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    𝕆 som das folhas das árvores balançando quando o vento sopra soa nos meus ouvidos, abafando as vozes dos passos por perto e as rodas das carruagens que arrastam pela rua ao fundo.

A luz do sol reflete o verde do gramado, dançando como as folhas e flores ao vento. Meus cabelos se juntam a eles, cada fio negro não reflete um feixe de luz.

Diferentemente dos fios lisos, minha pele esbranquiçada sente o sol pouco morno coberto e descoberto pelas nuvens que circulam.

A calma, a paz, o silêncio, coincidentemente as exatas mesmas sensações antes daquele fatídico dia. Se pudesse me esquecer já o teria feito há tempos.

Assim como as nuvens, meus pensamentos esvaem e volto a focar no presente.

O parque de Astoria não é o lugar mais silencioso, mas é o que basta para fugir da rotina.

Não tenho saído muito do palácio ultimamente, prefiro usar o tempo livre para estudar magia.

Esfrego os olhos, lembrando das noites que passei em claro para aprender um único feitiço.

Os que estudei recentemente são complexos e preciso resfriar a cabeça ocasionalmente.

Fecho meu livro de magia e o ponho em cima do banco do qual me levanto.

Sinto a grama tocando meus pés. O contato com a natureza é calmante, mas não faz com que eu pare de praticar.

Gesticulo com as mãos sobre a grama.

Sinto-a crescer, roçando nas minhas calças, até os joelhos. Há gramado alto até onde posso ver.

Os poucos que passeiam pelo parque, olham para o chão confusos, porém, não surpresos.

Duas crianças ao lado, abaixando-se no gramado, murmuram sobre procurar algo.

Faço um movimento de mão por cima do gramado que se transforma em pétalas de flores voando sobre o parque, voltando a grama ao seu tamanho original.

Olho para o chão e encontro uma bola, e novamente para as duas crianças, agora admiradas com as pétalas brancas.

 — Isto aqui é de vocês? — Pergunto com um sorriso.

Uma garotinha dos cabelos castanhos e amarrados, as orelhas pontiagudas a mostra, pega a bola enquanto olha para mim entusiasmada.

— Como você fez aquilo, moço?

Dando de ombros, começo a rir.

O rosto inocente daquelas crianças me faz lembrar de quando aprendi esse truque. Não é grande coisa, mas me diverte praticar feitiços simples e básicos, o que certamente seria criticado por fazer no palácio.

Passo minhas mãos nas cabeças das crianças e ando até a saída do parque, esticando o braço até o livro no banco ao longe, ele some e reaparece com um breve brilho na minha mão.

Atravesso a rua, ouvindo o barulho das rodas de carruagens encantadas, ficando mais fraco a medida que saem do chão, voando. As altas construções reluzem por toda cidade. Vejo um grupo de estudantes uniformizados entrando por portões de ferro em uma construção larga e cilíndrica. Torres altas, as gigantes janelas saltando para fora, colunas ornamentadas em frente à entrada. 

Uma escola. Não apenas isto, mas uma das melhores escolas de magia da capital de Ahasallia. Me recordo brevemente de alguém que não vejo há um tempo naquele lugar.

Mesmo sendo ensinado no palácio, reconheço o potencial dos alunos de longe. Afinal, eles têm algo que eu apenas sonho em ter.

Olho para o alto da escola. No terceiro andar, uma das janelas é aberta. Um aluno se aproxima e pula do alto sem hesitar.

A Queda de AhasaliaOnde histórias criam vida. Descubra agora