Naquela mesma tarde, após a refeição do meio-dia, Gatria já tinha tomado uma decisão sobre o destino dos antigos Grãos-Senhores de Prythian. O peso de suas escolhas estava claro em seu olhar resoluto enquanto ela se preparava para a próxima etapa de sua estratégia. Ela ordenou que todos os Grãos-Senhores, agora alojados em seus respectivos quartos, fossem convocados para a sala do trono. A mensagem era clara: nenhum deles devia faltar à reunião.
A sala do trono estava imponente, com seus altos arcos e tapeçarias que narravam a ascensão de Gatria ao poder. A atmosfera estava carregada de tensão quando os Grãos-Senhores começaram a entrar, um por um, em seus trajes casuais , tentando esconder o nervosismo sob suas aparências dignas.
Gatria, sentada no trono de pedra ornamentado, observava com um olhar calculista cada um dos presentes. Sua postura era firme e autoritária, refletindo o controle absoluto que tinha sobre o reino. Ao seu lado, Jannet estava em pé, mantendo uma vigilância discreta, pronta para intervir se necessário.
Quando todos os Grãos-Senhores estavam presentes, Gatria se levantou e caminhou até a frente do trono, sua presença dominando o ambiente. Ela começou a falar com uma voz que ressoava com autoridade e gravidade.
- Agradeço a todos por atenderem a este chamado.
Os Grãos-Senhores trocaram olhares, tentando ler a expressão de Gatria e antecipar suas intenções. Gatria continuou, sua voz imperturbável.
- Não restam dúvidas de que muitos de vocês não estão confortáveis aqui, o que é claro é muito compreensível, tendo em vista que tirei o que tinham.
A tensão aumentou, e alguns Grãos-Senhores começavam a demonstrar sinais de inquietação.
- Desde que assumi o controle absoluto, houve mudanças significativas na estrutura de poder de Prythian. Aquelas mudanças foram necessárias para estabilizar o reino e garantir uma nova era de segurança e prosperidade. No entanto, isso também significa que alguns de vocês, como representantes dos antigos poderes, têm seu papel em nosso novo sistema reavaliado.
Gatria prosseguiu, sem desviar o olhar.
- É meu dever assegurar que a transição para a nova ordem seja feita de maneira justa e ordenada. Como resultado, cada um de vocês será tratado com a dignidade que merece, mas também com a clareza de que o velho sistema não pode coexistir com o novo.
- O que pode falar sobre dignidade? - cuspiu Tarquin, sua voz carregada de desdém e indignação. - Todos nós testemunhamos o que é capaz em seu espetáculo de horrores.
Feyre lançou um olhar cuidadoso a Tarquin, temendo pelo que viria a seguir. Rhysand, ao seu lado, observava com frieza, a expressão imperturbável, mas seus olhos revelavam um brilho calculista.
- Tenho certeza Tarquin, de que o "espetáculo de horrores" que se refere não teria de ser nescessário se as escolhas que foram feitas no passado tivessem sido escolhidas com sabedoria. - respondeu Gatria, sua voz carregada de uma firmeza inabalável.
Gatria então direcionou sua atenção a Rhysand, que havia entendido o recado. Ele sabia que a culpa por tudo que vinha acontecendo recai não apenas sobre os Grãos-Senhores, mas também sobre ele e sua família, e sobre o círculo íntimo que haviam preservado. Ele e Feyre haviam discutido sobre seus respectivos erros com a sobrinha na noite em que Ksora foi exilada, reconhecendo que a responsabilidade pelos fracassos e pela instabilidade de Prythian estava longe de ser unicamente de Gatria.
- O que quis dizer quando mencionou que teremos um papel no novo sistema reavaliado? - perguntou Tamlin, sua voz carregada de inquietação e curiosidade. Sua expressão mostrava uma mistura de desconfiança e expectativa.
Gatria levou sua atenção agora a todos os presentes, seus olhos passando de um rosto a outro, avaliando as reações.
- Não estou aqui para discutir decisões já tomadas, mas para comunicar o caminho a seguir. Todos vocês já foram removidos de suas posições e serão designados para novas responsabilidades que estejam mais alinhadas com o atual estado de Prythian. Para alguns, isso significará uma aposentadoria tranquila e a manutenção de um papel honorário. Para outros, caso não concordem, será necessário sair de Prythian e se retirar para lugares onde possam viver em paz sem interferir em nossos assuntos.
