CAPÍTULO 5.1

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Ecos do Passado

Cristian estava deitado na cama, com os olhos fixos no teto, sua mente um turbilhão de pensamentos. Ele se sentia esmagado pelo peso das revelações e pela confusão de sentimentos que o dominava. A noite anterior, o beijo de Thales, as palavras de Carlos, tudo parecia um borrão de emoções conflitantes. Sua cabeça doía, e ele se sentia completamente perdido.

Enquanto isso, do lado de fora do quarto, Thales se sentia impotente. Ele sabia que precisava dar espaço a Cristian, mas o medo de perdê-lo era esmagador. A sensação de que estava à beira de perder algo precioso o fazia se contorcer de angústia. Bárbara, ao seu lado, observava o irmão com preocupação.

— Thales, eu sei que você está preocupado, mas precisa confiar que ele vai te procurar quando estiver pronto — disse Bárbara, tentando acalmar o irmão.

Thales assentiu, mas sua mente estava longe, voltando ao beijo que deu em Cristian. Foi um momento de pura emoção, mas agora, olhando para trás, ele se perguntava se tinha sido um erro.

Enquanto esses pensamentos o consumiam, uma sombra de dúvida passou por sua mente. Ele perguntou se Cristian descobriria a verdade sobre ele. E, se descobrisse, será que ainda haveria um futuro para eles? Thales estava preocupado com as consequências de seu passado. Ele sabia que a verdade tinha o poder de afastar Cristian, e isso o apavorava.

Bárbara notou a expressão preocupada no rosto de Thales e decidiu investigar. Ela sabia que seu irmão estava guardando segredos, e a história que ele contara mais cedo a deixará ainda mais desconfiada. Bárbara decidiu que era hora de descobrir o que estava realmente acontecendo. Ela tinha que proteger seu irmão, mas também sentia que Cristian estava no centro de algo muito maior do que todos eles podiam entender.

De volta ao quarto, Cristian finalmente cedeu ao cansaço e caiu em um sono inquieto. Mas, em vez de descanso, ele foi novamente arrastado para um pesadelo.

Ele se viu em um vasto campo de batalha, cercado por ruínas e destroços. O céu estava tingido de vermelho-sangue, e o cheiro de destruição impregnava o ar. Cristian estava segurando uma lança – a arma que ele usara em um passado distante, embora ele não soubesse disso conscientemente. Em frente a ele, um imenso dragão de gelo rugia, suas escamas brilhando como diamantes sob a luz sombria do céu.

Cristian avançou, seus punhos brilhando com uma energia negra, sombras que se contorcem ao seu redor. O dragão lançou uma rajada de gelo em sua direção, mas Cristian desviou com agilidade, as sombras envolvendo seus braços enquanto ele golpeava o dragão com força descomunal. O impacto foi poderoso, mas o dragão apenas recuou por um instante, antes de atacar novamente.

Enquanto a batalha continuava, visões começaram a surgir na mente de Cristian. Ele se via em um trono de pedra, usando uma coroa e roupas reais. Ao seu redor, deuses assistiam ao caos que ele criava, rindo e se deleitando com a destruição das terras que ele dominava. Cristian viu seus próprios olhos refletidos, frios e impiedosos, enquanto comandava exércitos e subjugava nações. Ele era um rei, mas havia algo de errado, algo profundamente errado.

O dragão atacou novamente suas garras cortando o ar, mas Cristian reagiu com uma explosão de sombras, destruindo parte da criatura. Ainda assim, o dragão não recuou, e Cristian sentiu que a batalha era mais do que apenas física – era uma luta contra si mesmo, contra o que ele estava começando a lembrar.

Cristian deu o golpe final no dragão, suas sombras envoltas em seus punhos atravessando o coração da besta. Mas em vez de sentir vitória, ele foi novamente confrontado pela visão dos deuses, rindo enquanto observavam tudo se desmoronar ao redor dele. No fundo de sua mente, a palavra "pecados" ecoava, misturada com uma culpa que ele não conseguia compreender.

Cristian acordou com um sobressalto, seu corpo coberto de suor frio. Ele ainda podia sentir o peso da visão que tivera durante o pesadelo, mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação de descrença. Ele não conseguia aceitar que poderia ser aquela pessoa cruel e impiedosa sentada no trono. Apesar de ter visto seu próprio rosto, ele não acreditava que aquilo fosse verdade. "Isso não pode ser real," ele pensou. "Talvez aquele não fosse realmente eu." Mas, com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, ele decidiu que não podia se dar ao luxo de se perder em pensamentos agora.

Cristian levantou da cama, sentindo a exaustão em cada parte do seu corpo. Ele foi até o banheiro e tomou um banho relaxante, na tentativa de lavar não apenas o suor, mas também os pensamentos perturbadores que giravam em sua mente. A água quente ajudou a acalmar seus nervos, e por um breve momento, ele conseguiu esquecer a tempestade de emoções que estava enfrentando.

Enquanto isso, Bárbara estava na casa de seus pais, decidida a entender o comportamento estranho de Thales e a história que ele havia contado mais cedo. Ela entrou no quarto de seus pais, determinada a encontrar algo que pudesse lhe dar respostas. Abrindo o armário, encontrou todos os álbuns de fotos da família, desde os tempos mais antigos até os mais recentes. Ela folheou cada página com atenção, observando as fotos antigas de sua infância e juventude.

Mas algo incomodante chamou sua atenção: Thales aparecia apenas no álbum mais recente, de um ano atrás. Era como se ele simplesmente não existisse nas fotos anteriores. Bárbara ficou perplexa. Como poderia haver tantas fotos dela criança, mas nenhuma de Thales? Era como se ele tivesse surgido na vida deles de repente, sem deixar rastro.

As perguntas começaram a se formar em sua mente. Por que não havia fotos de Thales quando ele era criança? O que poderia explicar essa ausência nas memórias visuais da família? Determinada a encontrar respostas, Bárbara começou a perguntar a alguns dos funcionários da casa, esperando que eles tivessem lembranças de Thales quando ele era mais jovem. Mas para sua surpresa, todos pareciam ter memórias apenas do último ano. Quando ela perguntava sobre eventos mais antigos, todos ficavam estranhos, como se tentassem lembrar de algo que simplesmente não estava lá. Era como se uma barreira invisível impedisse essas memórias de emergirem.

Ainda mais intrigada, Bárbara foi até sua mãe e fez as mesmas perguntas. Mas, assim como os outros, sua mãe só tinha lembranças de Thales dos últimos doze meses. Não havia menção ao nascimento dele, à infância, ou a qualquer outro momento significativo que Bárbara pudesse recordar claramente para si mesma.

Essa ausência de memória coletiva começou a assustá-la. "Quem é Thales, afinal?" Ela se perguntava enquanto saía da casa dos pais, sentindo um frio na espinha. O comportamento de Thales, suas palavras estranhas e a falta de qualquer registro dele antes de um ano atrás estavam começando a pintar uma imagem que Bárbara não conseguia ignorar. Ela sabia que precisava descobrir a verdade, não importava o que fosse necessário.

O Eclipse do Rei Sombrio / Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora