20h17
Além dos Curandeiros que lhe trouxeram poções e comida e o importunaram até que ele os expulsasse, Severus não teve outros visitantes pelo resto do dia. Ele ficou bastante satisfeito com isso. Embora ele nunca fosse de ficar ocioso, ir ao banheiro ou às cadeiras espalhadas ao lado das janelas o deixava exausto. Mesmo que tivesse forças para sair, ele não sabia para onde iria. Ele ficou muito feliz em deixar Spinner's End e nunca mais quis voltar para lá, nem mesmo para coletar seus livros favoritos. Alguém lhe dera uma cópia de O Livro Oxford de Versos em Inglês, provavelmente depois de encontrá-lo em Spinner's End, e ele passava horas lendo quando não estava cochilando para recuperar suas forças.
Paz, é claro, nunca poderia durar e após o pôr do sol, Potter retornou. Severus esperava que ele o fizesse. Grifinórios frequentemente se sentiam compelidos a exibir sua bravura como se fosse uma característica da qual alguém deveria se orgulhar. Uma única onda de palavras duras não seria o suficiente para deter Potter. Severus teria que martelar sua antipatia na cabeça dura do pirralho para que nem ele tivesse ilusões sobre a natureza do relacionamento deles.
Potter estava parado na porta, segurando um objeto retangular contra o peito. Ele sorriu como se tivesse perdoado Severus pelas palavras de antes. Severus esperava que não tivesse.
— Saia — ele rosnou.
O sorriso vacilou, mas depois se alargou ainda mais.
— Os Curandeiros me disseram que a medicação às vezes faz você dizer e fazer coisas que você realmente não quer dizer.
— Falei sério em cada palavra. Não estou tomando a medicação deles. — Na verdade, ele não estava. Ele usava a palma da mão para encorajá-los e fazê-los ir embora, mas só bebia alguns frascos da coleção que Poppy havia lhe dado. Ele sabia que não precisava mais proteger sua mente como antes, mas havia certos hábitos que ele não conseguia abandonar e duvidava que algum dia conseguiria. Sua aversão a drogas que alteravam as percepções mentais além do seu controle o incomodava demais para que ele bebesse mais do que já havia bebido.
— Eu trouxe algo para você — disse Potter. Ele andou até a cama e estendeu o objeto para Severus. Era um livro grande e pesado, embrulhado em um pano preto grosso. — Estava vazando — ele disse. — Não é minha culpa! — ele acrescentou quando Severus olhou para ele. — Estava vazando quando eu o peguei!
Severus olhou fixamente para o livro. O cheiro de água do mar emanava do tomo e ele tinha uma ideia muito boa de qual livro estava sob o pano; era um que ele desejava há algum tempo. Mas não, ele não seria comprado. Não por Potter. Ele tinha seu orgulho e havia certas coisas que ele não faria – nem mesmo pelo livro dos seus sonhos. Ele cruzou os braços.
— Potter — ele começou em um tom profundo e descontente.
Potter largou o livro na cama e levantou as mãos em um gesto de rendição.
— Eu entendo. Você quer ficar sozinho. Estou indo embora. — Ele se virou e foi em direção à porta. Lá ele parou, sua mão na maçaneta, seus olhos vívidos brilhantes e disse: — Mesmo que seus sentimentos tenham mudado, os meus não mudaram.
Severus rosnou e lançou um feitiço voando atrás de Potter, mas ele atingiu o batente da porta em vez das costas dele. A doença havia retardado seus reflexos.
Ele esperava que Potter fosse irracionalmente sentimental, mas isso era intolerável. Ele havia trabalhado tanto para cultivar anos de ódio do garoto, apenas para ter seus esforços completamente destruídos em uma manhã. Agora eles aparentemente o consideravam uma espécie de herói, um membro da família até. Era intolerável!
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Anachronism | Snarry
FanfictionAo acordar, Severus se vê não se recuperando da mordida de Nagini, mas se curando de uma doença misteriosa de longa duração. Ele não só precisa descobrir o mistério da causa de sua aflição, mas também lidar com seu amante, que é a última pessoa que...