O murmúrio crescente entre os Grãos-Senhores se intensificou, refletindo o choque e a confusão diante da proposta de Gatria. Alguns tentaram esconder a inquietação, enquanto outros, como Tamlin, não conseguiram conter a expressão de indignação.
- Então, basicamente, vocês estão nos dizendo que não há lugar para nós no novo regime, a menos que aceitemos o que nos é imposto? - perguntou Tamlin, seu tom ácido misturado com frustração.
Surgindo das sombras, a Sentinela das Trevas, Nimue, caminhava a passos lentos, suas grandiosas asas negras farfalhando atrás dela, seus cabelos longos e escuro caindo como uma cascata sob suas costas. Sua armadura preta contrastava com o capacete que ela segurava nas mãos, refletindo a luz ambiente de forma sinistra. Seu olhar calculista e afiado se fixou em Tamlin, pronta para responder ao antigo Grão-Senhor da Corte Primaveril.
- È até engraçado como soa a sua indignação, Tamlin. - começou Nimue, sua voz carregada de um tom frio e imperturbável. - Tendo em vista como a corte primaveril foi deixada de lado após o golpe de Feyre archeron.
Tamlin a olhou com uma mistura de ceticismo e desdém.
De onde estava, Feyre sentiu o calor subir às suas bochechas. De repente, aquela decisão do passado que parecia tão certa a envergonhou diante de todos e trouxe lembranças que Tamlin insistia em esquecer.
Nimue deu um passo mais perto de Tamlin, sua presença intimidante e seu olhar penetrante. Todos em silêncio observavam a Valkyria, cuja presença era tão enfeitiçante quanto a da Grã-Rainha.
- O que você está vendo agora é o resultado de anos de desajustes e decisões egoístas que levaram a uma estrutura de poder instável. A mudança que estamos promovendo visa garantir que tais desequilíbrios não ocorram novamente. A nova ordem precisa ser construída com base em princípios de justiça e equidade, e isso inclui reavaliar todos os papéis e responsabilidades.
De onde estava Gatria assentiu satisfeita.
- Obrigada, Nimue.
Nimue fez uma breve inclinação de cabeça, e sua presença imponente retornou à sombra, como se sua missão estivesse cumprida. Gatria voltou sua atenção para o grupo, que estava agora em um estado de contemplação silenciosa.
__ Alguém que tenha mais alguma objeção?
O silêncio que seguiu a pergunta de Gatria foi pesado, quase palpável. Cada Grão-Senhor parecia imerso em pensamentos conflitantes, pesando as palavras que acabavam de ouvir. Tamlin, ainda encarando o espaço onde Nimue havia estado, parecia lutar internamente, seu rosto uma máscara de frustração contida. Rhysand e Feyre permaneceram lado a lado, trocando um breve olhar que dizia mais do que qualquer palavra.
Gatria aguardou pacientemente, deixando que o peso de sua pergunta pairasse no ar. Ela sabia que esse era um momento crucial; qualquer manifestação de resistência seria um desafio direto à nova ordem que estava estabelecendo.
Finalmente, Helion, que até então havia mantido uma postura calma e ponderada, deu um passo à frente. Seu olhar era sério, mas havia uma centelha de respeito em seus olhos.
- Grã-Rainha Gatria - começou Helion, sua voz carregada de gravidade. - Reconheço que a situação em que nos encontramos é o resultado de escolhas feitas por todos nós, seja direta ou indiretamente. E, embora não concorde com todos os métodos utilizados, entendo que há necessidade de mudança. Minha objeção, se é que posso chamá-la assim, é apenas um pedido: que qualquer transição que se faça leve em consideração o bem-estar do povo que um dia governamos. Eles, mais do que nós, são os que mais sofrem com essas mudanças.
*Notas Da Autora*
Oque acharam da arte da Nimue ?
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Renegados
FanfictionAbandonada à própria sorte na Corte Invernal, Gatria sobreviveu à dor e à traição, moldando-se em algo muito mais poderoso do que qualquer um poderia prever. Em uma Prythian dividida entre o passado e a nova ordem, a batalha pelo controle das terras...