Capítulo 9

Já é noite quando deixamos o Sr. Clarck em sua casa. Cat, está no banco dos fundos com a cabeça apoiada na coxa de Alye. Arnold está cochilando no banco da frente do passageiro.
Quando estaciono o carro na nossa garagem, eu chamo por Arnold para que desperte do cochilo e vá para dentro de casa tomar banho.
— Ei... filho acorda vamos — digo em sussurro tirando o sinto da minha cintura.
Ele olha diretamente para Cat no banco de trás junto a Alye e olha para mim agora.
— Ela... interrompendo —, agora, entre para dentro.
— Ela vai ficar bem sim filho — digo o
Ele assente para mim e abre a porta do carro e vai para a porta da frente adentrar a nossa casa.
Solto o ar represado nos meus pulmões. As últimas três horas foram muito tensas. O que era uma simples tarde em um parque com lanches e diálogos, se tornou um dia de medo e agonia para todo mundo.
Cat não é só uma cadela, ela é membro desta família, ela é uma parte de nós e saber que... a ideia de perdê-la nos assusta de uma forma grandiosa. Nos da medo. Me dá medo.
Penso em quem poderia ter feito algo de tão ruim a ela. Cat nunca foi de maltratar alguém, a não ser que, esse alguém a fizesse mal, e mesmo assim, acredito que ela não faria algo de ruim para alguém sem nenhum motivo aparente. Afinal, é a lei da vida, se você se sente ameaçado, você reage. E deve ter sido isso que ela fez, reagiu a uma possível ameaça.
Mas por que alguém a ameaçaria?
O corte em sua barriga foi causado por uma faca. E foi confirmado com o veterinário que a atendeu.
Ela poderia ter sangrado até morrer se eu não a tivesse encontrado a tempo.
Penso novamente em sangue. E me lembro do ocorrido das minhas mãos na pia. Eu as checo depois de não me lembrar mais desse ocorrido e de ter esquecido quase que completamente do nome no espelho que apareceu no banheiro quando Alye estava lá.
Considero ir à polícia.
Tenho medo do que pode estar acontecendo, do que pode vir a acontecer. A Cat não estava tão bem esses dias atrás, depois ocorreram os cortes na minha mão com a água da pia, em seguida o nome " cuidado " no espelho do banheiro, e agora, Cat é encontrada por mim toda ferida, com golpes de faca.
Entro em pânico com todas essas informações que meus pensamentos me trazem. Não tinha parado para pensar até aqui, tudo que ocorreu nesses últimos dias, a minha vida está entrando em crise e eu não me dei conta.
Posso estar correndo perigo. As crianças podem estar correndo perigo. Dou outro longo suspiro e olho para trás vendo Alye ainda com Cat.
Posso estar exagerando, não é para tanto. Ok, algumas coisas são muito esquisitas? Sim são, mas até agora nada ainda afetou meus filhos diretamente. A mim sim, mas não a eles, e nem considero aquilo como algo que alguém quis fazer de propósito, a água devia estar com algum produto que fez minhas mãos se irritarem e acabarem sangrando.
O espelho... Não foi o Arnold. Sei que não foi. Não possuo um argumento para esse acontecimento.
Nem para o de Cat.
Nem para seu comportamento estranho a pouco tempo.
— Vamos? — digo enquanto abro a porta do meu lado.

