CAPÍTULO 05

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Thales deixou o quarto de Cristian, permitindo que ele se arrumasse para ir ao hospital cuidar de seus ferimentos. Enquanto Cristian tomava banho, Thales foi até a cozinha para desabafar com Bárbara, sua irmã. Com um ar pesado, ele começou a contar sobre o beijo que tinha dado em Cristian na noite anterior, confessando que estava com medo do que aquilo significava para ambos. Bárbara, que o ouvia atentamente, notou a tensão na voz do irmão.

— Bárbara, estou preocupado. Não só com o que aconteceu ontem, mas com... com meu passado — disse Thales, hesitando, sem revelar a verdade completa.

Mas à medida que ele falava, a confusão nos olhos de Bárbara aumentava. As palavras de Thales pareciam desconexas, como se ele estivesse falando de algo que ela não conseguia compreender. Ele mencionava conhecer Cristian há muitos anos e insinuava que ele mesmo não pertencia àquele lugar.

— Thales, você não deve estar bem. Isso tudo não faz sentido — ela respondeu, tentando entender o que o irmão queria dizer. — Você bateu a cabeça em algum lugar? Está falando besteiras!

Thales riu, sabendo que suas preocupações eram difíceis de compartilhar completamente. Era como carregar um peso invisível que ninguém mais podia ver.

— Esquece o que eu disse, Bárbara. Só preciso de um remédio para dor de cabeça.

Bárbara pegou o remédio junto com um copo d'água e, com um tom brincalhão, entregou ao irmão.

— Está vendo? Sabia que sua cabeça estava ruim. Doido, doido! Como você iria conhecer o Cristian há anos se você é meu irmão e sempre esteve aqui?

Thales mordeu levemente os lábios, pensativo. Aquilo que Bárbara disse era algo que um deus poderia fazer facilmente, mas ele sabia que era melhor deixar essas questões quietas, pelo menos por enquanto.

Bárbara, por outro lado, ficou intrigada com toda aquela conversa. Algo não parecia certo, e ela estava determinada a descobrir mais. Em sua mente, as peças não se encaixavam, e isso só aumentava sua curiosidade. Ela decidiu que começaria a investigar a vida de Cristian, buscando respostas para as estranhas declarações de Thales.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo som da campainha. Cristian saiu do quarto, vestindo roupas limpas, pronto para enfrentar o dia. Quando Bárbara abriu a porta, ficou surpresa ao ver Carlos, o irmão de Cristian.

Cristian ficou chocado com a visita repentina de Carlos, e seu coração acelerou com a mistura de raiva e expectativa.

— Eu quero conversar a sós com Cristian — disse Carlos, sério.

Os dois subiram para o quarto de Cristian e se sentaram na cama. Cristian, ainda perturbado pelas recentes descobertas e conflitos internos, só pensava que seu irmão queria pedir mais dinheiro. "Eu só quero respostas", pensou Cristian.

Carlos respirou fundo antes de falar.

— Cristian, nosso pai quer falar com você. Mas não agora. Ele quer ver você quando estiver pronto, quando seus pecados forem revelados.

As palavras de Carlos fizeram algo estalar dentro de Cristian. Ele começou a sentir uma raiva crescente. Como assim, "pecados"? O que ele tinha feito de errado?

— Mas que merda é essa, Carlos? — Cristian explodiu, com os olhos cheios de lágrimas de raiva. — O sistema também fala desses malditos pecados. O que eu fiz? Eu sempre fui um bom filho, lutei pela nossa família, e o que eu recebo em troca? Nada além de desprezo!

Ele se levantou da cama, pegou o envelope de dinheiro que sua mãe lhe havia dado e o atirou contra Carlos.

— Leva essa porcaria também! Eu nunca pedi dinheiro, nunca pedi nada. Tudo o que eu queria era atenção, carinho, mas isso é pedir demais para vocês? Então some da minha vida!

Cristian não conseguia segurar as lágrimas. As palavras cruéis de sua mãe, o beijo de Thales, as mensagens enigmáticas do sistema, e agora a visita de Carlos com essa conversa de pecados... Tudo isso estava se acumulando, sufocando-o com um peso que parecia insuportável.

Thales e Bárbara entraram no quarto, alarmados pelo som da discussão. Carlos, já indo embora, se virou para Thales e disse:

— Cuide bem do Cristian. Você sabe que só você pode fazer isso.

Thales assentiu, mas quando tentou se aproximar de Cristian, ele gritou, desesperado:

— Eu só quero ficar sozinho! Eu não aguento mais, Thales!

Thales e Bárbara se entreolharam, preocupados. Eles sabiam que Cristian estava lutando contra algo muito maior do que qualquer um deles podia entender. Bárbara suspirou profundamente.

— Essas feridas físicas nem se comparam com as do coração dele. Thales, dê espaço para ele. Uma hora ele vai te procurar.

Thales, com o coração apertado, esperava que ela estivesse certa. Do lado de fora do quarto, ele se sentia impotente, desejando poder fazer mais por Cristian, mas sabendo que, por enquanto, tudo o que podia fazer era esperar.

Dentro do quarto, Cristian sentiu como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. As dúvidas sobre sua própria origem, as palavras de Carlos, o beijo de Thales... Era tudo demais para ele processar. Enquanto se jogava na cama, exausto, ele mal podia imaginar o que o futuro ainda lhe reservava.

O Eclipse do Rei Sombrio / Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora