Capítulo 51

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A sala de reuniões de Gatria, no alto de uma das torres mais imponentes da antiga sede das Valquírias, era um reflexo do poder absoluto que ela exercia sobre Prythian. As janelas góticas ofereciam uma vista panorâmica das terras que agora estavam sob seu domínio, enquanto tapeçarias elaboradas decoravam as paredes, contando histórias de glórias passadas. Uma mesa de madeira escura dominava o centro do aposento, rodeada por cadeiras esculpidas em detalhes precisos.

Jannet entrou na sala, seus passos ecoando no piso de mármore. Middas já estava presente, de pé ao lado da mesa, seus olhos fixos em um mapa de Prythian que estava estendido diante dele.

Middas era um ser de rara beleza, sua aparência jovem contrastando com o poder que emanava de sua presença. Seus cabelos escuros, agora cortados em um estilo elegante e prático, emolduravam um rosto perfeitamente esculpido, uma simetria que atraía olhares de admiração e temor. Sua pele, levemente bronzeada, realçava suas feições marcantes sob a luz tênue das tochas que iluminavam a sala de reuniões.

O que mais se destacava em Middas, porém, eram seus olhos – duas joias escarlates que brilhavam com uma intensidade hipnotizante. Eram olhos que pareciam enxergar além das camadas superficiais do mundo, penetrando nas profundezas das almas daqueles que ousavam cruzar seu caminho. Quando ele falava, sua voz era suave, quase musical, carregando uma sedução perigosa que qualquer um poderia jurar que poucos conseguiam resistir.

Gatria, sentada na cabeceira da mesa, ergueu o olhar ao ver Jannet. Seus olhos eram frios e calculistas, mas brilhavam com uma intensidade que revelava sua determinação. Seu cabelo escuro caía em ondas soltas sobre os ombros, emoldurando um rosto que era ao mesmo tempo belo e impiedoso.

— Então? — perguntou Gatria, sua voz cortante como uma lâmina. — O que você conseguiu extrair de Ksora?

Jannet aproximou-se da mesa, mantendo o olhar firme.

— Ela resistiu por um tempo, mas finalmente quebrou, — respondeu Jannet, sua voz sem emoção. — Ksora confessou tudo. Disse que Rhysand sempre esteve de olho na rainha desde que pôs os pés em Prythian. Ela revelou que eles esperavam por um momento de fraqueza seu para jogá-la de volta onde estava.

Middas franziu o cenho, estudando o mapa à sua frente.

— Rhysand nunca foi tolo — observou ele. — Se ele  planejava algo assim, precisamos estar preparados para qualquer eventualidade.

__ Ela também disse que em todas as reuniões confidenciais ele repetia que tudo oque fazia era para o "bem" de Prythian. Caso a Gatria vinhesse ao descontrole mais uma vez.

Gatria assentiu, os olhos fixos no mapa.

— Não podemos permitir que ele reúna forças — declarou ela. — Temos que agir  antes que Rhysand tenha a chance de implementar qualquer plano que venha a calhar. Devemos cortar todas as linhas de comunicação dele e minar qualquer apoio que possa ter em outras cortes.

Jannet inclinou-se sobre a mesa, apontando para pontos específicos no mapa.

— Podemos fortalecer as fronteiras e destacar mais tropas para as áreas onde ele poderia buscar apoio, — sugeriu ela. — Além disso, podemos enviar mensagens a todos  das outras cortes, garantindo que eles entendam as consequências de se aliarem a Rhysand.

Middas assentiu, seus olhos brilhando com uma determinação renovada.

— Vou preparar nossas forças imediatamente, — afirmou ele. — Precisamos garantir que Prythian permaneça sob o controle de Gatria.

Gatria ergueu-se de sua cadeira, sua presença dominando a sala.

— Façam o que for necessário, — ordenou ela. — Prythian é meu, e não permitirei que ninguém tome isso de mim.

Jannet e Middas trocaram olhares, suas expressões resolutas.

__ E quanto a Ksora ? __ indagou a comandante dos Exércitos da Grã-Rainha.

— Ksora — começou Gatria, sua voz ecoando pelo salão como um trovão contido —, além de me trair desde qus pisei aqui , ousou desafiar minha bem sucedida autoridade e pôr em risco a estabilidade de Prythian. Sua traição não pode ficar sem resposta.

Jannet respirou fundo, aguardando a sentença que selaria o destino de Ksora.

— O Caminho da Vergonha — sugeriu Middas, suas palavras soando como um veredicto definitivo —, é a punição reservada para aqueles que traem a Grã-Rainha e, por extensão, toda Prythian. Ksora será despojada de suas honras e forçada a caminhar pelas terras que um dia jurou proteger, exposta e sozinha, para que todos vejam a marca de sua traição.

Gatria assentiu, um sorriso satisfeito surgindo em seus lábios. Ela sabia que Middas era mais do que apenas um conselheiro; ele era uma arma, uma ferramenta afiada pronta para cortar qualquer obstáculo em seu caminho. Com Middas ao seu lado, ela tinha a certeza de que nenhuma rebelião ficaria impune, nenhum segredo permaneceria escondido.

— Ela será uma lição viva — declarou Gatria, sua voz carregada de uma determinação fria. — Uma advertência para todos aqueles que possam se sentir tentados a seguir seus passos. Ninguém está acima da ordem que estabeleci, e todos devem saber que a deslealdade será punida com o mais severo dos destinos.

Jannet curvou a cabeça em sinal de respeito e compreensão. Ela sabia que o Caminho da Vergonha era uma sentença implacável, outrora já tinha visto sobre em um dos livros antigos da grandiosa biblioteca da sede sobre a era de deuses que um dia existiu, um castigo que deixaria uma marca indelével na história de Prythian.

Enquanto a reunião prosseguia, Middas continuou a observar, um espectador e executor das vontades de Gatria. Seus olhos vermelhos brilhavam na penumbra, uma promessa de que a beleza podia ser tão letal quanto qualquer espada.

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