CAPÍTULO 1
Nunca pensei que ser dona de casa seria uma tarefa tão difícil. Ainda mais quando você é mãe solteira de duas crianças. Não estou reclamando, é apenas uma observação muito bem observada, já que estou a horas tentando ligar a máquina de lavar roupas e ela insiste em não fazer o seu trabalho, para que eu possa fazer o meu. Ela tem um trabalho, lavar as roupas. Eu. Tenho a casa toda ainda.
— Finalmente! — exclamo quando enfim, consigo fazer ela ligar e fazer o seu trabalho. Lavar as roupas.
Sempre gostei muito de coisas que não fossem voltadas a tarefas de casa. Desde pequena, mamãe sempre me ensinou que eu deveria aprender tanto coisas de casa quanto construir uma vida de a fazeres fora dela também. Hoje, vejo a importância de seus ensinamentos. Queria muito você aqui mamãe. Minha mãe morreu a mais ou menos 3 anos. Ela sempre foi o meu "Porto Seguro", sempre que eu precisava ela estava lá por mim, por nós, por nós duas na verdade, Rana é minha irmã mais nova. Temos o mesmo gosto musical, a mesma cor de cabelo castanho escuro, porém o dela é longo, o meu, num estilo Chanel, temos olhos verdes claros, ou melhor, eu possuo os dois olhos verdes claros, Rana, tem apenas um deles, já que o outro é azul. Sim, ela tem duas cores de olhos. Ela mora na Itália, se mudou para lá, logo quando mamãe completou 2 meses de falecida. Elas duas moravam juntas.
Agora, passo pela cozinha e vejo uma enorme montanha russa na pia, constituída em sua base de copos, o meio de pratos e talheres, e o topo de vasilhas plásticas e caixas de suco. Vou até a frente da pia e a encaro por alguns segundos. Ou minutos. De todas as tarefas de casa, lavar a louça é a que mais me agrada, para mim é uma especie de terapia, água, sabão e uma bucha, igual a TERAPIA.
Quando inicio a "terapia", estou pensando quanto tempo irá durar o dinheiro que mamãe deixou para mim antes de morrer, ela deixou para mim e minha irmã, uma quantia em dinheiro, nada de muito grande, mas era um bom valor. Porém, agora que se passaram três anos da deixa da grana, usar esse dinheiro sem ter um trabalho para repo-lo, foi uma grande burrice.
Tenho certeza que não irá durar por mais de dois meses. Só agora, que penso na bobagem que fiz em não ter procurado um trabalho e ter intercalado entre cuidar de casa, das crianças e de mim mesma. Se sobrar tempo. O que acho difícil de acontecer com certa frequência. Geralmente mulheres como eu, solteiras, mães solo, donas de casa, não possuem muito tempo para si mesmas. Suas vidas são, dedicar sua vida ao seu redor, e aos corpos que o constituem. Seja eles vivos ou não.
Termino de lavar a louça e vejo que já são 6:50 da manhã, as crianças acordam, ou melhor, eu as acordo às 7:30, ou seja, tenho 40 minutos para continuar a organizar algumas coisas de casa. Checo novamente a cozinha, e vejo que o saco de lixo já está cheio. Preciso levá-lo para fora. Vou até uma gaveta debaixo da pia e procuro por uma sacola plástica preta, pego á e vou até a lata de lixo e viro o conteúdo de cabeça para baixo até que todo o lixo esteja dentro da sacola. Amarro a boca do saco e ando em direção ao corredor até avistar a porta da frente de casa.
Ao deixar o lixo na lixeira em frente minha casa, percebo que a rua está totalmente em silêncio, mesmo sendo tão cedo, geralmente não costuma ser tão silenciosa assim. Os pássaros não cantam, o vento não faz presença nas folhas das árvores, que costumavam balança-lãs, nem mesmo o céu está claro, está cinza, não de uma forma ruim, mas... só está estranho. Costumo gostar de dias assim, não totalmente silenciosos ou tristes, mas dias calmos e neutros, sinto que, o tempo passa mais devagar e assim posso observar as coisas acontecerem mais lentamente. No fim, acho que gosto do dia de hoje.
