Notas da Autora
Yoooo!!!!!!
Hora de tirar da gaveta um projeto antigo, que merece ser lido por todos vcs. Essa história se passa na mesma linha do tempo das minhas outras histórias de Avatar, então se você leu Implacável como o tempo ou Dobre-se para mim, vai amar!Agradeço à @IQLaviolette_RainhaqueCastiga e @dark_mour pelo excelente trabalho de revisão e betagem, sem elas os meus textos não teriam a qualidade que vocês conhecem apreciam.
No mais... os vejo nos comentários.Toph
Kanto era um homem bom!
Sempre teve um tino afiado para pessoas! Com a idade e experiência, isso só ficou mais apurado, podia não enxergar com seus olhos esbranquiçados, mas era capaz de ver mais longe e com mais precisão do que muitas pessoas com olhos perfeitos. Era exatamente por isso que sabia o que estava por vir antes mesmo dele próprio se dar conta. Irônico que tivera a sorte de ser amada por homens bons e o azar de não prosperar em nenhum destes amores.
Na realidade sabia que deveria ter tido a iniciativa e terminado aquele relacionamento assim que notou que não se apaixonaria por ele da mesma forma, mas sua vida estava uma loucura! As tríades não paravam de crescer e além disso teve um caso horrível para lidar. Um pai de família com dívidas de jogo acabou sendo executado com toda sua família. Agradeceu internamente por ser cega quando entrou na casa que agora era apenas uma "cena de crime". O cheiro de morte era tão forte que vomitou tudo o que tinha no estômago e permaneceu enjoada o resto do dia. Normalmente ficaria até tarde, mas estava tão cansada e indisposta que aceitou que Sokka a buscasse no fim de seu expediente para levá-la de automóvel para casa , na verdade praticamente pediu para que ele o fizesse.
Se em seu estado natural já não era exatamente um poço de educação, naquele momento estava ainda mais arredia e sem paciência, desejava apenas chegar em casa e dormir com os pés para cima aproveitando o doce silêncio da noite. Então sentiu, através de seu senso sísmico, a presença do namorado esperando na porta da delegacia e suspirou cansada. Não contava que teria de lidar com ele e não desejava que permanecesse ali tão próximo do horário em que Sokka disse que chegaria.
Kanto era alto e tinha uma compleição magra, porém musculosa e cabelos grossos e longos, possuía uma pequena barbicha que passou a cultivar graças à uma sugestão sua, da qual não se orgulhava, além de um gosto por comida apimentada e café muito forte. Era um artesão da nação do fogo que nasceu sem nenhuma dobra, em uma família de dobradores pífios que nunca fizeram nada digno de notoriedade, o que vez por outra despertava nele uma síndrome de vira-latas que a irritava. Toph veio de uma família abastada, aparentada da realeza do Reino da Terra e abriu mão de tudo isso para seguir seu próprio destino. Não se importava com as origens humildes dele e por isso se ofendia quando ele insinuava que esse poderia ser o motivo dela se envergonhar de apresentá-lo publicamente. Já estavam juntos há mais de um ano e nunca o havia levado até a Ilha do Templo do Ar ou para um dos jantares da GAang, onde, via de regra, era a única que não estava em um conto de fadas romântico. Se perguntava de onde aqueles tontos conseguiam disposição para ver o mundo açucarado mesmo depois de tudo pelo que passaram... mesmo com a rotina tão sufocante! Ela não conseguia ver... e não, isso não era mais uma piada com sua cegueira, só não era capaz de encarar as coisas com tanto otimismo sentimental. Ainda assim mesmo não gostando das conclusões que seu namorado tomava como se fossem verdades, não o corrigia. Afinal, como fazê-lo? Sequer o fazia para si mesma em voz alta e não o faria para mais ninguém. Geralmente quando começavam as acusações de se envergonhar dele recorria ao seu bom humor ácido e baldes generosos de sarcasmo, vez por outra conseguia desviar o foco da conversa, mas cada vez mais ficava difícil. Se davam tão bem em alguns momentos! Kanto era do tipo apaixonado, sempre disposto a fazê-la sentir-se única e especial... no bom sentido da palavra e não como as pessoas costumavam fazer por conta de sua deficiência. Exatamente por este motivo precisava tirá-lo dali logo. O namorado era morno e aconchegante, sentia segurança em tê-lo perto, mas sabia que não o amava, no máximo tinha por ele muito carinho e algum tesão. E como queria poder amá-lo! Deu tempo, tentou conhecê-lo, o deixou cuidar e acabou de fato desenvolvendo um sentimento xoxo e cômodo por ele, mas cada vez que sentia o coração acelerado dele na sola de seus pés era atingida em cheio pela culpa. E quando ele lhe confessou estar apaixonado entrou em pânico, contudo pensou que com o tempo também chegaria sua vez..., mas não chegou. E estava cada vez mais consciente de que jamais aconteceria. Não era idiota e o fato de não gostar de falar de sentimentos não a impedia de pensar sobre eles ou de senti-los com intensidade, por mais frustrante que fosse.
Abriu a porta da sala usando dobra de metal, sem nem abandonar a escrivaninha deu um grito e em menos de um minuto seu assistente estava à porta. Podia sentir a inquietação do rapaz na sola de seu pé e ouvia a respiração dele como se fosse um chiado incômodo em seus ouvidos. Percebeu o quanto estava se irritando com coisas pequenas e involuntárias, péssimo momento para lidar com Kanto! Ponderou por alguns segundos e concluiu que o caminho dos covardes era o mais seguro. Iria dispensar seu namorado e novamente o remorso bateu no fundo do seu estômago que borbulhou enjoado, sabia que estava procurando motivos para brigar na mesma medida em que evitava o atrito, dessa maneira iria apenas acabar magoando um homem bom por egoísmo. Só não queria ser a vadia sem coração que terminava o relacionamento sem razão aparente e não podia contar a verdade. Não podia dizer que não conseguia se obrigar a retribuir seus sentimentos, ou que não o queria entre seus amigos mais íntimos e, principalmente, não podia dizer que enquanto ele a amava com devoção ela simplesmente fodia pensando em outro.
Respirou fundo colocando a cabeça em ordem e lembrou de virar na direção do assistente. Não que lhe fizesse alguma diferença, mas aprendeu desde cedo que as pessoas se incomodavam quando ela falava sem encará-los, o que não faz muito sentido já que não os via de qualquer maneira.
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Sedimentar
Fiksi PenggemarToph se sentou virada para a filha, os olhos brancos perdidos no horizonte, Lin sabia que ela fazia aquilo por educação por que as pessoas se sentiam desconfortáveis em conversar com alguém de costas. Para ela não fazia a menor diferença, já que não...