispersar, mas todos sabiam que nunca esqueceriam o que tinham testemunhado. A caminhada da vergonha de Ksora seria lembrada como um dos momentos mais sombrios da história de Prythian, uma lembrança do preço da traição e do poder absoluto de Gatria.
A lua cheia iluminava a sala de reuniões no alto da antiga sede das Valquírias. As janelas góticas deixavam a luz prateada entrar, criando sombras suaves nas tapeçarias que decoravam as paredes. Gatria estava de pé perto da janela, olhando para o vasto domínio de Prythian que se estendia abaixo. O vento frio da noite tocava seu rosto enquanto ela contemplava o que havia acontecido naquele dia.A porta se abriu silenciosamente, e Middas entrou, seus passos leves ecoando no piso de mármore. Seus olhos escarlates brilhavam com a luz da lua, destacando-se no ambiente escuro.
— Gatria, — ele disse, aproximando-se dela. — Você queria me ver.
Ela se virou para ele, seus olhos intensos refletindo uma mistura de cansaço e curiosidade.
— Sim. Há algo que precisamos discutir.
Middas parou a poucos passos dela, sua presença imponente parecendo preencher a sala.
— Estou aqui, Gatria. O que você precisa?
Ela hesitou por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
— O que aconteceu hoje com Ksora... foi necessário. Mas sinto que há mais coisas acontecendo, coisas sobre as quais não estou totalmente ciente.
Middas assentiu lentamente, seu olhar nunca deixando o dela.
— Você está certa, Gatria. Há muito mais sobre você e sobre sua origem que você precisa saber. Esta noite é a noite para revelar esses segredos.
Gatria sacou a espada reluzente que descansava ao seu lado encima da mesa, apontando-a na direção do deus.
__ Então é melhor que desta vez , conte tudo oque realmente sabe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Renegados
FanfictionAbandonada à própria sorte na Corte Invernal, Gatria sobreviveu à dor e à traição, moldando-se em algo muito mais poderoso do que qualquer um poderia prever. Em uma Prythian dividida entre o passado e a nova ordem, a batalha pelo controle das terras...