***Quando entro em casa novamente, fecho a porta atrás de mim e percebo que Cat está latindo na sala, vou até lá e constato que ela está pedindo pelo seu café da manhã. Cat é uma cadela extremamente inteligente, ama todo mundo, e sempre foi muito carinhosa. Ela está conosco a mais ou menos um ano e meio. Quando a achamos no meio da rua, toda machucada e ferida, resolvemos cuidar e adota-lá. Desde então, Cat sempre foi uma escudeira fiel a nós. Sim, demos um nome que significa gato para uma cadela. Crianças....
— Cat!, se acalme! - ela balança o rabo e pula em cima de mim querendo carinho.
— Está com fome é? Espera aqui um minuto que já venho com sua comida. Seu café da manhã.— digo, ela se senta e me espera ansiosamente na sala.
Cat nunca se acostumou a dormir fora de casa, por mais que tentamos muitas e muitas vezes, ela não se adaptava. Ficava o tempo inteiro choramingando e latindo, como se algo a incomodasse. Quando resolvi abrigar ela dentro de casa, tive que lhe ensinar a fazer suas necessidades nos seus devidos lugares. Ela ama o colchão que fica na sala, ao lado da poltrona cor de bege. Que combina com sua pelagem. Cat é uma vira-lata, o que nunca foi um problema para mim, nem para as crianças, pois independentemente de sua raça, cor e tudo mais... Cat era uma vida, e é isso que importa.
Pego sua ração na dispensa e volto para a sala. Percebo que Cat não está tão contente agora, está encarando a janela que dá para a rua com as orelhas baixas, como se estivesse com medo de algo ou alguém. Me aproximo dela e a chamo.
— Cat? Sua ração garota!
Ela sai do transe e olha para mim, não corre nem nada do tipo, não pula e nem balança o rabo, apenas inclina sua cabeça para cheirar a ração, e volta novamente para sua caminha. Não sei o que houve nessa questão de segundos que fiquei longe dela, porém, algo a fez mal. Chego mais perto dela me agacho e dou um beijo na sua cabeça, ela expira, soltando o ar preso em seus pulmões. O que aconteceu?.
Me levanto ao ver que já são 7:20 da manhã, melhor ir acordar as crianças, pois elas já demoram muito pra levantar da cama. Fico de pé novamente e deixo Cat deitada, mais tarde volto para ver como ela está.
Subindo as escadas em direção ao segundo andar, continuo pensando por que da tensão de Cat, ela já está aqui a um bom tempo, e apesar de ter tido dificuldades para se adaptar no começo, não vejo isso como um problema que pode estar a assombrando agora no presente. Imagino que ela passou por coisas horríveis. Pois quando a encontramos estava totalmente machucada, suas patas estavam cortadas, tinha a pelagem de parte do corpo cortada de mal jeito, estava magra e com muita sede, enfim, o importante é que agora Cat está bem. Eu acho.
Abro a porta do quarto de Arnold e Alye. Ambos dormem no mesmo quarto, até para dormir eles não se desgrudam, é assim desde que começaram a ser gerados, não podia se diferente. Gêmeos. Lembro da sensação e da felicidade que foi receber a notícia que eu estava grávida de dois lindos bebês. Passei a gravidez inteira imaginando como eles seriam quando ficassem um pouquinho maiores, qual dos dois será mais engraçado? Quem será mais travesso? Quem irá tirar o primeiro dez na escola? Quem irá falar a primeira palavra primeiro? Eram tantas as perguntas que eu passava horas me questionando. Qual dos dois irá crescer mais rápido e se formar, casar e deixar a mamãe aqui solitária?
— Arnold? Acorde filho! Vamos. Já já você tem que irá pra escola? Como vai tirar a sua nota 10?.— Sim, Alye tirou a nota 10 primeiro que ele.
— Hum, já mãe?.— Ele me responde com os olhos fechados enquanto vou abrigar a curtina e em seguida acordar a Alye.
— Sim, já.— Digo,
— Alye? Quem foi que disse que iria ser a primeira a acordar nessa casa?.— pergunto a ela.
