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Capítulo 10
Noite do assasinato

– Não vou poder te ajudar, me desculpa – a moça loira volta ao quarto e sua primeira frase a sair de sua boca é esta.
– Não... – a palavra de negação sai da minha boca num sussurro longo.
– Eu...– ela arqueia a boca e fecha novamente.
Olho para ela, e ainda não sei se devo atacá-la ou implorar mais uma vez por ajuda, estou com as mãos livres, posso facilmente tentar sair correndo daqui, mas para isso tenho que a golpear com algo.
– Por que? – digo –, por que você não está me ajudando?
Ela me olha e agora me dou conta de que ela é uma médica. Percebo isso por que uma outra mulher entra no quarto e está vestida com um uniforme verde claro, e a moça loira esta com um jaleco branco e uniforme azul marinho escuro, a mulher que está ao lado da loira,  com seu crachá, que tem seu nome, Many, e acima está a identificação de seu cargo, enfermeira.
A loira não está com seu crachá de identificação, só agora percebo que as vezes que esteve aqui, ela não o possuía em seu peito.
  A médica me olha e se vira para a enfermeira a seu lado, cochicham algo que meus ouvidos não estão ao alcance para escutar.
– Rilla... – ela diz
– Por favor – digo com os olhos enchendo de lágrimas.
Ela se vira para sua colega enfermeira, e depois me olha novamente.
– Vamos – sua voz de determinação sai em um tom firme.
Tento arquear um sorriso de agradecimento pela ajuda, mas não consigo, não por não reconhecer a sua ajuda, mas por que estou mal. perdi meus filhos e isso agora está impregnado em minha mente, na minha memória.
  Irei sempre me recordar dessa noite, da noite em que soube que não teria mais os meus filhos em meus braços, comigo, juntos na sala assistindo a filmes e comendo pipoca. Rindo de nossas conversas bobas, de como Arnold ama implicar com a irmã, e de como Alye ama ignorar as implicâncias do irmão. AMAVAM.

– Rilla – a médica me chama –, rápido! – ela diz.
eu me desprendo da cama, saindo dela em um só pulo. Fico em pé rapidamente e me equilibro à frente das duas me prontificando para começarmos.
–  Você... possui um plano, não é mesmo? – agora a enfermeira me indaga, e a médica, sua colega, espera a resposta que ainda não arrumei para sair por minha boca.
– Aqui...– digo sussurrando –, aqui possuiu câmeras?
– Sim, tem uma bem... – ela olha por cima do meu ombro –,  atrás de você Rilla.
Quando penso em me virar para trás e olhar para a câmera sou interrompida por um golpe no meu rosto. Levei um tapa tão forte na face do rosto, que estou tonta, e vejo a enfermeira e a médica irem ao meu encontro agora que me apoio na beirada da cama de onde eu lutei tanto para sair.
As duas me seguram me colocando novamente deitada sobre a cama, estou completamente tonta, o ouvido está com um forte zumbido ensurdecedor.
– Rilla me escuta – a médica se encosta em meu ouvido fazendo algum tipo de " socorro a mim "  que está precisando de ajuda. Uma ajuda que ela mesmo foi capaz de causar. A bofetada que levei no rosto foi de suas mãos. Ela me deu esse tapa, me fez ficar mal e agora está tentando me ajudar? ela é louca!. –, você tem que fingir que está mal, eu tenho que tentar quebrar aquela câmera, senão, nunca vamos  sair daqui, você não vai sair daqui. – ela finaliza.
Olho para ela com um olhar desconfiado, não sei se depois desse tapa devo confiar nela, ela parece querer me deixar aqui cada vez mais.
– Pode confiar em mim? – ela me indaga
Não sei o que falar, não sei o que responder, apenas olho para ela, meus olhos escorrem lágrimas, que parecem me queimar a cada centímetro que percorre a pele das minhas bochechas.
— Não fode comigo! — exclamo
— Não irei — ela olha para a enfermeira.
— Vamos
  A enfermeira vai até a porta e sai. A médica mexe em uma gaveta da cômoda ao lado da cama, e agora finge estar aplicando algum medicamente em mim.
— Finja que você está sonolenta... durma
Não concordo com a cabeça nem faço gesto de sinal positivo, mas ela me entende.
Agora estou fechando meus olhos lentamente. Mas vejo a médica ainda me olhar, ela pega uma ficha e anota o medicamento que ela aplicou em mim, ou pelo menos foi isso que ensaio para a câmera, já que a agulha esguicha o líquido todo para fora, chegando a molhar o lençol da cama.
Finjo um sono que não sinto.

                                             ***

  O hospital fica sem luz.
Estou ainda na cama com os olhos meio entreabertos, e percebo isso quando as luzes do quarto se apagam e a médica fala em alto som.
— lá se foi a luz.
Sei que foi para que eu pudesse ouvir, e deu certo, ali em meio ao escuro, ela segura nas lareiras da cama do hospital, tentando movê-la dali.
— Rilla, iremos sair daqui agora! — ela diz —, os gerados já já estarão ligados novamente, ou até mesmo a luz normal, já que Many não fez nada além de desligar a luz geral do prédio inteiro.
A enfermeira saiu do quarto para desligar a luz geral do hospital.
Obrigada. Penso, já que não sei se terei a oportunidade de vê-la pessoalmente para fazer o gesto de agradecimento.
A cama se desprende e fica totalmente móvel, a médica se joga para trás da cama, e puxa uma trava para que a cama siga o caminho que ela deseja me levar. A saída espero.
O hospital está totalmente escuro, finjo ainda está com os olhos fechados mas como o ambiente dos corredores deste hospital estão escuros, não acho que alguém irá me ver de olhos abertos.
A doutora está num ritmo acelerado. Passamos por diversas pessoas, não os identifico, mas tem diversas pessoas passando com camas como a minha com pacientes, muitas conversas também tomam conta do ambiente.
— Estamos quase lá — A médica diz
Quando enxergo uma luz lá fora, através de uma porta de vidro, identifico que seja a saída daqui, ainda está escuro, então ainda é noite. Não devo ter passado tanto tempo aqui dentro. Aliás, que horas são ?
Não possuo resposta para a minha pergunta.
Quando atingimos a porta de vidro, a médica para a cama e à deixa imóvel, eu já me senti nela e olho para a silhueta da médica que está agora escura, mas a luz que adentra o ambiente hospitalar aqui de dentro, atinge seus cabelos loiros. E sei que devo agradecê-la.
— obrigada...
A luz do hospital começa a se acender, o som que as luzes fazem ao acender pelo corretor até aqui é assustador.
— Vá — a médica se joga para a porta e abre caminho para mim.
Pulo da cama novamente e passo pela porta sem olhar para trás.
Corro ao máximo que posso, corro e choro ao mesmo tempo, estou soluçando, me permito dar uma espiada para trás, vejo o hospital menor, a distância o deixou assim.
Paro na rua, e agora tenho que ir para casa. Não sei onde está meu celular, mas não importa, o que importa agora é chegar na minha casa, na casa onde provavelmente o piso estará coberto de sangue dos meus filhos.
Só agora percebo que, não descobri o nome da médica, não sei quem ela é.
Acho que nunca saberei.

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