Capítulo 45 - Aceitação

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BELLAMY
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Bellamy nunca fora do tipo que conseguia ficar parado, sem ter algo para fazer. Sentia-se inútil, incompetente. Ele estava acostumado a lutar por tudo que precisava— comida, segurança, proteger sua irmã e, muitas vezes, a própria vida. Depender de outras pessoas o deixava à beira da loucura. Ainda assim, essa mesma impulsividade tinha sido o motivo que o colocou nessa enrascada desde o início.

Se não tivesse se apressado para entrar no módulo de transporte junto com Octavia, o Chanceler — que também era seu pai — nunca teria sido atingido. E, algumas semanas depois, Bellamy poderia ter descido com a segunda leva de Colonos, como cidadão livre e não como prisioneiro.

Agora, ele estava sentado em um banco de madeira em um gramado no centro da pequena vila de Sasha e Max, observando o movimento ao redor. Um grupo de crianças, com idades que mal chegavam à dele, passava apressado a caminho da escola. Ele viu três garotos se empurrando, os ombros se chocando num tom evidente de provocação. Um deles saiu correndo, seguido pelos outros dois que riam alto. Um pouco mais à frente, um casal de adolescentes se despedia com um sorriso tímido e um beijo discreto.

Bellamy não tinha como saber que a Colônia estava ficando sem oxigênio e que uma evacuação de emergência se tornaria necessária em poucas semanas. Obviamente, um garoto qualquer de 19 anos vindo de Walden não seria a primeira escolha para um lugar no módulo de transporte. Forçar sua ida à Terra tinha sido a decisão certa. Graças a isso, ele pôde ficar de olho em Octavia. Além disso, conhecera alguém especial: uma garota forte e intimidante de tão inteligente, que o deixava com um sorriso bobo no rosto ao fim de cada dia. Claro, isso quando ela não o deixava louco.

Ele ergueu a cabeça, procurando Clarke. Ela havia sido chamada para examinar o braço quebrado de um menino. Em outras circunstâncias, permanecer nessa vila não seria tão ruim. Era um lugar ordenado, mas sem perder a simplicidade. Todos tinham um teto sobre a cabeça, comida suficiente e, o melhor, não havia guardas controlando cada movimento das pessoas. O pai de Sasha parecia estar no comando, mas era diferente de Rhodes, ou até mesmo do Chanceler. Ele escutava seus conselheiros, e as decisões mais importantes eram postas em votação. Outro bônus era que ninguém ali achava estranho ele ter uma irmã—na verdade, todos tinham vários irmãos.

Ainda assim, toda essa tranquilidade parecia carregada de uma tensão iminente. E se Rhodes viesse atrás deles? E se, sem querer, Bellamy transformasse essa vila pacífica em um campo de batalha? Ele nunca se perdoaria se alguém se machucasse por sua causa.

Sentado no banco, Bellamy balançava as pernas inquieto. Seu estômago estava embrulhado desde que chegaram, três dias atrás. Ele não sabia o que fazer. Mas Sasha e seu povo queriam que ele ficasse. Queriam protegê-lo. Não era tão ruim assim, afinal, estar em um lugar com um telhado de verdade e comida que não precisava caçar e preparar sozinho. Ele não podia negar que, no fundo, um pequeno pedaço de si desejava uma vida simples assim. Queria que Rhodes o esquecesse, que seu passado desaparecesse, e que sua vida se tornasse tão tranquila quanto a dessas crianças que passavam por ali.

Ele olhou para a linha de árvores que circundava o vilarejo, atento a qualquer movimento suspeito. Nada. Bellamy mal conseguira dormir desde que chegaram. Estava ocupado demais ouvindo o silêncio da noite, esperando por passos, pelo farfalhar das folhas—qualquer som que indicasse que eles estavam prestes a ser atacados, ou que ele seria capturado.

Não dava para viver desse jeito. A expectativa e o temor estavam devorando-o por dentro. Mesmo o vilarejo começava a parecer uma prisão. Desde que desceu à Terra, Bellamy se acostumou a passar horas na floresta, sozinho. Ficar confinado ali era melhor do que estar preso em uma nave, mas ainda assim o sufocava.

THE 100 ᵇᵉˡˡᵃʳᵏᵉOnde histórias criam vida. Descubra agora