— Concerteza não foi eu.— respkndi ela com uma mecha de cabelo preso em seus lábios babados.
— Pois então trate de ser essa garota!— Exclamo — vamos, os dois precisam ir para a escola.— Digo dando um beijo em cada um.
Saio do quarto e percebo que agora os dois estão lutando para ver quem vai usar o banheiro primeiro. Cresceram tão rápido. Parece que foi ontem que me sentei na cama do hospital, e escolhi os nomes enquanto soluçava de tanto chorar. Chorar. Chorar de alegria. Depois daquele dia, ja se passaram 12 anos, muito tempo, para eles não, para mim passou num piscar de olhos. Se eu pudesse voltar no tempo só para curti-los mais um pouquinho, eu com certeza não pensaria duas vezes. Voltaria.
Desço as escadas mas logo tenho que retornar ao andar de cima novamen quando escuto Alye me chamando, faço novamente o trajeto e vejo que quem ganhou o banheiro primeiro foi Arnold.
— O que foi querida?— Digo.
— Posso te contar um segredo?— Ela me questiona.
— Claro que sim, porém, se é um segredo, não irá deixar de ser mais um, quando você me contar.— Ela me olha com certa dúvida se quer me contar agora.— Só me conte se realmente quiser que eu saiba.
— Eu quero sim!— Ela diz.
Assinto com a cabeço e espero ela me dizer o que está querendo me falar.
— Não fique brava, por favor!.— mas... eu... eu estou gostando de um menino.— ela olha pra mim com uma cara de medo.
— Uau! Sério?— Digo, abrindo um sorriso.
— É — ela assegura com a voz trêmula.
— Então...— Digo.
— Por favor, eu paro de gostar se você quiser.— Ela me diz, como se eu fosse a mãe mais malvada do mundo, está apenas com medo da reprovação, normal, já me acorreu, e é normal, só devo falar o que sinto que é o melhor para ela.
— Filha vem cá.— ela se cncosta mais em mim e eu acarincio seus cabelos.— É normal você gostar de uma garoto, mesmo. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Não vou te impedir de gostar de alguém, não sei de onde você tirou essa ideia de mim. Mas, o que devo lhe dizer é que, você é uma criança...
— Pré-adolescente.— ela me interrompe.
— Ok, pré-adolescente. Você é uma pré-adolescente e é tão nova, tão jovem sabe? Não sei se eu quero ver minha filha completamente apaixonada com 12 anos. — Digo fazendo um biquinho, o que faz ela rir e aliviar a tensão em seu corpo.— Jura pra mamãe que você não vai só ficar nessa e vai viver a sua idade como ela deve ser vivida nesse momento?
— unhum— ela me assegura.
— ok então—digo.— Ah, e outra coisa, pode me contar sempre suas coisas, sempre vou estar aqui pra te apoiar, não precisa ter medo nem vergonha da mamãe, ok?
Ela assente com a cabeça, se levanta, me dá um beijo na bochecha e vai em direção ao banheiro ver se o Arnold já terminou de usá-lo. Quando ela entra no corredor eu grito.
— Despois me conta e me mostre foto de como é o menino que você está gostando.
— Mãe, era segredo.— ela me relembra dessa condição.
— Desvulpe.— digo
— A Alye tá gostando de um garoto? Eca? Vocês já se beijaram? Que nojo!— Arnold começa seus questionamentos agora que também sabe do "segredo" que não é mais tão segredo assim.
Ponho o café a mesa e as crianças já começam a se alimentar para poderem ir a escola. Me sento a eles e conversamos um pouco sobre como foi incrível o filme da Barbie.
—10 de 10– diz Alye.
— Eu concordo— eu digo.
— 5 de 10 — faltou mais carros e sangue.
— Ei? Pra que sangue?— pergunto.
— Gosto de ação e terror— ele diz
— Mesmo assim isso não é tão legal mocinho — digo
Ele assente com um " sim senhora" e deixa o prato na pia e vai para o corredor em direção a porta para ir para escola, Alye faz o mesmo, vou até a porta e os vejo indo para a escola, ficando cada vez mais distantes de casa. Saudades.
