CAPÍTULO 13 - FAMÍLIA

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P.V : GABRIELA ALUCARD

Afastar-me da minha família foi uma consequência natural das escolhas que fiz. Desde que assumi o controle das grandes coisas em minha vida, a distância tornou-se uma barreira confortável. Sabíamos pouco uns dos outros, mantendo um relacionamento superficial, como se estivéssemos em universos paralelos, ligados apenas por um fio tênue de sangue. Receber notícias deles era raro, e quando acontecia, era através de canais impessoais, distantes. Até que, um dia, o nome "Eliane" apareceu na tela do meu celular - uma tia da qual eu mal lembrava.

O brilho daquele nome já indicava algo. Pessoas da minha família não me ligavam, a menos que fosse algo grave, e essa certeza se confirmou no instante em que atendi. Sua voz era uma mistura de formalidade e pesar, como se estivéssemos prestes a tratar de um assunto puramente administrativo.

- Seu pai... partiu.

Por mais distante que eu estivesse, pai é pai. Senti o impacto em meu peito como uma pedra que afunda nas profundezas de um lago escuro. O silêncio me dominou, e, pela primeira vez em muito tempo, permiti que as lágrimas rolassem livremente pelo meu rosto. Não havia vergonha, apenas uma crua realidade que me despia de qualquer armadura. Meus parceiros, acostumados com a minha frieza, me observaram em silêncio. Eles sabiam o quanto eu podia ser dura, mas, naquele momento, a dor era palpável demais para ser disfarçada.

Desliguei o telefone, e um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. "Quem ficará com o dinheiro do meu pai?" "Quem assumirá a empresa?" Esses pensamentos, frios e calculistas, surgiram imediatamente após a dor, como uma defesa automática. Eu sabia que esse momento chegaria, e agora, a partida de meu pai deixava um vácuo de poder que eu teria que enfrentar.

Gaspar, sempre atento, já havia comunicado a notícia aos membros da máfia. Em sinal de respeito, eles se posicionaram ao longo do corredor que levava ao meu escritório, segurando rosas vermelhas como um símbolo silencioso da nossa lealdade. Caminhei por aquele corredor de pétalas com uma calma fria, enquanto Amber e Lina se aproximavam para prestar solidariedade. O ambiente estava carregado, não só pela morte, mas pelo que ela representava.

- Gaspar, peça ao Diego que vá também - murmurei, ainda tentando assimilar tudo. Ele acenou e se afastou para fazer o contato, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

- Situação difícil, hein? - tentei disfarçar a angústia ao olhar para Amber e Lina. Mas era óbvio que todos podiam ver que algo em mim havia mudado.

Amber se aproximou, sua mão tocando levemente meu ombro. - Precisamos ir agora. Nosso voo está pronto.

O silêncio nos envolveu enquanto embarcávamos. Cada um imerso em seus próprios pensamentos, mas todos cientes de que estávamos entrando em território desconhecido.

Durante o voo, o som súbito do meu celular quebrou o silêncio. O número que apareceu na tela era inesperado, e meu coração acelerou ao reconhecê-lo.

- Querida irmã, estamos aguardando sua chegada - a voz do meu irmão ecoou pelo telefone, seu tom carregado de ironia e desafio. Ele estava esperando por mim, ansioso para ver como tudo se desenrolaria.

- Oi, querido - respondi, minha voz assumindo o mesmo tom gelado e controlado. - Já estou a caminho... me espere.

A ligação se encerrou abruptamente. Por mais que ele tentasse intimidar, eu não seria derrubada. Não agora. O poder ainda estava ao meu alcance, e essa era uma batalha que ele não estava preparado para vencer.

Após horas de voo, finalmente pousamos em terras portuguesas. As memórias vieram à tona junto com o aroma do ar salgado. Sabia que esse era apenas o início de algo muito maior. Saí do avião, sentindo o peso das próximas decisões recaindo sobre mim, e me preparei para o que estava por vir.

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