15 - Alma presa.

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Alice Alves.


A tensão no ar é quase insuportável enquanto observamos o relógio. O veiculo está a caminho. O problema é que o único caminho que conhecemos, as escadas, fica no lado norte do predio. E aquele lado está infestado de mortos.

Olho para os rostos dos meus amigos — Lisa, Maya Talita. A determinação deles é evidente, mas não posso deixar de sentir um frio na barriga. A visão dos zumbis se amontoando na porta do corredor me faz hesitar.

- Precisamos ir, agora! - diz Gregory, quebrando meus pensamentos. Sua voz é firme, mas a preocupação brilha em seus olhos. - Vamos seguir pelo corredor leste e tentar acessar as escadas pelo andar de baixo. Menos zumbis e mais chances de escapar.

- E se a gente se deparar com mais deles? - pergunta Lisa, olhando para a direção oposta.

- Temos que estar prontos para qualquer coisa - respondo, tentando me convencer.

não deixo de perceber o olhar fixo de Ravih em mim. Ele puxa uma barra de ferro do chão, a segurando com firmeza.

- Isso deve ajudar. Se eu for na frente, posso afastar os que estiverem no caminho.

Gregory concorda com um aceno.

- Bom plano, mas precisamos nos mover em silêncio. - Sarah diz, atras de mim. - Não queremos chamar mais atenção do que já temos.

A adrenalina começa a fluir em mim. Com um último olhar para o grupo, sigo Ravih, mantendo a cabeça baixa enquanto atravessamos o corredor. Cada passo é um teste de coragem, e o eco dos nossos passos alto como um tambor no silêncio tenso.

Quando chegamos à esquina que dá para o lado norte, o cheiro de podridão e o som de gemidos se intensificam. Ravih para e se vira para nós.

- Vamos lá, eu vou na frente.

Com um movimento rápido, ele avança, e eu sinto o coração acelerar. Ouvimos os zumbis se agitando, como se soubessem que estávamos ali. Mas não temos escolha, precisamos seguir.

Assim que Ravih vira a esquina, um grupo de zumbis aparece. Ele ergue a barra de ferro e golpeia um deles na cabeça, a criatura cai, mas logo mais dois se aproximam.

- Garota! - grita Gregory, sua voz é um chamado para a ação.

Eu me aproximo, sentindo um frio na espinha. Sem pensar duas vezes, pego uma cadeira que estava jogada e a lanço na direção dos zumbis. Ela acerta um deles, e aproveito a confusão para empurrar Ravih em direção à escada.

- Rápido lezado! - ordeno.

- Agora você fala comigo?!

- Desce logo Ravih. - Sarah dá um grito de desespero.

- Descer não. Subir! - Gregory ordena.

- Porque subi...Caralho vou andar de helicóptero. - Ravih comenta. Se n estivesse com medo iria rir com o comentário.

Entramos na escada um por um, percebemos que a situação está se agravando. Escutamos o barulho dos zumbis se aproximando, e o medo se intensifica.

- Precisamos subir rápido Maya! - ouso talita gritar, já dando os primeiros passos.

- Calma, meu irmão não é tão leve. - A garota responde com esforço.

- Ravih! - o chamo no meio do caos.

Ele pega o garoto do colo de Maya e sobe as escadas com pressa.

Subimos os degraus desesperados. cada movimento um esforço para nos afastar daquelas criaturas. O som de gemidos e arranhões ecoa atrás de nós, e o pânico começa a tomar conta do ambiente.

Por um momento olho para baixo, e vejo dezenas deles. Nem mesmo com armas conseguiríamos sair dessa vivos. A regra de não fazer barulho já não existi mais, estávamos todos apavorados.

Finalmente chegamos ao ultimo andar. Vejo um por um sair pra fora da porta que dava no terraço, olhando ao redor. Vejo que só faltava Nicole, Miguel e Gregory para sair.

Mas antes que possamos nos mover, ouvimos o som de passos pesados e os gritos dos zumbis ecoando nas escadas.

- Vamos! - grita Gregory, me empurrando pra fora.

Corremos em direção à porta, sinto o vento gelado na pele e o cabelo voando, a visão do helicóptero ainda no ar, me trazia um pouco de esperança.

-  O helicóptero nao vai conseguir pousar ! - grita Gregory. - Precisam subir nele!

Maya é a primeira a entrar com ajuda de uma garota que já estava no helicóptero e logo em seguida seu irmão embarca, um por um foram entrando.

- Cadê Nicole e Miguel?? - grita Talita.

Achava que eles ainda estavam atrás de nós, nem mesmo Gregory percebeu a ausência deles.

Sem pensar corro até a porta que acabamos de sair, lá estavam os dois segurando e lutando contra os mortos. A camisa outrora limpa de Miguel, estava toda respingada de sangue.

- A porta n vai segurar eles. - o garoto grita, enquanto golpeia um zumbi com pedaço de ferro.

- Pra conseguirmos todos subir no Helicóptero precisamos ganhar tempo. - Nicole responde.

Olho pro lado tentando achar alguma coisa que possa nos ajudar, não vejo nada alem de uma mesinha.

- Eu vou segurá-la! - continua Nicole afirmando com a voz forte. - Vocês precisam entrar no helicóptero. Eu vou garantir que eles não cheguem até vocês.

- Não, você não pode! - eu imploro, sentindo o desespero me consumir.

- É a única maneira! - ela responde, seu olhar firme. - Se não fizer isso, todos nós estaremos mortos. Vocês têm que ir!

Sinto lágrimas nos olhos enquanto percebo que ela está decidida. Ela se posiciona na porta, segurando-a com força, enquanto Miguel derruba alguns mortos da escada.

- Nicole, não! - Miguel grita, seu rosto pálido de medo.

- Eu não tenho tempo para discutir! - ela responde, me abraçando rapido uma ultima vez.

Eu sinto que o tempo está se esgotando.

- Eu amo vocês, tá? Se um dia encontrar minha mãe, diz que eu amo ela. - isso quebra meu coração. - Vocês têm que sobreviver!

Miguel consegue ganhar um pouco de tempo jogando a mesinha nos mortos. Logo depois me segurando pela cintura e me puxando pra fora.

Então, com uma última olhada cheia de amor e dor, ela empurra a porta com toda  força. O que parece ser uma eternidade se passa em segundos enquanto os zumbis se aproximam, e a horda começa a se aglomerar na entrada.

- Vão! - ela grita novamente, e nesse momento, o instinto de sobrevivência fala mais alto do que qualquer outra coisa.

Todos estavam dentro do helicóptero, mas nem todos conseguimos sair do predio, eu hesito, presa entre a vontade de ficar e a necessidade de escapar.

- Cadê a Nicole? - escuto alguém perguntar.

- Nicole - Sussurro, a voz dela agora abafada pelo barulho dos grunhidos.

Me empurram para dentro do helicóptero, Gregory grita pressionando o piloto para que decole.

Meu coração está pesado.

Olho para trás e vejo Nicole lutando, segurando a porta com todas as suas forças. A horda a empurra, mas ela se recusa a ceder. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, fecho os olhos, sabendo que essa é a última vez que a verei.

Finalmente, o helicóptero começa a se afastar do predio O céu se abre acima de nós, mas minha alma está pesada pela perda.

- Não! - Sussurro, mas já é tarde demais. A imagem de Nicole segurando a porta, determinada a ajudar, fica gravada em minha mente.

Continua...

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