Karma (Jaywon)

Precisamos conversar

Aquelas palavras simples me deixaram paralisado, e, embora eu desejasse escapar, isso não teria efeito. Mesmo sendo apenas uma mensagem, imaginava a gravidade na sua voz e a expressão séria que ele exibia ao digitar aquelas frases.

Após receber aquela mensagem, percebi que não conseguiria dormir naquela noite. Por isso, decidi encontrar Jay. Ele não me deixaria em paz no trabalho enquanto suas dúvidas permanecessem sem resposta. Assim, percebi que uma conversa entre nós poderia ser a solução ideal para esclarecer nossas questões.

Yang Jungwon: "Você quer se encontrar comigo?"

Park Jay: Me encontra no restaurante Chelsea, número 199.

Eu conhecia bem aquele restaurante; era o lugar que costumávamos frequentar sempre que eu ou Jake sofríamos de insônia. Ao olhar para o relógio, percebi que já era meia-noite. Troquei de roupa e optei por não acordar Jake, para não preocupá-lo. Deixei um bilhete na geladeira, caso ele se levantasse durante a madrugada e notasse minha ausência.

Na primeira semana, recebemos nosso primeiro salário proveniente de Jay, e decidi pegar um táxi até o local. A ansiedade em relação à conversa me impediu de esperar pelo metrô. Embora fosse um horário movimentado, a rua ainda pulsava com vida; afinal, estamos em uma cidade que nunca dorme, e havia pessoas circulando, algumas até trabalhando. Ao avistar a entrada do restaurante, notei sua fachada branca com toldos marrons, exibindo o nome do estabelecimento. Mesas do lado de fora eram idênticas às do interior. Encontrei uma pessoa desconhecida sentada na calçada, mas como não era Jay, pouco me importei. Caminhei lentamente, imaginando todos os desastres que poderiam ocorrer se eu decidisse abrir a boca.

No entanto, ao mesmo tempo, havia uma sensação de alívio iminente ao pensar que, ao ouvir a verdade diretamente de Jay, eu estaria mais preparado para seguir em frente. Embora a última coisa que eu imaginasse acontecer fosse Jay pronunciar algumas palavras reconfortantes, havia a possibilidade de que ele pudesse fazê-lo naquela madrugada.

Ao entrar, deparei-me com várias cadeiras de plástico brancas e um amplo banco acolchoado que servia de assento para as mesas. Meus olhos se encontraram imediatamente com os dele, que se encontrava sentado na última mesa de um pequeno corredor que eu precisaria atravessar. Ele estava virando um copo de água, e, com passos lentos, fui me aproximando.

Não sabia exatamente como proceder, então optei por me sentar e observá-lo, sentindo um certo embaraço que me levou a baixar a cabeça. Não era um tema que eu poderia abordar de maneira casual, como se estivesse sorrindo, pedindo uma cerveja e conversando descontraidamente. Para que eu pudesse me expressar, parecia necessário que ele fizesse as perguntas certas.

- Você gostaria de pedir algo antes de começarmos a conversar? - ele indagou, enquanto um atendente passava ao nosso lado. - Sei que nossa conversa será longa.

- Não, estou bem.

- Muito bem. - Ele tomou um gole de água e afastou o copo. - Sobre aquela mensagem que você me enviou, o que aconteceu? Se eu cometi algum erro, preciso entender do que se trata. Que tipo de montagem era aquela? Naquele tempo, eu costumava criar várias montagens para o jornal da escola.

- Antes de mais nada, independentemente do que eu compartilhar hoje, não quero ser visto como um coitado. Não quero que você mantenha a imagem que tinha de mim no Ensino Médio... Eu sou um Jungwon diferente agora, e meu passado não tem mais significado para mim. - Adotei uma postura séria, algo que Jay não conhecia, pois sempre me via com um humor leve.

- Nosso passado nunca desaparece, Jungwon; ele revela se permanecemos estagnados ou se evoluímos como indivíduos. Não estou aqui para te julgar pelo que vivenciou, mas sim para compreender o mistério que envolve esses seis anos em que estivemos afastados e que te transformaram em uma pessoa diferente. - Sua expressão permanecia inalterada. - Se você acha que não percebi a mudança desde o momento em que entrou no meu escritório, deve supor que sou desatento e alheio ao que acontece, pois isso é claramente visível. O que realmente quero saber é se sou de alguma forma responsável por essa transformação.