Pilar virou-se e viu a imagem da Diretora Norma, que estava parada na porta com os braços cruzados e um olhar reprovador.
Gabriel, sem palavras, passou a mão na nuca, já sabendo o que viria em seguida.A expressão da diretora era severa, e o silêncio que se seguiu parecia ainda mais carregado de tensão.
Enquanto observava Pilar e Gabriel, ainda atordoados com a interrupção, a Diretora Norma continuou:
— Mas que cena bonita. Estou atrapalhando vocês? — disse Norma, com um tom carregado de ironia.
Gabriel foi o primeiro a tentar reagir. Suas palavras saíram atropeladas pela pressa de se explicar.
— Diretora Norma, eu posso explicar! A culpa é toda minha... — disse ele, desesperado. — Eu beijei a Pilar... Ela não estava esperando, foi um impulso meu, e...
Pilar, ainda um pouco tonta com o choque da situação, rapidamente o interrompeu.
— Não, não foi assim! — disse Pilar, olhando da diretora Norma para Gabriel. — Gabriel, não precisa fazer isso, a gente...
Gabriel interrompeu com um gesto sutil, tentando protegê-la.
— Pilar, eu posso resolver isso... Por favor...
Mas antes que pudessem discutir mais, Norma, com a paciência já esgotada, ergueu uma das mãos, silenciando-os de forma brusca.
— Chega! — ordenou. Sua voz ressoou pelo ambiente. Um silêncio desconfortável pairou na sala.
Ela os observou por um momento com um olhar fixo.
— Os romances nesse colégio são terminantemente proibidos, sobretudo entre os professores. Mas ora, onde já se viu! Confesso que de vocês eu não espero muita coisa, mas isso... — disse Norma, negando com a cabeça em sinal de desaprovação.
Gabriel fez uma careta, sentindo o peso das palavras da diretora. Ele sabia que qualquer argumento seria inútil, mas, ainda assim, tentou.
— Diretora Norma, a senhora tá coberta de razão! A gente sabe que isso é errado, e prometemos que não vai se repetir. — disse com um tom firme, mas submisso, tentando remediar a situação.
Pilar concordou com a cabeça.
Os professores, apesar de terem apreciado o momento de carinho, sabiam que aquele não era o lugar apropriado para tal demonstração de afeto. Eles eram, antes de tudo, profissionais e compreendiam a gravidade de sua conduta dentro do ambiente escolar. No fundo, ambos davam razão à bronca da Diretora Norma.
A diretora, por sua vez, continuou com sua expressão severa:
— Eu vou ter que tomar uma medida em relação a esse comportamento inapropriado de vocês dois. — Ela fez uma pausa, como se ponderasse, antes de continuar. — Estou pensando seriamente na demissão de ambos.
Aquela declaração pegou Gabriel e Pilar de surpresa, e suas expressões logo se tornaram de indignação, afinal, não era motivo suficiente para uma demissão.
Antes que as coisas piorassem, Gabriel, tentando pensar rápido, percebeu que precisaria agir de forma estratégica para suavizar a situação. Ele sabia que a Diretora Norma prezava por sua autoridade e gostava de ser reconhecida por isso.
— Diretora Norma, a senhora está corretíssima em querer manter a ordem do colégio, começando por nós, professores — Gabriel fez um gesto apontando para ele e Pilar, que também prestava atenção no que ele argumentava. O professor, tentando manter a calma e mostrar respeito, prosseguiu:
— Nós entendemos que cometemos um erro, e sabemos que a demissão é uma medida muito séria. Mas, se me permite, eu gostaria de lembrar que nunca demos nenhum motivo antes pra tal punição. Esse foi o nosso primeiro deslize.
Ele fez uma breve pausa, observando a reação dela antes de continuar.
— Claro que merecemos uma punição, não tiramos a razão da senhora, e estamos dispostos a aceitá-la. Mas acredito que, talvez, esse incidente possa ser tratado de uma forma que ainda nos permita continuar nosso trabalho aqui. A senhora sabe como é difícil encontrar professores que se adaptem às crianças, ainda mais depois do ano letivo já estar em andamento... Eu sei que, sendo uma mulher tão sábia e justa como a senhora é, vai encontrar a melhor forma de resolver isso.
Ele falou com firmeza, mas com uma humildade que visava apaziguar a situação. Pilar, depois de um discurso tão certeiro, preferiu não acrescentar nada às palavras de Gabriel, e apenas aguardava com expectativa a resposta da diretora.
A diretora Norma, parecendo ter sido envolvida pelas palavras de Gabriel, ponderou por um momento, com olhar ainda severo, mas agora com um brilho de consideração. Ela sabia que, embora não pudesse permitir que esse tipo de comportamento passasse despercebido, talvez demitir os dois professores não fosse a melhor solução.
Por fim, declarou:
— Está bem. Não vou demitir vocês, mas tal comportamento não pode ficar sem consequências.
Gabriel e Pilar assentiram com a cabeça, visivelmente aliviados, embora ainda tensos. A diretora Norma continuou, sem suavizar a expressão severa:
— Vou para minha sala pensar no que pode ser feito...
Ela lançou mais uma vez um olhar rígido para os dois, como se quisesse garantir que sua autoridade não fosse questionada. Então, dirigiu-se à porta com passos firmes, mas antes de sair, virou-se novamente, apontando um dedo acusador na direção deles.
— Estou de olho em vocês! Nada de beijos! Que isso não se repita mais.
Eles assentiram novamente, cientes de que o deslize não passaria despercebido se voltasse a acontecer. Quando a diretora finalmente saiu, o silêncio que se seguiu foi quase tão pesado quanto a presença dela momentos antes.
Gabriel e Pilar se olharam, ainda tensos pelo flagra. No entanto, a tensão foi rapidamente substituída por um alívio involuntário. Gabriel sorriu para Pilar, que retribuiu o sorriso timidamente.
— Pilar...
— Gabriel...
Eles disseram juntos, rindo da situação embaraçosa.
Gabriel fez um gesto para que ela falasse primeiro.
— A diretora tá certa, isso não deveria acontecer...
Ele concordou com a cabeça, mas completou de forma suave:
— Não aqui...
Os dois se olharam, sentindo o coração acelerar. Gabriel, com um tom decidido, continuou:
— Vamos sair depois do expediente...
Pilar, com um sorriso que revelava uma mistura de ansiedade e expectativa, concordou com a cabeça. Eles trocavam um olhar apaixonado. E sabendo que precisavam evitar qualquer outro deslize no momento, Pilar achou melhor se retirar, dizendo que precisava se preparar para a próxima aula. Ao se dirigir para a saída, Gabriel a deteve suavemente, segurando a mão dela.
— Eu adorei o seu beijo. — ele confessou, olhando fixamente nos olhos dela.
A professora sorriu sem graça, com o coração acelerado, e respondeu com sinceridade:
— Eu também.
Ele soltou a mão dela, e ela saiu, deixando-o sozinho, mas com um sorriso satisfeito e um sentimento de esperança.
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Wave (Gabrilar)
RomancePilar e Gabriel gostam um do outro, mas ainda teimam em não admitir os sentimentos. O que pode acontecer quando eles finalmente se darem conta de que é impossível ser feliz sozinho?