Chapter one

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Pietra POV

Aquela havia sido a última folga que minha irmã teria antes dos Jogos Olímpicos começarem, que seriam em exatos dois dias. Então eu, Rosamaria e Cristal resolvemos ir a uma cafeteria perto da vila olímpica para aproveitar uma tarde tranquila antes da loucura começar. A cafeteria tinha um ambiente acolhedor, com grandes janelas que permitiam ver a movimentação da vila.
Sentamos em uma mesa perto da janela, permitindo que o sol da tarde iluminasse nosso encontro.

— Eu nem acredito que finalmente chegou o momento. – Dava pra notar a felicidade de Rosamaria – Eu esperei tanto por essas olimpíadas e amanhã começa tudo. É tão bom saber que tenho vocês aqui comigo.

— E não poderíamos estar em outro lugar, amor - respondeu Cristal, segurando a mão de Rosamaria com um sorriso amoroso. — Vai ser incrível ver você em ação, e estamos aqui para te apoiar a cada passo.

Eu observava a cena com um sorriso no rosto, tentando esconder a ansiedade que sentia por dentro. A presença de Cristal ao lado de Rosamaria era evidente, e eu sentia uma mistura de emoções ao ver como elas estavam felizes juntas.

— Pietra, você está bem? - perguntou Rosamaria, notando que eu parecia um pouco distante. — Está tão quieta hoje.

— Ah, sim. Só estava pensando em como o tempo passou rápido - menti, tentando manter a conversa leve.

— Eu te conheço a 16 anos, Pi, eu sei quando você está mentindo. – Lembrou a minha irmã

— Não é nada demais, sério – insisti, forçando um sorriso. — Só estou um pouco nervosa com tudo isso. Ver você competindo nas Olimpíadas, estar aqui em Paris... é muita coisa para processar.

Rosamaria me olhou com carinho, como só uma irmã mais velha poderia fazer, e Cristal me lançou um olhar compreensivo, como se soubesse que havia mais em jogo do que eu estava admitindo.

— Você tem certeza que não é por ela? – Cristal questionou. – Lembro de quando você nos contou a promessa que fez a ela.

Eu senti meu coração acelerar ao ouvir a menção de Cristal. Era difícil esconder qualquer coisa delas, especialmente algo que ainda me afetava tanto. A lembrança daquela promessa e de tudo o que significava para mim voltou com força total. Eu havia dito a mim mesma que não deixaria essas emoções interferirem nos momentos que eu deveria estar aproveitando ao lado de Rosamaria, mas era impossível ignorar o peso que aquilo tinha sobre mim.

— Não é nada que eu não possa lidar – respondi, tentando manter a calma na voz. — Ela é parte do meu passado, e eu estou aqui para focar no presente. Quero apoiar você, Rosa, e não deixar nada atrapalhar isso.

Rosamaria me encarou por um longo momento, como se estivesse tentando ler todos os pensamentos que eu estava escondendo. Finalmente, ela assentiu, respeitando o que eu havia dito, mesmo que soubesse que não era toda a verdade.

— Só não esquece que a gente está aqui para você, Pi – ela disse suavemente. — Se precisar falar, a qualquer hora, estamos aqui.

Cristal concordou, apertando a mão da minha irmã com firmeza. Eu sabia que o apoio delas era genuíno, mas também sabia que algumas coisas eu precisava resolver por conta própria.

— Eu sei, e agradeço por isso – falei, tentando transmitir toda a gratidão que sentia. — Agora, vamos mudar de assunto, que eu quero saber quais são as expectativas para o jogo de abertura!

Rosamaria e Cristal riram, aliviadas com a mudança de clima. A conversa rapidamente se voltou para as estratégias e preparativos do time para os Jogos, enquanto eu tentava, com todas as forças, manter minha mente presente ali, com elas, naquele momento. Mas, no fundo, sabia que não poderia evitar para sempre os sentimentos que me atormentavam.

Enquanto elas discutiam os detalhes do jogo de abertura, eu percebi que minha mente estava vagando novamente. A presença de Cristal e Rosamaria ao meu lado era reconfortante, mas também me fazia sentir como se eu fosse uma intrusa no momento delas. De qualquer forma, eu sentia que precisava de um tempo para mim mesma.

— Vocês se importam se eu der uma volta? – perguntei, interrompendo a conversa delas. — Só quero me distrair um pouco, esticar as pernas.

Rosamaria e Cristal se entreolharam por um momento antes de assentirem.

— Claro, Pi. Vai lá – disse Rosamaria com um sorriso acolhedor. — Mas não demora muito, tá? Quero passar o máximo de tempo possível com você antes que as coisas fiquem corridas.

— Não se preocupe, não vou demorar – prometi, levantando-me da mesa.

Elas continuaram a conversar enquanto eu me afastava, sentindo uma leve culpa por deixá-las, mas sabendo que precisava daquele momento para mim mesma. Saí da cafeteria e comecei a andar pelas ruas de Paris, sem um destino específico em mente. O ar fresco e o movimento constante da cidade eram exatamente o que eu precisava para tentar organizar meus pensamentos.

Conforme andava, passei por algumas lojas e cafés, observando as pessoas que pareciam tão despreocupadas e felizes. Eu estava tentando me perder no fluxo da cidade, absorvendo a energia vibrante que Paris irradiava, mas minha mente insistia em voltar para aquela promessa. Me perdi nos pensamentos enquanto caminhava pelas ruas cheias de turistas e moradores. De repente, senti um impacto repentino. Meus ombros colidiram com alguém e eu tropecei para trás, quase perdendo o equilíbrio.

— Desculpa! — Exclamei automaticamente, recuperando o equilíbrio e olhando para ver quem havia esbarrado em mim.

Uma garota, aparentemente da minha idade, estava ali parada, parecendo tão surpresa quanto eu. Ela era morena, tinha sardas e um estilo despojado, usando roupas que gritavam atitude. Havia algo em seu olhar, uma mistura de curiosidade e descontração, que me fez parar por um instante.

— Foi mal, eu não te vi — ela disse, com um leve sotaque americano, esboçando um sorriso meio culpado.

— Não, a culpa foi minha, eu estava distraída... — Respondi, me sentindo estranhamente nervosa. — Eu sou... — Comecei a me apresentar por reflexo, mas ela me interrompeu.

— Sem problemas — ela deu de ombros, como se aquilo realmente não fosse grande coisa. — Eu sou Paige, aliás. Você é daqui? — perguntou de repente, como se estivesse tentando puxar uma conversa para quebrar o gelo.

— Não, só estou visitando — respondi, tentando manter a compostura. — Meu nome é Pietra.

Paige fez um gesto de cabeça como se o nome não fosse estranho, mas também não reconheceu de imediato. Isso me aliviou de certa forma; eu não estava em Paris para ser reconhecida por ninguém.

— Legal. Eu tô meio que perdida, na verdade — ela riu, e sua expressão despretensiosa me fez sentir um pouco mais à vontade. — Quer dizer, eu sei onde estou, só não sei o que vou fazer agora. Só estava andando por aí, tentando matar o tempo.

Eu sorri, entendendo o sentimento. Era exatamente o que eu estava fazendo também.

— Acho que estamos na mesma. Estava com minha irmã e a namorada dela, mas precisava de um tempo para mim. Então, decidi explorar um pouco.

— Parece uma boa ideia. Tá afim de andar mais um pouco? — Paige perguntou, um sorriso brincando nos lábios.

Eu hesitei por um segundo. Não fazia ideia de quem ela era, e o jeito descontraído com que se aproximava de mim era... novo. Mas talvez fosse isso que eu precisava naquele momento — uma distração que não envolvesse promessas quebradas ou lembranças do passado.

— Claro, por que não? — Respondi, finalmente.

Assim, começamos a andar lado a lado pelas ruas de Paris, duas desconhecidas tentando fugir de seus próprios pensamentos, mas talvez, ao mesmo tempo, se encontrando na companhia uma da outra.

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𝙉𝙤𝙫𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙣𝙘𝙚 - Rayssa LealOnde histórias criam vida. Descubra agora