E quando nem você sabe o que sente?

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S/n Point of View
Minas Gerais - 06:30AM
06/02/2024

Uma semana tinha se passado e eu contava os dias para que terça-feira finalmente chegasse.

Hoje seria o dia em que meu pai iria estreiar como novo técnico da seleção, porém só começaria depois da olimpíada de 2024 em Paris, que seria a última de Zé Roberto e, infelizmente também a da Thaisa.

Eu pensei durante esses 7 dias em como poderia me aproximar dela sem parecer uma fã maluca, mas nenhuma das minhas ideias superou a primeira.

Eu vou me aproximar dela como uma pessoa normal. Até porque não há nada de diferente nela que não há em mim.
Ossos, pele, orelha, nariz, cabelo, somos fisicamente iguais, então não há nada que me impeça de chegar nela como alguém normal.

Porém, diante dessa ideia, surgiu um problema:

Eu não sou uma pessoa normal.

E aí vem outro problema:

Eu não sei falar sem gaguejar com ninguém que não seja do meu ciclo social, que consiste em apenas oito pessoas. Meu pai, minhas quatro irmãs, a Milena, o Pedro e o professor.

Pra vocês terem uma noção, eu não falo com ninguém da faculdade e sempre quando tem trabalho em dupla eu sempre tenho que fazer ou com a Milena ou com o Pedro, que revezam as vezes por serem super comunicativos e terem diversos amigos na turma.

Mas eu nem sempre fui assim.

Quando eu era pequena eu falava até com a parede se estivesse entediada, mas depois que a minha mãe se foi, eu percebi que quanto mais eu me abria e dava espaço pra pessoa me conhecer melhor, mais difícil seria quando ela fosse embora. As únicas pessoas as quais eu me abro são meus melhores amigos, nem pra minhas próprias irmãs eu consigo.

A minha terapeuta diz que é trauma, mas eu digo que é normal.

Por que se abrir pra alguém que depois vai embora da sua vida? É como atirar pedra no pé sem nada pra impedir a dor e não saber se vai doer ou não quando você sabe que o pé tem apenas uma fina camada de pele que não te impede de sentir o impacto.

- TÁ ESCONDENDO O CORPO NOS AZULEJOS PORRA?! VAI LOGO AI S/N! - o grito da Diana me assusta, e eu abro a porta vendo a mulher encostada na parede

- por que você não vai no banheiro do seu quarto? Esse é o único que vocês nunca usam, por que quer vir cagar justo nesse? - pergunto e ela entra sem que eu possa impedir

- eu quero vir nesse, tenho direito de ir e vir como ser humano e cidadão. - reviro os olhos voltando a fazer o babyliss que fazia em meu cabelo - por que tá tão arrumada? Até tomou banho fubenta, tá namorando é? - ela perguntou curiosa

- não é da sua conta, agora caga logo ou eu vou tacar você pra fora do banheiro. - ela espreme os olhos enquanto me encara e faz um barulho com a boca como se estivesse pensando - que foi bocó?

- tô tentando lembrar se hoje tem algum evento especial. É por que vamos reencontrar o time do Minas? - ela pergunta e eu fico calada, vendo ela sorrir - é isso mesmo...

E Se Eu Te Disser Que Eu Te Amo? - Thaisa DaherOnde histórias criam vida. Descubra agora