Volto novamente para dentro de casa, me asseguro que Cat está bem e despois vou até a poltrona ao seu lado, me sento e solto o ar dos meus pulmões para dar uma leve pausa. Sinto, ou melhor, escuto algo se mexendo aqui dentro de casa, olho para o teto, e apenas vejo um nada branco do gesso, mas escuto algo, não sei o que exatamente escuto. Mas escuto. Sempre escuto...***
Já são 14:30 da tarde e as crianças chegam só as 17:00. Resolvi colocá-los em uma escola em tempo integral no último ano para que eu pudesse me concentrar mais nas tarefas de casa e ver como seria a experiência longe deles, de algum jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde, eles um dia iriam crescer e partir para suas vidas, e eu sabia que isso logo iria acontecer, ja que o tempo estava passando tão rápido. Quando me tornei mãe, no instante em que soube que estava grávida, já sabia que eu seria uma daquelas mamães curujas. Quando eu era pequena, sempre gostei muito de fingir que era mãe das minhas bonecas, fazia comida para elas, as vestia, dava banho nelas, passeava e as colocava para dormir. enquanto isso, minha irmã degolava as bonecas e as furava os olhos, depois pegava ketchup e fingia que as bonecas estavam sangrando até morrerem. Eu chorava, Rana sorria. Rana nunca gostou muito da ideia de ser mãe, até hoje isso diz muito do seu presente é possível futuro, não acho que ela será mãe, não pelo fato das bonecas, mas... nem ao mesmo possui um marido para isso, namorado ou algo do tipo... Rana é melhor só, sozinha. Mas é uma excelente tia.
Olho para o lado da poutrona e Cat está me olhando, um pouco mais alegre agora. Eu a chamo e ela vem até mim, lhe faço um cafuné e ela abana o rabo para mim em sinal de agrado, dá para entender muito os sinais e ações de Cat, sempre foi muito fácil saber o que ela queria nos mostrar, o que tinha achado no parque quando passeávamos com ela ou simplesmente que tinha feito coco no tapete da sala. Ela fazia uma carinha de vergonha com uma mistura de " ops... foi mal". Fico muito brava com ela quando ela faz esse último ato, mas logo abro um sorriso para ela quando ela vem com aquela carinha de coitadinha com as orelhas murchas e a patinha levantada. Muito fofa. Logo a perdoo e vou limpar toda a sujeira, verde, mole e nojenta. Cat!. Ela volta para seu canto de costume e eu me levanto, agora são 14:45, e acho melhor eu ir tomar um banho pois estou um pouco suada dos a fazeres de casa.
Entro no box e ligo o chuveiro, nada melhor do que um banho de algo fria, sim, normalmente odeio banhos quentes, até mesmo em dias frios, sentir a pele se enrugar, os pelos se arrepiarem e aqueles pequenos tremores são um luxo para mim. Termino o banho e vou para minha cama, me jogo em cima do colchão e fico completamente nua, meus cabelos úmidos estão agora soltos e espalhados pela coberta, que não tive tempo de dobra-lá ainda. Estou fechando os olhos lentamente e percebo que vou cair no sono a qualquer momento, me cubro com a coberta e fecho os olhos por completo.
Acordo totalmente sem rumo quando percebo que já são 16:40. Tenho que fazer algo para as criança lancharem, concerteza estão com muita fome. Me levanto e me visto, desço as escadas num pulo e vou até a cozinha, pego o suco de laranja na geladeira e o boto a mesa, faço alguns sanduíches de queijo e os deixo no forno para ficarem aquecidos. Tiro o bolo da geladeira, ou melhor, um pedaço dele e ponho juntamente com o suco na mesa, faço um pouco de café e as crianças abrem a porta no instante em que ponho todo a mesa.
Café da tarde ok.
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A Babá
Mystery / ThrillerO que você faria se soubesse que seus dois filhos foram assassinados? Rilla Jaycks Ride, mãe do pequeno Arnold e da pequena Alye, não possui limites. Quem os matou? Por que tamanha barbarie? Quem é o culpado? Jack?, o ex de Rilla e pai das crianças...