Capítulo 4 - Pôr do sol

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WELLS
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Wells sentiu o frio cortante da tarde. O ar esfriara consideravelmente nas poucas horas desde que haviam pousado. Aproximou-se da fogueira, ignorando os olhares hostis dos dois rapazes arcadianos ao seu redor. Durante todas as noites no Confinamento, ele adormecia sonhando com a chegada à Terra ao lado de Clarke. Mas, em vez de estar ao lado dela, maravilhado com o planeta, passou o dia organizando os suprimentos queimados e tentando esquecer a expressão de ódio no rosto dela ao vê-lo. Ele não esperava um abraço, mas não estava preparado para o desprezo em seus olhos.

— Acha que seu pai já morreu? — perguntou um garoto de Walden, um pouco mais novo que Wells, enquanto os outros riam.

O peito de Wells apertou, mas ele manteve a calma. Podia lidar com um ou dois delinquentes sem problema; afinal, fora campeão de combate corpo a corpo durante o treinamento para oficial. Porém, era apenas um contra noventa e cinco - noventa e seis, se contasse Clarke, que provavelmente o odiava mais que qualquer um naquele momento.

Quando foram levados ao módulo de transporte, Wells ficou chocado ao não ver Glass. Apesar dos esforços para descobrir, nunca soube por que Glass fora Confinada, pouco depois de Clarke. Ele esperava que ela tivesse sido perdoada, mas era mais provável que ainda estivesse no Confinamento, aguardando seu aniversário de 18 anos. Pensar nisso lhe revirava o estômago.

— Será que o Chanceler Júnior acha que pode pegar toda a comida? — provocou um arcadiano, seus bolsos cheios de embalagens de nutrientes roubadas após a queda.

Pelos cálculos de Wells, tinham menos de um mês de comida. Ela desapareceria rapidamente se continuassem a embolsar tudo. Certamente, havia mais um container escondido entre os destroços.

— Ou talvez ele espere que arrumemos a cama para ele — zombou uma menina com uma cicatriz na testa.

Ignorando-os, Wells ergueu os olhos para o céu. A cor azul era impressionante, mais vívida do que ele jamais imaginara, mesmo vendo fotos. Parecia estranho que aquele cobertor azul, composto apenas de cristais de nitrogênio e luz refratada, os separasse do mar de estrelas e do único mundo que conheciam. Wells sentiu uma pontada no peito pelos três que não sobreviveram para ver aquilo. Seus corpos ainda estavam perto do módulo.

— Cama? — murmurou um garoto. — Onde vamos encontrar uma cama aqui?

— Então onde diabos vamos dormir? — perguntou a garota da cicatriz, observando a clareira como se esperasse que surgisse um alojamento.

Wells limpou a garganta:

— Trouxemos barracas. Precisamos organizar os containers e juntar as peças. Devemos enviar batedores para procurar água e decidir onde acampar.

A garota olhou para os outros com desdém.

— Parece ótimo — disse ela, provocando mais risos.

Wells manteve a calma:

— Se estivermos perto de água, será mais fácil...

— Ah, sim — interrompeu uma voz grave. — Cheguei bem a tempo da aula.

Murphy, um rapaz de Phoenix como Wells e Clarke, mas que parecia comandar o respeito dos waldenitas e arcadianos, aproximou-se com um brilho hostil no olhar.

— Não estava dando uma aula, só tentando manter todos vivos — respondeu Wells.

— Interessante, considerando que seu pai continua condenando nossos amigos à morte — retrucou Murphy, com um sorriso ameaçador. — Mas sabemos que está do nosso lado, certo?

THE 100 ᵇᵉˡˡᵃʳᵏᵉOnde histórias criam vida. Descubra agora