Capítulo 16 - Banimento

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BELLAMY
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Ele começaria deixando que morressem de fome. Talvez, quando estivessem tão fracos que precisassem rastejar até ele implorando por perdão, ele consideraria a ideia de caçar. Mas eles teriam que se contentar com um esquilo ou algum outro animal pequeno — de maneira alguma ele sacrificaria outro cervo por eles.

Bellamy havia passado a noite inteira acordado, vigiando a barraca da enfermaria para garantir que ninguém se aproximasse de sua irmã. Com a chegada da manhã, ele começou a andar em círculos pelo perímetro do acampamento, cheio de energia demais para ficar parado.

Ao se aproximar da linha das árvores, sentiu seu corpo relaxar um pouco sob as sombras. Nas últimas semanas, ele havia descoberto que preferia a companhia das árvores à das pessoas. Um arrepio percorreu sua espinha quando uma brisa tocou sua nuca. Ele olhou para cima, notando que o céu visível entre os galhos começava a se fechar, adquirindo um tom cinzento. O ar parecia diferente - quase úmido. Ele abaixou a cabeça e continuou a caminhar. Talvez a Terra estivesse cansada de tudo aquilo e estivesse prestes a desencadear um segundo inverno nuclear.

Bellamy então se virou e começou a seguir em direção ao riacho, onde costumava encontrar pegadas de animais. Mas um movimento repentino em uma árvore a poucos metros de distância chamou sua atenção, e ele parou.

Algo de um vermelho intenso balançava ao vento. Poderia ser uma folha, mas não havia nada daquela cor por ali. Ele apertou os olhos, deu alguns passos à frente e sentiu um arrepio estranho na nuca. Era a fita de cabelo de Octavia.

Aquilo não fazia sentido - ela não ia à floresta há dias —, mas ele reconheceria aquela fita em qualquer lugar. Certas coisas simplesmente não podiam ser esquecidas.

FLASHBACK

Bellamy correu, ansioso, pelos corredores escuros, subindo as escadas que levavam ao seu apartamento. Valerá a pena ficar fora de casa além do toque de recolher, contanto que não fosse pego. Ele havia entrado por um velho duto de ventilação, pequeno demais para adultos, e chegado a um depósito abandonado na plataforma C, onde ouvira falar que havia itens esquecidos. O lugar estava cheio de todo tipo de tesouro: um chapéu com um pássaro engraçado no topo, uma caixa com os dizeres "ABDOMINAIS EM OITO MINUTOS", o que quer que isso significasse, e uma fita vermelha presa à alça de uma mala estranha com rodas. Bellamy trocou as outras descobertas por pontos de ração, mas guardou a fita. Queria dá-la a Octavia.

Ele pressionou o polegar no scanner e abriu a porta com cuidado, mas então congelou. Havia alguém se movendo dentro do apartamento. Sua mãe, normalmente, estaria dormindo a essa hora. Ele avançou em silêncio, apenas o suficiente para ouvir melhor, e relaxou quando um som familiar encheu o ar. Sua mãe estava cantando a canção de ninar favorita de Octavia. Algo que ela fazia com frequência, sentada no chão, cantando pela porta do armário até que Octavia adormecesse.

Bellamy suspirou, aliviado. Não parecia que sua mãe estava prestes a gritar com ele ou, pior, ter uma de suas crises de choro, que sempre faziam Bellamy querer se esconder no armário junto com a irmã.

Sorrindo, Bellamy entrou na sala principal em silêncio e viu sua mãe ajoelhada no chão.

— Nana, neném, que a Cuca vem pegar, papai foi pra roça, mamãe foi trabalhar...

Um chiado abafado ecoou pela escuridão. Seria o sistema de ventilação com problemas novamente? Bellamy deu mais um passo.

— Desce gatinho, de cima do telhado, pra ver se a criança dorme um sono...

Ele ouviu outro som, desta vez uma arfada.

— Mãe? — chamou, enquanto dava mais um passo. Sua mãe estava agachada sobre algo no chão. — Mãe! — gritou, correndo em sua direção.

THE 100 ᵇᵉˡˡᵃʳᵏᵉOnde histórias criam vida. Descubra agora