Duas semanas haviam se passado desde o "acordo" entre Gabriel e Pilar de não tocarem mais no assunto do beijo. O tempo parecia ter acalmado a tensão inicial, mas algo sutil permanecia entre eles, algo que nenhum dos dois estava disposto a admitir. A rotina escolar continuava, e os dois colegas de trabalho seguiam com suas obrigações, tentando manter as coisas o mais normal possível.Naquela tarde, Gabriel e Pilar se encontravam na biblioteca, sentados à mesma mesa, cada um com seu livro em mãos. Pilar estava concentrada na leitura, mergulhada em cada palavra como se fosse a única coisa no mundo. Gabriel, por outro lado, mal conseguia se concentrar.
Ele tentava ler, mas seus olhos constantemente fugiam para a figura de Pilar, do outro lado da mesa. Ele a observava com admiração, encantado com o modo como ela ficava concentrada enquanto estava lendo, ou como ela franzia ligeiramente a testa quando algo na leitura exigia mais atenção. Por um momento, ele se perdeu na visão dela, permitindo-se apenas apreciar a presença da professora.
Mas então, como se sentisse o olhar dele, Pilar ergueu os olhos de seu livro e os fixou em Gabriel. Ele, pego de surpresa, disfarçou rapidamente, desviando o olhar de volta para o próprio livro, fingindo uma concentração que estava longe de sentir.
Pilar franziu o cenho por um instante, suspeitando da súbita mudança de comportamento do professor, mas decidiu não comentar nada, voltando ao seu livro. No entanto, a mesma cena se repetiu.
Pilar voltou a tentar se concentrar na leitura, mas a sensação de ser observada novamente a fez desviar os olhos das páginas. Sem levantar a cabeça, perguntou suavemente:
— Está tudo bem, Gabriel?
A pergunta pegou Gabriel de surpresa. Ele demorou um segundo para responder, piscando algumas vezes antes de balbuciar:
— Sim, claro... Eu... estou gostando muito do livro. — Ele rapidamente ergueu o livro, como se a simples menção dele fosse provar sua concentração. O olhar de Pilar estreitou-se ligeiramente, não totalmente convencida da resposta, mas decidiu ignorar. Ela assentiu levemente, fingindo aceitar a explicação, e voltou sua atenção para as páginas à sua frente.
O silêncio voltou a reinar, mas não por muito tempo. O telefone de Pilar vibrou, e ao ver o nome de Betina na tela, decidiu atender. Era uma chamada de vídeo, e ela atendeu com um sorriso.
— Oi, prima — disse Pilar, com um sorriso acolhedor enquanto a imagem de Betina aparecia na tela.
— Oi, Pilar! — Betina respondeu, a voz animada. — O César teve uma ideia para unir mais eu e a Cristina, ele vai levar a gente pro cinema hoje à noite, e pediu para te chamar também... - e terminou cochichando: - não sei o que exatamente você tem a ver, mas eu amei a ideia!
Pilar hesitou, a ideia de sair naquela noite não lhe parecia tão atraente. Ainda assim, não queria desapontar a prima.
— Ah... não sei, Betina. Eu tô meio cansada, sabe? — respondeu Pilar, tentando encontrar uma desculpa suave.
Betina, no entanto, não parecia disposta a aceitar um "não" como resposta.
— Ah, nada disso! Vai ser legal, e você precisa ir, Pilar. Ando te achando meio estranha esses dias sabe, meio avoada... Vai te fazer bem sair um pouco com a gente...
Pilar ficou sem graça, especialmente porque Gabriel estava ao lado, aparentemente "lendo", mas claramente ouvindo toda a conversa. Sentindo-se pressionada, ela acabou aceitando, mesmo sem muita vontade.
— Tá bom, Betina... Eu vou.
Ao fundo, a voz de Cristina chamou por Betina, pedindo ajuda com algo.
— Ai, eu preciso desligar. A gente se vê mais tarde, tá? Beijos! — E com um gesto rápido, a chamada foi encerrada.
Pilar abaixou o celular, ainda se sentindo desconfortável com a situação. Quando levantou os olhos, notou que Gabriel estava mais sério do que antes, seu semblante indicando algo diferente. Mas, não havia muito o que fazer, voltou a se concentrar no livro, e não falou mais nada. Gabriel, por sua vez, continuou fingindo que estava concentrado na leitura, mas sua mente estava longe dali. Na sua cabeça só se passava uma coisa: César e Pilar juntos no cinema.
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Wave (Gabrilar)
RomancePilar e Gabriel gostam um do outro, mas ainda teimam em não admitir os sentimentos. O que pode acontecer quando eles finalmente se darem conta de que é impossível ser feliz sozinho?