Jay e Bebidas

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Eu apenas observava o rosto dele, incapaz de me mover ou expressar que conversar com ele seria a última coisa que eu faria, pois isso arruinaria completamente meu dia e meu estado de espírito. Tinha plena consciência de que qualquer palavra que ele proferisse teria o intuito de me ferir, como um soco direto no rosto. Ele possuía, de forma inerente, a habilidade de me enxergar como um incômodo e de ressaltar, de maneira incisiva, o quanto ele era perfeito e eu, ao contrário, não era.

- Eu não tenho nada pra falar com você. - Virei meu rosto, como se isso fosse suficiente para afastá-lo. - Faça como sempre você e seus pais fazem quando me veem. Vá embora. - Afirmei, tomado pela raiva, quando senti meu pulso sendo segurado.

- Eu preciso e vou falar com você. - Seu tom era firme, e em instantes me vi sem alternativas, sendo puxado até a varanda da casa, onde havia poucas pessoas. - O que você está fazendo aqui? O que estava fazendo naquela festa?

- Demorou tantos dias para falar comigo, por que você simplesmente não esqueceu da minha existência, como todos fizeram naquele dia? - Expirei medo e inspirei confiança, desejando reunir coragem para despejar tudo que estava preso em minha garganta sobre meu irmão perfeito. - Por que você quer conversar comigo? Se passaram seis anos sem qualquer comunicação; por que agora?

- Se você acredita que não fiz uma busca por você, está muito enganado, Jungwon. - Essa afirmação me soou um tanto estranha. Yang Jeongin realmente havia me procurado? Poderia ser mais uma de suas mentiras. - Não gostei da maneira como nosso pai se dirigiu a você naquele ano, mas não posso negar que você tinha suas razões.

- Se você veio até aqui apenas para proferir essas palavras, está apenas desperdiçando seu tempo. Não sou mais um membro da família Yang; considere-me um desconhecido. Não existe um pai que seja nosso, mas sim o seu pai. - Ele soltou um suspiro de frustração. - Se realmente me procurou, foi de maneira insuficiente, ou talvez por não ter sido um pedido do seu pai, não se esforçou o bastante. - Balancei a cabeça negativamente, tentando me sentir firme e confiante, mas era difícil manter essa fachada. - Agradeço, no entanto, por não ter me encontrado; consegui seguir em frente com minha vida. Nossos caminhos se tornaram divergentes, e tenho certeza de que sua vida continua perfeita, então não precisa mais se preocupar comigo.

- Você realmente acha que fiquei feliz ao saber que está concorrendo a um emprego de secretário? O meu irmão? Aquela pessoa que tinha tudo para ter um futuro brilhante? - Bufei, incrédulo ao escutar aquelas palavras. - Você sabe que me importo com você; talvez eu não demonstre, mas é verdade.

- Preocupação!? Se tudo o que recebi desta família foi preocupação, não consigo imaginar como seria minha vida sem ela. - Minha boca estava mais seca que o deserto do Saara. - Sempre tentei preencher o vazio que sentia em relação ao amor familiar sendo a pessoa mais superficial possível, priorizando a aparência em vez da essência; reconheço isso agora. Eu nem deveria ter nascido, comecei como um erro, atrapalhando a vida brilhante que era destinada a você. Seus pais sempre desejaram essa imagem de família perfeita, mas, na realidade, cada um estava vivendo sua própria vida; não havia conexão, não existia a verdadeira palavra família entre nós. - Seu olhar era severo. - Se você não fosse o robô perfeito que o GRANDE Yang Yongnam deseja, seria apenas mais uma peça descartável no seu baralho.

- Você está descontando seu ódio em mim? Sabe que não precisa ser assim. Desde que te vi novamente na festa da Sra. Choi, fiquei relembrando todas as memórias e procurei saber mais sobre o que aconteceu na sua vida. Não quero que meu irmão enfrente dificuldades; eu não me sentiria bem com isso. - Ele segurou meu antebraço e fixou os olhos nos meus. - Quero que você volte a se comunicar comigo. Não precisa falar com nossos pais se não se sentir confortável, mas eu realmente quero te ajudar.

Karma (Jaywon)Onde histórias criam vida. Descubra agora