                                  ***

Conseguimos trazer Cat para dentro de casa, Alye e eu. Com muito cuidado, a deixamos em seu local favorito, ao lado da poltrona na sala.
— Filha... — digo — pode subir e ir tomar o seu banho ok? — finalizo
— ok mãe — ela olha para Cat, que retribui o olhar e dá um beijinho em sua cabeça.
Ela sai da sala em direção às escadas em passos ligeiros, como se não quisesse mais olhar para trás, olhar para Cat ferida ali, sentindo dor.
Coloco os braços agora cruzados acima do peito, olho para a janela que dá para a frente da rua de casa e vejo que a rua está silenciosa. Me aproximo da janela e observo a vizinhança. Estou completamente perdida. Não sei se devo ou não recorrer a delegacia por tais acontecimentos nos últimos dias ou se apenas continuo vivendo e ignorando esses fatos.
Lembro de Rana.
Ela saio daqui tão furiosa que não sei se irá voltar aqui, se irá continuar com seu plano, ou se irá aceitar minha ajuda e deixar de ser tão... Ah, não sei o que Rana tem, sinceramente também não faço questão de saber, ela se picou daqui tão rápido, tão ignorantemente,  que agora sinto raiva de mim mesma por não notar tudo isso e ainda me preocupar com ela.
Apenas minha família importa, se ela não quer compartilhar comigo seus problemas e seus acertos, não posso forçá-la a nada.
Arnold, Alye, Dereck e Cat são quem realmente eu devo me preocupar. E é claro, a Sr. Clarck também.
Olha para Cat que está bem acomodada em sua caminha. Me encostei ao seu lado e me sento no chão para lhe fazer companhia.
O veterinário disse que Cat irá se recuperar aos poucos, que irá fazer uso de alguns remédios e terá que ser feito em casa mesmo algumas limpezas em seu ferimento, para renovar o curativo.
Rasparam um pouco de seu pelo no local para ficar melhor o manuseio dos instrumentos na hora de fazer a sutura em sua pele.
  Tiveram que dar anestesia geral. Cat adormeceu assim muito rápido o veterinário nos explicou, disse que, Cat é uma grande garota e que irá se recuperar muito rápido.
" uma guerreira " foi o que ele usou para descrevê-la.
Em certo momento eu chamei o Veterinário que atendeu a mim, e lhe perguntei sobre o ferimento de Cat.
— Faca — ele diz
— Como?... — embargo a voz — como alguém poderia enfiar uma faca fazendo esse corte nela ? — digo confusa
— Existem pessoas más Senhorita Rilla — diz
  Assunto com a cabeça ainda confusa.
— Vai ficar tudo bem — ele bate no meu ombro com uma das mãos e sai.

                                            ***

— Eii menina ?
Ela olha pra mim um levanta o rabo, o balançando numa velocidade média.
— Você vai ficar boa rapidinho ok? — digo
Ela parece entender o que eu digo e faz esforço para levantar a cabeça, estico a mão para tocar seu nariz e ela lambe os meus dedos.
Solto um risinho porque faz cócegas.
— Aa Cat...
Amo muito Cat,
Dou um beijo em sua cabeça e deixo junto a ela sua comida e água. Tudo ao seu alcance caso ela sinta fome ou cede durante a noite. Vou para as escadas e dou uma última olhada nela lá na sala, ela parece ter dormido.
As crianças parecem já ter tomado seus banhos. Olho no quarto deles e vejo que os dois já se deitaram nas suas camas, já estão em sono profundo. Não os acordo perguntando se querem comer algo, porque sei que eles não vão nem me dar ouvidos. Vou em cada um e lhes dou um beijo na testa desejando boa noite.
Rumo ao meu quarto e passo direto para o banheiro.
Toma banho.
Troco de roupa.
Desço na cozinha e bebo água.
Faço xixi.
E me jogo na cama dormindo tão profundamente quanto as crianças.
Que dia.
                                                              ***

Acordo no meio da noite com o barulho em minha janela. São três da manhã, arqueio a boca em um bocejo longo e preguiçoso. Me viro para olhar a janela, que, aparentemente, não possui nada de incorreto.
Esses barulhos sempre estão me perturbando, sempre sinto, ou melhor, escuto coisas que na verdade não estão causando som nenhum, é apenas a minha imaginação, ou minha mente querendo pregar peças de mal gosto com o próprio corpo que ele habita. Às vezes, o cérebro é maldoso.
Já procurei saber se isso é algum problema mais grave, porém não encontrei nada ou não soube pesquisar direito. Não acho que isso seja algo normal, afinal ouvir sons sem você realmente ver algo que os provoque não é tão normal assim.
Tenho disso a algum tempo, porém agora parece que tudo está mais aguçado, meus sentidos estão mais perceptíveis, principalmente a audição.
Me viro na cama para adormecer novamente sem ser interrompida. Dou as costas para a janela.
Enquanto estou de olhos fechados me lembro dela. Cat. Me ajeito para sair da cama e ir até lá embaixo para verificar como ela está.
Desço as escadas e quando chego na sala de ponte pé, Cat está lá, deitada dormindo como um anjo, quieta e completamente silenciosa.
Subo novamente para meu quarto, agora deito com as costas para a porta e a cabeça para de frente com a janela. A noite está bonita e bem iluminada pela luz da lua.
Adormeço em meus pensamentos dos últimos minutos.

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