CAPÍTULO 10 - ENTRE SOMBRAS E TINTAS

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A competição anual de Artes é minha obsessão. Tenho pintado telas incansavelmente durante meses porque esse é o objetivo da minha vida.

Com o dinheiro que economizei vendendo livros antigos na livraria, comprei materiais melhores e aprendi novas técnicas para que nenhuma concorrência pudesse me assustar.O que eu não percebi é que não estava preparada para enfrentar a presença de Jonathan e que todos os meses aos quais me dediquei foram em vão. Uma chama de esperança emendei no coração, mas se apaga na mesma rapidez que surge, ao lembrar que:

— Isso não vai funcionar. — Esclareço, puxando minha mão de volta. Manter as mãos juntas é muito perigoso principalmente porque corro o risco o risco de lhe contar toda a verdade. — Meus pincéis, a tela e minha melhores tintas ficaram lá.

Quando fugi das minhas responsabilidades naquele dia, deixei tudo para trás, inclusiva minha dignidade.

— Isso também não é um problema. — Responde ele calmamente.

— Como não? A essa altura o portão principal já está fechado.

— Sei como podemos entrar lá.
Não sou pessimista em relação a muitas coisas da vida, mas Jonathan parecia ser o otimismo em pessoa. Ele sempre tinha uma resposta para refutar meus pensamentos de uma forma surpreendente.

— