Dia 11: cebolas

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Dia 11: cebolas

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Dia 11: cebolas

Parece que precisa de ajuda.

Sasuke observou.

Fazia cinco minutos que Naruto observava uma receita no celular. E mais cinco minutos que calculava o modo correto de manusear a faca.

— Estou bem. Que otário não saberia cortar cebolas?

— Com certeza não pode ser pior do que aquele que confunde água sanitária com água do vaso.

— Certo — Naruto encolheu os ombros, tremendo sob a recordação humilhante — uma ajudinha sempre cai bem.

Sasuke soltou algo próximo de um riso nasal, ocupando o espaço vago ao lado do mais novo, e leu a receita com atenção.

O loiro passou os dedos pelo avental, lembrando de algo importante e abaixou os olhos.

— Sabe... fiquei feliz quando veio falar comigo aquele dia. — Naruto confessou timidamente, com uma voz contida. — Adultos sem maturidade não teriam a atitude que me mostrou, depois do que ouviu. E isso só me fez confirmar que você é realmente uma pessoa gentil. — Sorriu. — No fim, acho que eu estava certo a seu respeito.

— Você tem um péssimo senso de julgamento.

— Acha que me precipitei?

Naruto indagou, sem ter certeza do porquê o Uchiha havia ficado tão sério novamente.

— Só porque te tratei com o mínimo de respeito, depois de descobrir que você é gay, isso não me torna uma boa pessoa. E nem seu amigo. — Pontuou. — Não temos essa intimidade.

— Você não precisa ser tão frio.

— É melhor se acostumar. — Sasuke acrescentou — Não pode esperar que eu seja caloroso só porque você é caipira ingênuo que veio do interior.

O loiro arregalou os olhos.

Eu acertei? — Sasuke o analisou. — Acho que isso diz muito sobre você.

Naruto ficou vermelho.

Porra. Ele se acha tão esperto... O loiro disse para si, ofendido.

— Não fale palavrões — O Uchiha repreendeu, mas Naruto nem havia notado que seus pensamentos foram ditos em voz alta. Sasuke levantou uma sobrancelha. — Você deveria mostrar um pouco mais de respeito na frente dos mais velhos.

— Quantos anos você tem, Sasuke? — O Uzumaki piscou os cílios, lembrando que essa era uma informação que ele não sabia.

— O suficiente para te repreender toda vez que você me chamar pelo primeiro nome.

— Desculpa...

— Se já acabou de tagarelar, traga a sua bunda aqui e mostre alguma utilidade.

O loiro caminhou preguiçosamente na direção do mais velho.

— Abra a boca. — Sasuke instruiu e Naruto não o questionou, sem entender a razão pela qual obedeceu tão rapidamente.

Naruto, com uma colher vazia enfiada na boca, tentou manifestar a sua confusão, mas o peito pressionando as suas costas enquanto o gosto metálico se fazia presente, limitava os seus movimentos.

— Se fizer isso — Sasuke segurou suas duas mãos, ajudando-o a manusear a faca na tábua de cortar — você não vai chorar.

O loiro não sabia se deveria acreditar nisso. Aquilo parecia apenas uma desculpa boba para lhe manter calado.

Após um longo silêncio, a voz de Sasuke voltou a dizer lentamente:

— Eu sei que pensa que deveríamos nos dar bem porque somos vizinhos... e suas intenções são boas. Mas você não deveria se esforçar tanto pra gostar de mim. — O timbre rouco chegou até os ouvidos sutilmente, como se não quisesse assustar Naruto — o seu contrato vai expirar. Você não vai ficar nessa casa por muito tempo. Ninguém nunca fica.

O loiro tentou virar para trás uma última vez, mas foi repreendido pela voz áspera:

Se concentre.

O peito de Sasuke se moveu alguns centímetros e ele estava bem perto enquanto Naruto movia a faca devagar, passando a realizar sua tarefa com tanta atenção, que nem mesmo notou quando Sasuke simplesmente afastou os braços de perto das suas mãos. Libertando-o do aperto que mantinha suas costas aprisionadas ao peito firme.

O loiro terminou, e então removeu a colher dos lábios, notando que parecia verdadeiramente eficaz.

— Quem diria, mas parece que esse seu truque realmente funcion- — Naruto vacilou, e seu peito ardeu como se tivesse sido golpeado. Ele suspirou, dizendo com uma voz quase quebradiça: — é com essa cara que você me pede pra me afastar?

— Foram as cebolas.

Naruto travou a mandíbula, se sentindo irritado, preocupado e chateado numa mesma proporção.

— Você deve se achar um cara muito durão. Mas a verdade é que não está tornando as coisas mais fáceis. Se me queria distante, deveria ter sido um babaca desde o começo.

Os lábios pálidos se entreabriram devagar e uma pequena cascata se desfazia debaixo da cicatriz marcante no olho direito. E erguendo a pontinha dos dedos, Sasuke não impediu que Naruto quebrasse a distância entre eles.

— Entendo que você deve ter seus motivos para ser tão cauteloso. E eu respeito. — Naruto murmurou, com uma voz cuidadosamente gentil. — Mas eu queria que soubesse que eu sou muito paciente, sabe? Posso esperar até que você se sinta à vontade para se aproximar de mim.

Sasuke não hesitou quando os dedos frios tocaram o canto da sua pele pálida, perto das bordas vermelhas ao redor dos olhos úmidos, perto da cicatriz. Ele ficou quieto. Inspirou próximo ao pulso do Uzumaki e permaneceu exatamente onde estava.

— Até lá... eu vou continuar te incomodando como seu vizinho. Vou lhe chamar para comer refeições comigo e vou puxar assunto sempre que te ver. — Naruto varreu uma lágrima do seu rosto — então não me ignore, por favor.

Os olhos escuros se estreitaram naquela direção, ardendo sob o toque caloroso. Naruto talvez não tenha se dado conta de que Sasuke não pararia de chorar, se continuasse tocando seus olhos com os mesmos dedos que tocou a cebola. Mas Sasuke não o avisou. Na verdade, não pôde impedir que Naruto continuasse, quando seu toque vinha carregado por intenções tão puras e fragilidade igualmente ingênuas: tentando ajudar ao Uchiha a todos custo e, sem perceber, piorando cada gradativamente a situação.

O loiro olhou de volta para ele, ansioso.

Sasuke não aceitou a sua proposta, mas também não havia negado.

No entanto, quando o Uchiha fechou os olhinhos escuros, Naruto imaginou que o pequeno soluço que escapou dos seus lábios também era uma possível resposta.

———

Quantidade de palavras: 985

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