38. Aperto de Mão.

252 33 1
                                    

Oito e quinze da manhã...

Mon entrou no quarto segurando uma pilha de livros. Eram três semanas em que Alice estava em coma e ela estava sempre conversando com a menina acreditando que podia ser ouvida. Mon deixou os livros numa cadeira e se aproximou da cama que a filha estava. O gesso no braço agora tinha uma bandagem laranja, cobrindo a parte branca. Uma tentativa das enfermeiras de diminuir o peso da cena.

A mãe mais nova abriu as persianas, e até estava achando o quarto um pouco frio. Ao apertar a mão de Alice, percebeu que estava gelada. A temperatura do ar condicionado estava baixa demais. Cuidadosamente ela pegou um novo edredom e cobriu a menina. A deixando quentinha novamente antes de usar o controle do aparelho pra aumentar a temperatura.

-"Tá friozinho né, amor... vou pedir pras enfermeiras ficarem mais atentas. Só saí do hospital com sua mãe por um dia e já encontro minha bonequinha com frio." - acariciou a bochecha da menina antes de pegar um livro.

-"Olha, trouxe novas histórias... essa aqui eu já planejava ler com você, mas... enfim..."

Um silêncio surgiu. Mesmo tentando demonstrar que estava bem, Mon se sentia quebrada e mal conseguia olhar a filha por muito tempo sem chorar. Sam entrou no quarto e viu a esposa com os olhos marejados e segurando firmemente a mão de Alice.

-"Mon? Meu amor..." - a abraçou por trás deixando Mon descansar a cabeça em seu ombro.

-"Por que, Sam... por que ela não acorda..."

-"Ela vai acordar. Ela... ela é mais forte que nós duas juntas..." - sorrio fraco e pegou um dos livros. -"Vem, eu vou ler a história pros meus dois amores."

Finalmente Mon sorriu novamente. Sam se sentou em uma poltrona ao lado da cama de Alice e puxou Mon pro seu colo. Após algumas folheadas já estavam imersas no conto.

[...]

-"A menina caminhou pelos campos verdes e cheios de colinas. Pela primeira vez sentia aquela brisa do jeito que realmente deveria. O vilarejo era um local incrível, cheio de flores e alegria, quem diria que Maria só perceberia isso depois de quase perder aquele lugar mágico.... fim!..."

-"Mon o que achou da história? Eu acho que a Margaret foi a melhor personagem... ela sempre valorizou o-... Mon?" - Sam achou tudo muito silencioso e ao olhar o rosto da esposa a viu dormindo com a boca entre aberta. Com carinho Sam ajustou a posição de Mon em seus braços, sem acordá-la.

-"Minha linda dorminhoca... viu Alice? Depois ela ainda vem me dizer que tô dormindo demais. Nove da manhã ainda é madrugada!" - brincou e deixou um beijinho na testa da esposa.

[...]

Duas e vinte sete da tarde.

Sam estava passeando pelos corredores do hospital. Tinha deixado Mon na cama a um tempo e precisava revigorar os ânimos. Ela parou em um bebedouro e serviu pra si mesma um copo d'água. Distraída, acabou engasgando quando sentiu uma mão em seu ombro.

-"Gasp!"

-"Sam calma, sou eu, a Jim!"

-"Ai... tô viva... o que você tá fazendo aqui?" - abraçou sutilmente a amiga que até estranhou.

-"Eu vim ver como vocês estão. Desde o acidente não saem daqui... como está a Alice?"

-"O braço está melhorando, mas ela ainda não acordou. Li uma história mais cedo, a Mon tá dormindo até agora, só acordou pra almoçar."

-"Ela realmente parecia cansada na chamada que fizemos ontem. Enfim, o que acha de vir comigo ao jardim do hospital? Sei que não vai querer sair daqui então podemos passear um pouco ali mesmo."

-"Claro, aliás como está o bebê? Quase três anos, né? Um rapazinho"

-"Acredita que ele aprendeu a escalar as mesas? Não sei mais o que faço com essa criança." - saíram dali rindo.

[...]

Mon acordou bem aérea. Essa foi uma grande soneca. Com um sorriso bobo ela levantou da cama e foi até Alice, depositando um beijinho na testa da menina. Ela segurou a mão da menor e acariciou começando a conversar. Mesmo não obtendo respostas, sentia que a menina estava lhe ouvindo.

-"Princesa..."

De repente, Mon sentiu um aperto em sua mão. Imediatamente ela sorriu e comemorou abraçando a filha. Pra ela aquilo era um grande sinal, sinal de que Alice estava se recuperando. Uma enfermeira entrou, mas não ousou dizer as palavras "reflexos involuntários", apenas deixou Mon ter um pouco de alegria. Ainda existia muito amor e fé ali, e com certeza ela também sentia que a menina iria melhorar.

Assim que a enfermeira saiu, Sam entrou. Jim já tinha ido embora e ela resolveu ir ver sua esposa. Ao entrar no quarto pode ver Mon muito feliz e conversando freneticamente com Alice, algo comum já que viviam demonstrando que estavam ali pra menina.

-"Mon? Tá tudo bem?"

-"Sam a Alice fez algo novo. Ela apertou minha mão! Pode parecer bobo mas eu nem acreditei quando aconteceu..."

-"Não acredito que perdi isso..." - deu um sorriso e abraçou a mais nova com força sentindo as lágrimas de Mon molharem seu peito. -"Vai dar tudo certo... vai ficar tudo bem meu amor..." - tranquilizou enquanto olhavam para a menina na cama.

______________________________________

28, quarta, agosto 2024.

[As datas são só pra eu parar de ficar confusa sobre as postagens]

Mais Uma Em Nossos CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora