A noite no submundo era envolta em uma escuridão densa, quase palpável, que parecia absorver qualquer vestígio de luz. Thales, agora acomodado em seu quarto provisório, sentia-se desconfortavelmente à vontade no ambiente sombrio. O quarto em si era surpreendentemente comum, com uma decoração rústica e uma paleta de cores escuras, mas ainda assim, era um espaço normal. Thales havia acabado de tomar banho e estava se preparando para o jantar, com a ajuda dos servos do castelo que Cristian havia enviado.
Enquanto Thales ajustava as roupas, ele não pôde deixar de notar o quão arcaicas elas pareciam. O traje, uma combinação de preto e branco, tinha uma elegância austera, mas parecia deslocado no tempo.
— Por que essas roupas? Ele esqueceu que estamos no século 21? — murmurou Thales, incomodado com a extravagância desnecessária.
Uma das servas, com um tom educado e neutro, respondeu:
— O rei disse que era um desejo dele que você vestisse esse traje.
Thales deu de ombros, resignado. Ele só queria sair do submundo com Cristian, mas o Cristian de antigamente, o homem por quem havia se apaixonado. Ao final do preparo, as servas colocaram uma coroa dourada na cabeça de Thales, o que o deixou ainda mais confuso.
Ele se observou no espelho por um momento, estranhando o reflexo. As roupas, embora elegantes, não lhe pertenciam, e a coroa... aquilo não fazia sentido.
Quando estava pronto, Thales foi conduzido ao salão de jantar, onde Cristian já o esperava. Cristian estava impecável em seu traje preto com mínimos detalhes brancos, o sobretudo lançando uma sombra ainda maior sobre sua figura imponente.
— Sente-se — disse Cristian, com um leve sorriso, seus olhos avaliando Thales de cima a baixo. — Esse traje ficou muito bom em você.
Thales se sentou ao lado de Cristian, sentindo-se desconfortável e fora de lugar. Ele murmurou um "obrigado" quase inaudível.
— O branco combina com sua pele — Cristian comentou, com uma suavidade inesperada em sua voz. — Mas o preto... o preto te deixa ainda melhor.
Thales desviou o olhar, sentindo uma mistura de emoções confusas.
— Mas por que a coroa na minha cabeça? — ele perguntou, tentando compreender a situação.
Cristian sorriu, um sorriso que continha um toque de algo sombrio e incompreensível.
— Como você não pode lembrar da sua coroa? Peguei ela no santuário.
Thales franziu o cenho, confuso. Ele nunca havia usado uma coroa, e a última vez que esteve no santuário, não se lembrava de algo assim.
— Eu não uso coroa — ele afirmou, ainda mais perplexo.
Cristian riu suavemente, mas havia algo de inquietante naquela risada.
— Então os deuses fizeram alguma coisa com sua cabeça. Você não acha estranho que os deuses do equilíbrio não fizeram nada para parar os portais ou para intervir na vinda desse demônio? — Cristian inclinou-se para mais perto de Thales, seus olhos queimando com uma intensidade perturbadora. — Essa história está muito mal contada, Thales, e não adianta ficarmos brigando por causa de luz e escuridão.
Thales permaneceu em silêncio, suas mãos se apertando levemente sobre a mesa. A confusão e a dúvida inundavam sua mente, mas ele sabia, no fundo, que Cristian estava certo. Algo estava profundamente errado, e os deuses... eles estavam jogando um jogo perigoso, um jogo que Thales mal começava a entender.
Cristian observava Thales com um olhar intenso, quase predatório. Havia uma escuridão em seus olhos que fazia Thales sentir um frio na espinha, mas ao mesmo tempo, ele não conseguia desviar o olhar. Cristian era magnético, e Thales sabia que, por mais que tentasse resistir, estava preso naquela atração inevitável.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Eclipse do Rei Sombrio / Vol 1
AbenteuerO Eclipse do Rei Sombrio Cristian, um jovem comum que trabalha como garçom em Belo Horizonte, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando um portal para outro mundo surge na estação de metrô, trazendo monstros e um misterioso sistema que transform...