Noite a três

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Faz duas semanas que estou aqui, na casa do Rafael. Duas semanas desde que toda a minha vida desmoronou de uma forma que eu jamais poderia imaginar. Ainda me lembro da sensação do chão sendo puxado debaixo dos meus pés quando descobri as traições de Marcos. A dor foi tão intensa que me tirou o ar, como se tivesse levado um soco no estômago. E como se não bastasse, ele ainda teve a audácia de me expulsar da casa que, até então, eu acreditava ser o nosso lar.

"É minha casa, Charlotte. Você não tem mais lugar aqui."

Essas palavras ecoaram na minha cabeça repetidamente enquanto eu arrumava minhas malas, tentando manter a dignidade. Mas a verdade é que, por dentro, eu estava em pedaços. Sem ter para onde ir, só consegui pensar em uma pessoa: Rafael. Sempre foi ele o meu porto seguro, o amigo de infância que nunca me deixou na mão. Eu me perguntei se estava abusando da nossa amizade ao pedir abrigo, mas ele me recebeu de braços abertos, como sempre.

Tudo começou quando Marcos tentou dar em cima da minha prima durante uma festa de família. Foi nojento e humilhante, mas, no fundo, eu ainda me agarrei à esperança de que pudesse ser algum tipo de mal-entendido. Talvez eu estivesse vendo coisas onde não havia, talvez fosse só uma brincadeira estúpida. Mas a realidade me atingiu em cheio quando minha prima, constrangida, me contou que ele tinha passado dos limites e insinuado que queria algo a mais com ela.

A partir daí, as máscaras caíram. Eu comecei a desconfiar de tudo, e as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar de uma forma que me deixou enjoada. Descobri cinco traições, todas com diferentes mulheres ao longo dos últimos meses, cada uma me machucando mais do que a anterior. Ele mentiu tão bem, com um sorriso falso e promessas vazias, enquanto eu, ingenuamente, acreditava em cada palavra. E o pior de tudo? Eu sei que existem mais traições, mas eu simplesmente não consegui ir atrás de mais respostas. Já tinha visto o suficiente, já tinha sentido mais dor do que podia suportar. O que mais restava descobrir?

A ideia de continuar investigando, de cavar ainda mais fundo naquele poço de mentiras, me parecia insuportável. Então, deixei pra lá. Deixei que as outras traições permanecessem enterradas, junto com o pouco que restava do meu relacionamento com Marcos.

Agora, já fazia duas semanas que eu estava morando com o Rafael. A casa dele era grande, e confortável, e a presença dele era a única coisa que me impedia de me afundar completamente na dor. Rafael tinha uma rotina simples, quase despreocupada. Ele não trabalhava no momento, então estava sempre em casa comigo. Havia dias em que eu mal conseguia sair da cama, e ele estava lá, me trazendo chá ou simplesmente sentando ao meu lado, em silêncio, até eu me sentir pronta para falar.

Ele nunca me pressionou, nunca me julgou. Rafael entendia as minhas recaídas, aquelas horas em que a tristeza vinha com força total e parecia que eu ia me despedaçar de novo. Ele estava lá, paciente, me ajudando a juntar os pedaços, sem nunca reclamar. Em outras ocasiões, ele tentava me distrair. Assistíamos a filmes, geralmente comédias ou qualquer coisa que pudesse me fazer rir, mesmo que fosse só um pouco. Quando eu estava um pouco melhor, jogávamos jogos de tabuleiro, como fazíamos quando éramos crianças.

E agora, aqui estou eu, afundada no enorme sofá do Rafael, enchendo a cara de sorvete direto do pote e bebendo vinho como se isso pudesse apagar todas as lembranças dolorosas. O filme na TV, "4 Vidas de um Cachorro", não estava ajudando em nada. Eu sabia que não deveria assistir a algo tão sentimental nesse estado, mas não consegui resistir. Quando o cachorro do filme se sacrificou por amor ao dono, foi o estopim. As lágrimas que eu vinha segurando desabaram de uma vez, e de repente, eu estava soluçando descontroladamente, com o sorvete derretendo nas minhas mãos.

Rafael tinha se levantado para atender a porta, depois que alguém apertou a campainha repetidamente, como se estivesse desesperado. Ele olhou para mim antes de sair da sala, com aquela expressão que misturava preocupação e paciência infinita. Eu sabia que ele voltaria em poucos minutos, pronto para me consolar de novo, mas naquele momento, tudo o que eu conseguia fazer era me afundar ainda mais na almofada, esperando que o choro parasse antes que ele retornasse. Claro que isso não aconteceu.

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