Obs: como percebi que tem bastante gente pulando as notas, acho importante deixar avisado aqui também que é necessário ler a short fic que postei antes dessa história.
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Depois do ocorrido na sala de aula entre Gabriel e Pilar, os dois passaram a evitar qualquer contato direto durante aquele dia. A lembrança do que havia acontecido os perseguia, tornando cada encontro casual uma fonte de nervosismo.
No dia seguinte, após uma das aulas, Pilar decidiu ir até a cozinha para tomar um café e espairecer um pouco. Dalete estava lá, mexendo em algumas xícaras, e Pilar aproveitou a companhia para puxar conversa. A leveza de Dalete sempre a ajudava a descontrair.
— Nossa, parece que hoje foi um daqueles dias, né, Dalete? - Pilar comentou.Dalete, com sua habitual simpatia, sorriu e respondeu:
— Ah, nem me fale, menina. Mas você sabe, faz parte. E você, como tá? Ando te achando meio pensativa...Pilar hesitou por um momento, mas antes que pudesse responder, Gabriel surgiu na porta da cozinha. Ao perceber que a colega estava ali, o professor parou por um segundo, claramente desconcertado. Seus olhos encontraram os dela, e por um instante, ele ficou sem reação.
Gabriel fez menção de sair, um movimento quase imperceptível de recuo, como se estivesse buscando uma rota de fuga. No entanto, Dalete, que também percebeu a presença do jovem, fez questão de convida-lo a participar do cafezinho.
—Professor Gabriel! Entra aqui, rapaz! - ela exclamou, o tom acolhedor e despreocupado, como sempre. - Vem tomar um cafezinho com a gente! Pelo visto você também está precisando.Pilar sentiu o coração acelerar ao ver Gabriel hesitar na porta, os olhos dele fugindo dos seus. Ela sabia que fugir da situação só tornaria tudo mais complicado, mas ainda assim, não pôde evitar a leve ansiedade que se instalou em seu peito.
Gabriel, ciente de que não havia escapatória, respirou fundo e entrou na cozinha, tentando parecer o mais natural possível. Ele se aproximou, forçando um sorriso, enquanto Dalete servia o café com a mesma energia alegre de sempre, alheia ao que se passava entre os dois professores.
-Então, como foram as aulas hoje? - Dalete perguntou, tentando puxar conversa. A cozinheira a essa altura já havia notado algo de diferente no comportamento dos professores.
Gabriel e Pilar trocaram um olhar rápido antes de responderem quase ao mesmo tempo:
-Tudo bem!A resposta uníssona, embora não planejada, trouxe um leve desconforto aos dois, Dalete percebeu que realmente havia algo acontecendo.
Ela colocou as xícaras na mesa e entendeu que precisava deixar os dois sozinhos.—Bom, eu gostaria muito de saber mais, mas acabei de lembrar que prometi o Tônico que iria ajudar ele, e eu não posso perder a oportunidade né... - disse ela, de maneira casual. - Vocês dois fiquem à vontade, tá? Depois eu volto.
Pilar lançou um olhar rápido para Dalete, reconhecendo a sutileza na desculpa, enquanto Gabriel se mexia desconfortavelmente, tentando evitar o contato visual com Pilar. Dalete saiu da cozinha, deixando os dois sozinhos.
Um silêncio pesado se instalou no ambiente. Pilar, sentindo a tensão aumentar, se aproximou da mesa e pegou uma das xícaras de café, mais para ocupar as mãos do que por realmente querer beber. Gabriel ficou parado, sem saber se deveria se aproximar ou simplesmente sair, mas a lembrança do beijo e a reação de Pilar no dia anterior o mantinham preso ali.
Decidiu então tentar quebrar o silêncio de alguma forma.
-Você viu o novo quadro da diretora Norma que chegou? - perguntou ele, tentando soar casual, mas com a voz um pouco tensa.Pilar, ainda segurando a xícara de café, olhou para Gabriel, surpresa pela escolha do assunto, mas aliviada por ele ter dito algo.
— Ah, vi sim... É bem... imponente, né?— É, tem um ar meio... - Gabriel procurava uma palavra que pudesse descrever.
— Assustador?... - Pilar completou sorrindo.
— Isso!
Os dois deram uma risada leve brevemente. Mas o assunto morreu ali, deixando-os novamente em um silêncio constrangedor. Pilar, percebendo que a tensão ainda estava presente, decidiu mudar o rumo da conversa.
— O Felipe hoje parecia mais quieto do que o normal. Você conseguiu conversar com ele depois do que aconteceu?Gabriel assentiu, aproveitando o novo tema para focar em algo que conhecia.
— Ah, eu... Conversei sim. Tentei explicar que o pai dele tava de cabeça quente, coisa de adulto.Pilar concordou, seu olhar se suavizando ao pensar no menino.
— Eu percebo que ele tá sempre tentando chamar atenção, mas depois do que você contou sobre o pai dele, acho que isso pode ser a maneira dele de lidar com tudo que ele deve passar em casa, com um ambiente familiar meio complicado né.
Gabriel suspirou, concordando:
— É, é exatamente isso que eu penso... No fundo o Felipe é um menino bom. Muito travesso, mas bom... - sorriu.O silêncio voltou a cair entre eles, mas dessa vez, havia uma compreensão mútua. Gabriel olhou para Pilar, sabendo que ainda havia algo a ser resolvido entre eles. Respirando fundo, ele finalmente decidiu abordar o assunto que estava evitando.
— Pilar... sobre o que aconteceu ontem com a gente... - começou ele, recebendo a reação surpresa da professora. - Eu... eu não queria que as coisas ficassem estranhas entre a gente depois daquilo... A gente tava indo tão bem em tentar se alinhar como colegas de trabalho. Eu realmente não sei o que deu em mim, não quero que você pense que eu desrespeitei você ou algo do tipo, me desculpa mesmo... - Desabafou tudo de uma vez.
Pilar ficou quieta por um momento, encarando Gabriel. Ela sabia que não podiam continuar evitando o que aconteceu.
— Eu também não quero, Gabriel - respondeu ela, a voz baixa, mas honesta. - Eu acho que foi... inesperado. Nós dois fomos pegos de surpresa, e acabou acontecendo...
Gabriel relaxou um pouco ao ouvir as palavras dela, percebendo que, apesar do desconforto, Pilar não parecia chateada com ele.
— Eu só queria que soubesse que... isso não muda o quanto eu respeito e valorizo você como colega e como amiga. E eu realmente sinto muito se te deixei desconfortável.
Pilar sorriu levemente, sentindo o peso da tensão se aliviar um pouco.
— Eu entendo, Gabriel. E, sinceramente, acho que só precisamos de um pouco de tempo para processar tudo. Vamos continuar sendo os mesmos? A gente pode, talvez... Evitar tocar nesse assunto daqui pra frente. O que acha? - propôs a jovem meio incerta.
As palavras dela foram ditas com boas intenções, mas Gabriel não pôde deixar de sentir uma pontada de decepção no fundo de seu coração. Ele queria que as coisas fossem simples, mas ao mesmo tempo, uma parte dele desejava que não precisassem evitar o que aconteceu. No entanto, ele sabia que Pilar estava certa; talvez fosse o melhor para ambos.
Escondendo a pequena tristeza que sentia, Gabriel forçou um sorriso e assentiu, tentando manter o tom de voz leve.
— Acho que... você tem razão. Vamos seguir em frente, e evitar o assunto...
Os dois sorriram um para o outro sem jeito, e apertaram as mãos, como se estivessem selando um acordo.
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Wave (Gabrilar)
RomancePilar e Gabriel gostam um do outro, mas ainda teimam em não admitir os sentimentos. O que pode acontecer quando eles finalmente se darem conta de que é impossível ser feliz sozinho?