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  𝕆 chacoalhar se suaviza a medida que a carruagem mágica levanta voo. Bom, penso que ahallies também precisem descansar as asas como descansam as pernas.

Um breve frio na barriga me vem.

Olho pela janela. Astoria é gigantesca e brilhante. Ainda assim, gostaria de não precisar de uma carruagem para ter essa visão.

Não carrego armas, não preciso delas. Tudo o que possuo é meu livro de magia e, no colete azul do uniforme, um broche dourado menor do que a palma de minha mão decorado com um cristal azul-escuro quase do mesmo tamanho, no centro. A ganhei quando estudava em uma escola de magia iniciante, isso quando meus pais estavam vivos.

É irônico pensar que, apesar de vivermos praticamente o dobro que os humanos vivem, eles foram assassinados tão jovens.

Fecho os olhos me esforçando para lembrar de seus rostos, em vão.

Mamãe costumava ter uma voz doce e melódica. Cantava canções que me lembro apenas de gostar de ouvir. Uma delas poderia me acalmar em uma hora como essas.

O interior da carruagem é preenchido por dois assentos de veludo vinho, o mesmo que o teto poucos centímetros acima de nossas cabeças. Apesar de que acho os guardas a minha frente mais altos devido a seus capacetes de ferro, deixando apenas as orelhas pontiagudas para fora, assim como as minhas com o rabo de cavalo.

Suas feições são impassíveis encarando o nada. Em seus ombros, é possível ver seus músculos por debaixo dos uniformes pretos. Admito, são bem grandes.

Passo, discretamente, as mãos por meus braços.

Não surpreendentemente, não há nada além de uma pele magra e lisa. O treinamento que recebi claramente não foi o suficiente.

Suspiro fundo e cruzo os braços. Olho para o lado de fora.

Ao invés de construções altas, douradas e luxuosas, são casas pequenas. A maioria de madeira ou tijolos, pouquíssimos humanos andando de um lado para o outro, depressa. Tudo tão… familiar.

Sinto o frio na barriga novamente, dessa vez pelo nervosismo, ao descermos.

Um novo chacoalhar começa e logo é interrompido. Os guardas abrem a porta. Inspiro antes de descer.

Nunca me imaginei voltando para este lugar. Para Sohalia. E para quando tudo aconteceu.

Casas menores do que as de Astoria, porém ainda grandes, estão por toda a cidade. Geralmente compostas por dois andares.

Olho ao redor, reconhecendo os lugares familiares.

A biblioteca, a praça, a escola e...

Percebo, ao longe está o lugar onde tudo começou.

Balanço a cabeça, focando novamente.

Nesse instante, não me importa se a cidade é menor do que Astoria. É onde eu cresci. Embora agora esteja quase completamente vazia, provavelmente devido aos desaparecimentos.

Os guardas me acompanham até o local de investigação, passando por lugares conhecidos até chegamos mais e mais perto de uma casa bem maior e mais antiga que as demais. Muros de tijolos rodeiam a construção, o gramado alto e seco é visto através do portão de ferro enferrujado. Ergo a cabeça. Algumas das janelas do andar de cima parecem quebradas.

Meu olhar é hesitante diante do orfanato, agora abandonado. O lugar me traz muitas lembranças boas e ruins. Em sua maioria, não foram experiências agradáveis.

Minha atenção se volta para uma das janelas dos quartos. Interrompo a caminhada, os olhos arregalados.

Uma sombra se move em meio àquela escuridão. Aperto meus olhos na tentativa de ter certeza do que é. Tenho a leve impressão de ter visto uma silhueta se formando quando um dos guardas chama minha atenção para o que estamos, de fato, fazendo nesse lugar.

A Queda de AhasaliaOnde histórias criam vida. Descubra agora