CAPÍTULO 09 - UMA ÚLTIMA CARTADA

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O som da voz de Anne ecoa na minha mente.

''Esse é o ultimo passo. Voce só pode recorrer a isso como último recurso, quando perceber que as regras anteriores da lista não estão funcionando''

01. Chegar Atrasada.CONFERE.

02. Não mostrar nenhum tipo de elegância.CONFERE.

03. Assolar sua conta bancaria.CONFERE.

04. Mencionar não querer filhos.CONFERE.

Eu não queria ter que recorrer a isso, mas não me restava mais nada na lista para seguir a não ser...

05. Agir como uma maluca total.

— Há algo que não sabe sobre mim. — Intervenho com a voz tensa, as ideias do que estou prestes a fazer se acumulando na minha mente. — Eu sou uma ótima dançarina.

Com o coração descompassado, me levanto da mesa. Jonathan me olha totalmente intrigado. Ele sempre tem aquele olhar de quem sabe mais do que deveria. Porém, desta vez tenho certeza que ele não está preparado para o que está por vir.

Com as mãos e todo o resto do corpo tremendo, caminho até ao centro do salão onde uma mulher vestida de um azul cintilante interpreta uma musica chata, lenta demais para a energia caótica dentro de mim. E com passos desajeitados e robóticos, mexo meu corpo sem nenhuma harmonia com a melodia que invade o ambiente. Se a ideia era causar uma boa impressão, eu estava falhando miseravelmente, e isso era exatamente o que eu queria.

Olhares fulminante das pessoas pareciam perfurar minha pele, mas eu não podia exigir outra reação até porque ninguém completamente sã faria o que estou fazendo.

Devo estar entregando o quanto estou envergonhada porque sinto minhas bochechas esquentarem como um vulcão. A essa altura eu devia estar mais vermelha que um pimentão maduro. Toda esse sacrifico que eu estou fazendo para livrar a pele de Anne tem que me trazer algo muito bom e valioso no futuro.

Olho para Jonathan em busca de qualquer sinal de que ele esteja prestes a fugir do constragimento que estou fazendo com que ele passe. Porém, quando consigo visualizar seu rosto, tenho a certeza de ver um sorriso se formando. Minhas pernas não conseguem suportar e acabo tropeçando na minha própria sombra. A queda é inevitável. Não tenho onde cair de qualquer forma.

Quando encontro o chão, não demora nem mesmo 2 segundos, Jonathan já está lá para me prestar socorro.

— Você está bem?

Não!

Não estou nada bem!

''Eu estaria bem se você tivesse decidido fugir''.

Então a raiva borbulha dentro de mim. Estou brava porque depois de tudo que fiz ele ainda está do meu lado com sua expressão preocupada como se eu tivesse sofrido um acidente grave em vez de agir como uma idiota na frente de todo mundo.

Recuso a mão dele que tentava me ajudar e levanto tirando o pó invisível das minhas roupas. Ignoro Jonathan ajoelhado na minha frente. Pra mim era o bastante. Depois de todos os meus esforços tudo que posso ouvir são risadinhas que me esmagam como se eu fosse um maldito inseto.

Já chega!

Dou as costas para ele, para aquele encontro que me assombrará pelo resto da minha vida e caminho em direção à saída sem olhar um única vez para trás. Por sorte minhas pernas estão funcionando perfeitamente bem. Caso eu tivesse me machucado, ainda teria que implorar por sua ajuda e isso seria uma humilhação insuportável.

Novamente do lado de fora, sinto os passos apressados dele me seguindo.

— Por favor, não faça isso! — Imploro me virando para encará-lo.

Coloco minhas mãos no rosto para esconder a mistura de frustração e raiva. Quem passasse por ali veria nossa discussão.

— Qual é o seu problema? — Me aproximo dele com toda a determinação que eu achei não existir mais. — Eu fiz tudo que podia...

Seu rosto ainda estava tomado pela preocupação e isso me atinge mais do que atingiria se ele me olhasse com desprezo.

— Você está machucada?

— Por que se importa com isso? — Explodo cerrando os punhos. — Eu fiz tudo que um homem despreza em uma mulher, fiz tudo para que me odiasse, mas você não mostrou nehuma reação que desaprovasse meu comportamento. Seria tão mais facil se tivesse ido embora da primeira vez que nos vimos. Agora tenho que pisar em ovos por sua causa.

— Então adimite que estava mentindo?

Jonathan esboça um sorriso que irrita até minha primeira geração.

— Está prestando atenção no que estou dizendo?

Procuro o banco mais próximo para sentar porque o peso que estou carregando começa a ficar insuportável.

— Eu fiz tudo isso pra nada... — Deixo escapar.

Sinto o lugar do meu lado no banco ser ocupado.

— Anne... — Sua voz é como uma canção de ninar, leve. — Não vou forçá-la a se casar comigo.

Esse é o menor dos problemas.

— Por que continua me afastando? — Jonathan continua. Sua proximidade me deixa inquieta — Sei que também sente algo por mim. Posso ver isso nos seus olhos.

— A pessoa que acha que eu sou... — Engulo em seco. — Não sou quem pensa que sou.

— Então porque não me mostra quem é de verdade? Estou pronto para conhecê-la.

Isso está indo longe demais. Eu não o conheço, o que ele faria se descobrisse que não sou Anne? Embora Jonathan aparente ser um homem diferente e verdadeiro com as palavras, isso não me diz nada a seu respeito. Essa personalidade que ele me mostra pode ser apenas uma mascara de fumaça. Todos os homens são assim.

— Esquece isso! — Digo, me recompondo. Por uma fração de segundos cogitei dizer quem sou.

— Quando estiver pronta para dizer...

— Isso não vai acontecer!

Um silêncio pesado nos atravessa, preenchendo o vazio que ficou quando tudo que eu podia dizer para explicá-lo a verdade se foi.

— Por que tem tanto medo de mim?

— Eu não... — Me sinto ruborizar por saber o que ele está pensando.

— Eu vi sua expressão naquele dia. — Ele me encara sem piscar. — Sei que fugiu de mim quando saiu daquela sala.

A oportunidade perdida...

— É e agora vou perder a competição... — Confesso sem me dar conta.

— Competição?

— A competição anual de artes. — Explico deixando o assunto me levar, embora saiba que é errado. Estou mostrando para ele mais do que posso. — Aquele era um teste crucial.

— Bom, não está tudo acabado.

— O que?

— Você precisa treinar para a competição? — Balanço a cabeça indicando que sim. — Eu posso te ajudar com isso.

— Não dá mais tempo, eu deveria ter pintando você naquela tela há dois dias.

Ele se aproxima ainda mais, sua mão tocando levemente a minha.

— Eu estou bem aqui na sua frente. Não pode fazer isso agora?

Uma Farsa De AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora