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ℙelo conjunto de vozes que vão e vem, o ambiente iluminado que enxergo por baixo das pálpebras e o odor misturado de frutas e carnes de animais e outras coisas, imagino onde estamos.

Kanobie desamarra a venda que tinha me botado para não adivinhar a localização daquela casa. Durante todo o percurso me mantive alerta. Não vou me deixar confiar totalmente nele.

A luz forte entra nos meus olhos, me obrigando a apertá-los.
Pisco, me acostumando aos arredores ensolarados. Uma janela aberta abaixo de roupas em um varal ao longe é a primeira coisa que vejo.

Recuo torcendo o nariz, seguindo a olhar para o ruivo hediondo. Não apenas por ser ele, mas por sua aparência mal cuidada: olheiras notáveis, cabelos desarrumados, lama na túnica e nas calças escuras. Em suas mãos, a mesma máscara de raposa.

Em contraste com a casa mal iluminada, o sol de Sohalia brilha no interior da cidade. Porém, nunca estive nesta parte.

Observo o arredor. Estamos em um beco vazio entre duas paredes de tijolos. Uma carroça com feno e um cavalo com uma sela são os únicos conosco.

Olho para o kohan, desconfiado. Pergunto-me se conseguiria correr com essa roupa caso isso tudo seja uma armadilha.

Ele tinha me obrigado a vestir uma túnica azul velha e pesada - quase cinza pelo desbotar - para evitar ser reconhecido. Como se eu quisesse ser reconhecido nestas circunstâncias.

- Mostre. - Exijo firmemente, sem encará-lo. Ele estala a língua.

- Você é muito apressado. - balança a cabeça. - A feira está cheia hoje, consegue ouvir? - aponta para o fim do beco.

Em um longo suspiro, seguro o dorso do nariz.

- Você sabe o que estamos procurando. - Tento soar ameaçador. Embora não pareça possuir nada, ainda carrego o caco de vidro dentro das roupas, em um lugar seguro entre os tecidos. - Onde, na cidade, ele está?

Ele faz uma cara de tédio, se afastando enquanto cobre a parte de trás da cabeça com a máscara e veste o capuz, como que tentando escondê-la. Dou um grunhido, cerrando os punhos, sabendo que me irritar não adiantaria de nada.

- Vai descobrir. - Ele se virou de costas e andou em direção até a feira.

O sigo como seguiria um destino trágico que estaria a minha espera. Consigo sentir levemente a ponta do vidro em minha pele, uma confirmação de que ainda está aqui, de que não estou despreparado.

Começo a esbarrar na multidão, que se concentra perto de lojas e tendas de mercadorias espalhadas por toda parte.

Procuro pelo assassino que veste o capuz, dificultando mais ainda o meu discernimento dos outros camponeses. Odeio o fato de que sabe que não fujo sem o que vim buscar primeiro.

Resmungo quando não o vejo mais. Seria tão mais fácil se pudesse apenas sobrevoar todos, tudo, penso.

Empurro levemente as pessoas que passam diante da minha visão, pedindo um breve e seco "com licença" a cada movimento. Os corpos esbarram no caco de vidro que espeta mais ainda minha pele. Tento parecer não estar incomodado.

Passando pelo corredor apertado e abafado de pele e roupas, sinto um aroma agradável de comida. A minha fome dispara e sigo o cheiro.

Reparo na tenda de legumes tostados espetados em palitos à minha frente. O vendedor veste um avental manchado, as golas dobradas revelam os braços peludos.

O homem está de costas, ocupado com a cozinha; os alimentos soltam fumaça, estendidos em uma bandeja e uma placa de madeira à frente indica o preço, os garranchos escritos com tinta branca.

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⏰ Última atualização: Nov 20 ⏰

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A Queda de AhasaliaOnde histórias criam vida. Descubra agora