Sorrisos

392 69 72
                                    

º Visão de F. Knox º

– Espaireceu?! – meu pai pergunta, dando um salto de sua poltrona, assim que coloco os pés dentro de casa. 

– Certamente. – é o que respondo e ele vem até mim, me segurando pela jaqueta. 

Coisas como essa não me assustavam nem um pouco, já que eu morava na minha mente. Ninguém nunca conseguiria alcançar nem 1% da forma cruel como eu me tratava constantemente. Era engraçado ver como algumas pessoas tentavam... pro Tyler eu sorri, pro meu pai não dava pra ser tão desleixado com as minhas expressões, porque ele tinha arma constantemente carregada dentro de casa e uma paciência menor que as balas. Permanecer sério, no entanto, não queria dizer que eu tinha medo dele. 

Tinha saído de casa depois da conversa com meu irmão, com a finalidade de respeitar nosso parentesco e não descontar nele a raiva que tinha sentido ao me sentir traído. Claro que não faço nada esperando algo em troca, mas o mínimo que achei que poderia contar depois de salvar sua vida era a mínima gratidão dele. Em contrapartida, pra ele o mais importante era a visão inocente que meu pai nutria sobre o filho mais novo. 

– Que bom, porque recebi uma ligação do assessor do governador, informando que o meu filho se envolveu em um problema dentro da porra da casa do cara. – ele diz, gritando na minha cara. – Você é um mimado! Não consigo entender como não consegue pisar na porra da linha uma única vez na sua vida! Só tem um trabalho, ficar imperceptível! 

Fico em absoluto silêncio, enquanto ele grita comigo. No canto da sala, próximo ao portal, vejo Yohan assistir tudo, como se não fosse o principal motivo de toda aquela situação. De qualquer forma, pra mim, era melhor estar levando bronca com ele aqui e bem, do que ter perdido ele aquele dia e ter que lidar com mais uma pessoa depressiva. Eu, provavelmente, não suportaria viver aquela vida novamente. 

– Tudo bem. Pode me castigar como quiser. – é a única coisa que digo e ele me solta. 

– Não vai se defender? – meu pai pergunta. 

A realidade é que eu estava cansado, paralisado, não tinha mais forças para falar minha verdade. Quem quisesse saber, tudo bem, quem não quisesse, tudo bem também. Não sabia como era não ser o saco de pancada e frustração de alguém. 

– Não. Ele vai me denunciar? – pergunto. 

– Não só isso, ele vai solicitar que revoguem sua liberdade. Vai alegar que é descontrolado, que não pode viver em sociedade. Se você convencer um psicólogo que não está em faculdades mentais saudáveis, quem sabe consiga sair de novo, mas ele é a porra do governador. – é o que meu pai responde e eu concordo com a cabeça. – Dê adeus ao seu sonho de jogar. – o encaro por alguns segundos, descendo meu olhar até meu irmão. 

Meu pai se vira e percebe que eu estava olhando para Yohan, me soltando. Ele me observa novamente, parecia querer entender o que estava acontecendo nas entrelinhas.

– É uma pena. – é o que falo e ele cerra os punhos. 

– Eu não aguento mais! – grita, mas antes que possa se mover, seu celular começa a tocar. – Já volto. – se distancia. 

Yohan começa a andar em passos tímidos em minha direção. Parecia um cachorro com as orelhas baixas e o rabo entre as patas. Eu não sabia como reagir com aquele comportamento de quem sabia que estava me prejudicando, mas não conseguia admitir os próprios atos. Era a situação mais patética em que eu já tinha estado – e olha que eu já estive em muitas.

– Eu... – antes que ele fale qualquer coisa, eu o interrompo. 

– Esquece isso, você tá certo. – é o que digo. – Pelo menos um de nós tem que dar o mínimo de felicidade pro nosso pai. Ele tem que acreditar que acertou na sua criação, né? Já que eu só dou decepção. 

ELO - (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora