Capítulo 3c

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Logo após a entrevista coletiva, Miguel sentiu-se livre para ver como Aline estava no hospital. "A essa altura, a cirurgia já acabou".

Olhou no relógio, eram quase três horas da tarde. Nesse instante, sentiu uma mão puxar-lhe o braço, era Ferrari colocando-o dentro do elevador, que estava subindo de volta ao 12º andar.

- Você vai pegar suas coisas e vai direto para o hospital de base. Quero que a imprensa veja que estamos cuidando do caso, olhando tudo de perto. É importante falar com essa moça antes que os jornais consigam ter acesso a ela. – ordenou Ferrari, ao que Miguel concordou com um aceno e disse:

- Ótimo, acho uma excelente ideia, Ferrari. Mas não acredito que me deixem falar com ela. – disse ele, satisfeito por poder ir sem se esconder.

- Não deduza as coisas Miguel. Vá para lá e trabalhe com os fatos. Não vai me estragar isso também! – disse Ferrari, o que fez Miguel lembrar-se do caso de tráfico de influência que ele investigou por dois anos, mas não conseguiu levantar provas suficientes para condenar os envolvidos e foi acusado de ter forjado provas para que o caso fosse a julgamento. Acabou inocentado, mas sua reputação ficou manchada e desde então, tem pegado casos de pouca expressão.

- Fique tranquilo Ferrari, não há mais nada que possa ser estragado nesse caso, ele já está praticamente concluído. O promotor Guilherme já apresentou denúncia e agora só preciso descobrir o que essa tentativa de assassinato tem a ver com tudo isso. – explicou-se Miguel, tentando acalmar o superintendente.

- Exatamente o que eu esperava ouvir, Miguel. – concluiu Ferrari, já saindo do elevador e dirigindo-se para sua sala.

- Porra Miguel, que foi aquilo? É impressão minha ou o chefe já tá no seu cangote? – perguntou Pedro, sussurrando próximo ao ouvido de Miguel, acompanhando Ferrari com os olhos.

- Relaxa Pedro, eu cuido dele. Você precisa se interar do caso com o Nelo. Vocês só têm uma semana para fazer toda a transferência. – responde Miguel, já arrumando suas coisas para ir ao hospital. – Eu to indo. Vou ver se consigo falar com a Aline. Amanhã não precisa me pegar. Vou daqui com o carro oficial.

Miguel viu o alívio no semblante de Pedro, afinal, não precisaria cruzar a cidade para buscá-lo. Estranhamente, as feições de Pedro se alteraram para uma expressão de dúvida. Mas Miguel não queria mais perder tempo e achou melhor abordar isso em um outro momento.

Depois de pegar as chaves do carro com o controle da frota, Miguel desceu até o subsolo onde ficavam localizados os carros que serviam ao efetivo da PF. Ele havia pedido as chaves de uma caminhonete, uma Frontier nova, preta fosco, com um conjunto de giroflex vermelho em formato de seta sobre o teto da cabine dupla, equipada com Santo Antônio na caçamba e o símbolo da PF em ambas as portas dianteiras. Ele queria ser notado no hospital e essa era a melhor forma de fazer isso.

Ao chegar lá, ainda havia alguns jornalistas de TV, fazendo entradas ao vivo para os jornais da tarde ou gravando reportagens para o jornal da noite. Todos foram ao encontro da caminhonete que estacionava em frente à recepção.

Mas, ao descer, Miguel preferiu não dar nenhuma declaração e, mesmo assim, teria o resultado esperado. Caminhou lentamente para a entrada e, antes de as portas se fecharem atrás de si, pôde ouvir uma das jornalistas dizer:

- Esse foi o delegado da PF, Miguel Soares, que acabou de chegar ao hospital onde está internada a promotora de justiça, Aline Barreto, vítima de uma possível tentativa de assassinato... – todos os sons externos foram cortados assim que as portas à prova de som estavam fechadas.

Imediatamente após mostrar seu distintivo na recepção, a moça lhe passou o número do quarto de UTI em que Aline estava. "404"- disse ela, apontando para os elevadores que o levariam até o referido andar.

A Mentira em Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora