Karma (Jaywon)

Me Lembre De Morrer

Escutei meu celular tocar incessantemente e, tirando remela dos meus olhos, vi que eram 5:30. Quem quer que estivesse me ligando poderia se declarar uma pessoa enterrada viva. Vi que era um número desconhecido e me perguntei quem, em sã consciência, ligaria a essa hora. Ainda tinha mais duas horas para dormir antes de começar a me arrumar para ir trabalhar nesta segunda-feira.

- Alô. - minha voz saiu meio grogue por eu não estar completamente consciente de tudo.

- Por favor, passe na lavanderia para buscar um smoking que Jay vai usar em uma festa de gala amanhã à noite com outros investidores. Depois, busque alguns arquivos modelos que estão para impressão na gráfica e tome cuidado, são papéis que não podem amassar em nenhuma circunstância. Ao lado, haverá uma floricultura; pegue um buquê de rosas claras e certifique-se de que eles tirem todos os espinhos. - estava ficando tonto com tantas coisas sendo faladas e eu simplesmente sendo um palerma que não estava anotando nada. Para lembrar disso, só anotando nos mínimos detalhes. - Por último, passe no Chocolato Coffee Shop e pegue um café italiano extra forte para o meu chefe. Só isso. Certifique-se de chegar em quarenta minutos com todos esses pedidos; todos os estabelecimentos são próximos, você não terá problemas com isso.

- Você poderia rep... - a ligação foi encerrada. - Lavanderia, floricultura, café... Gráfica! - fiquei repetindo essas palavras e os nomes das empresas em ordem desconexa para não me esquecer. Peguei um dos post-it's de Jake e anotei de um jeito bagunçado que eu custaria a entender mais tarde. Corri para o banho enquanto pesquisava se esses locais estariam abertos, e por sorte todos os serviços funcionavam desde cedo, abririam dali a vinte minutos. - Já está acordado? - vi Jake tomando uma xícara de café.

- Bom dia, flor do dia. Eu sempre acordei esse horário, só que você nunca estava acordado para ver.

- É melhor eu nem falar muito, senão vou esquecer o que preciso fazer. - entrei no chuveiro e tomei uma ducha rápida enquanto cantarolava o nome das empresas para onde eu tinha que ir. - Chocolato, Chocolato, Chocolato!

Peguei o mesmo terno que usei no dia da entrevista e penteei meu cabelo minimamente, deixando que ele secasse naturalmente. Vi que tinha vinte minutos para resolver tudo e ir para o escritório para o primeiro dia de teste. Supus que aquela mulher ao telefone era a secretária antiga, então provavelmente ela passaria as instruções de como deveríamos nos portar com Jay.

Fui passando em cada lugar e pegando o que tinha que receber e sumindo no meio de tanta coisa.

A roupa tinha que ficar lisinha.

Os papéis não poderiam amassar.

A flores não poderiam murchar.

O café não poderia esfriar.

E no final, lá estava eu, carregando "centenas" de coisas e tentando me equilibrar pela rua para não ser atropelado. Não queria receber nenhuma chamada de atenção no primeiro dia, e muito menos fazer algo que acordasse a fera interior de Jay. Eu sabia que só minha presença já o irritava, mas sentia que ele conseguiria suportar.

Chegando ao prédio sete minutos atrasado, corri pela portaria, prometendo ao porteiro que não esqueceria minha identidade no dia seguinte, pois minha carteira tinha ficado em casa, e se minha cabeça não estivesse grudada ao meu pescoço, eu também teria esquecido. Tentei alcançar o botão do elevador, mas aquela roupa pesada não estava colaborando, e eu estava perdendo o equilíbrio com a mão do café.

- Deixa que eu aperto para você. - olhei para o lado e encontrei um homem asiático com um sorriso simpático. Naquele instante o tinha declarado o anjo da salvação. Entrei na caixa metálica e escutei mais uma vez sua voz. - Para qual andar?