Karma (Jaywon)

Observado

Senti um frio na espinha ao refletir sobre isso. Durante todo esse tempo, havia o considerado apenas um funcionário competente, alguém que me auxiliava e que eu já via como um amigo próximo. No entanto, já havia falado e feito tantas coisas inadequadas que, naquele momento, minhas bochechas queimaram de vergonha. Mais uma vez, encontrava-me em uma situação complicada, e precisava encontrar uma forma de me desvencilhar dela.

- Olá, Sunghoon. - atendi a ligação, fixando meu olhar nos olhos de Jay, que estavam intensamente concentrados em mim. - Como você está?

- O que aconteceu, Jungwon? Sua voz parece diferente... - ouvi do outro lado da linha, e um tremor percorreu meu corpo. Era impossível para mim permanecer em silêncio quando precisava descobrir algo.

- Tudo está excelente, vice... Sunghoon. - Foi por um triz, mas minha mente esforçava-se para manter a formalidade exigida para a posição de um vice-presidente. - Então, o que deseja?

- Jungwon, estou quase certo de que, apesar do pouco tempo que nos conhecemos, há algo muito errado. - Comecei a retirar a pele do canto da minha unha devido ao nervosismo. - Você sabe que precisa me contar durante nosso encontro esta noite, certo? - Meus olhos se arregalaram um pouco e, pela expressão de Jay, ele claramente não estava satisfeito com o que estava acontecendo ali.

- Oh! Claro... Envie-me por mensagem o endereço e o horário, e estarei onde você precisar. - Finalizei a ligação, esforçando-me para conter tudo o que gostaria de dizer a ele. - Então... Não é nada disso que você está pensando. Ele apenas me convidou para sair como bons amigos que somos. Não pense que estou tentando mudar de empresa. Jamais! Nunca considere essa possibilidade; sou leal à sua empresa!

- Não posso acreditar que você não estava ciente disso. Ele não mencionou? - indagou Jay, enquanto o som de uma mensagem chegou ao meu celular. - Posso saber onde vocês planejam se encontrar? - Ele levantou uma sobrancelha, e pela intensidade e rigidez de seu olhar, percebi, em meu íntimo, que era imperativo que eu respondesse.

- Ele me enviou o endereço agora há pouco, é um lugar chamado Boucherie Restaurant. - Observei enquanto Jay pegava um bloco de notas e começava a anotar algo. - Não há problema eu ir, certo?

- Por que eu deveria me importar? Você pode se relacionar com quem desejar; suas escolhas fora do ambiente profissional não me dizem respeito. - Será que fui eu quem percebeu uma certa birra na fala do Jay? - É melhor você se retirar agora. Com nosso acordo resolvido, você pode seguir para seu encontro. - Concordei rapidamente e me dirigi ao quarto onde dormi, encontrando minhas roupas secas estendidas na cama. Essa descoberta me fez refletir, e, de forma involuntária, uma sensação de descontentamento tomou conta de mim ao perceber que o Sunghoon não foi totalmente sincero desde o início.

No entanto, eu nunca tive a coragem de chegar até ele e perguntar:
- O que você está fazendo aqui?
Eu desejava que ele me explicasse naquela noite, pois sempre preferi manter tudo claro, sem segredos ou dissimulações.

Dirigi-me ao apartamento e entrei em contato com Koga, expressando minha indignação de forma rude pela mentira sobre Jay esquecer as coisas quando estava bebendo. Do outro lado da linha, ele riu e respondeu de maneira cínica: "Você se divertiu, não foi? Então, mantenha-se em silêncio e agradeça ao maravilhoso Koga Yudai."

Conversei e combinei de levá-lo ao aeroporto no dia seguinte à tarde.

O que mais me incomodava era que essa brincadeira que ele fez acabou por revelar uma série de emoções que estavam profundamente guardadas dentro de mim. Jay estava se aproximando cada vez mais, não apenas fisicamente, mas também em um nível emocional. Essa situação representava um risco, uma curva acentuada em uma estrada que poderia me levar a um destino incerto. Embora eu tenha aceitado ser honesto, essa tarefa pode ser mais desafiadora do que ele imagina. Expressar meus sentimentos e articular em palavras o que se passa na minha mente e no meu coração não é uma tarefa simples.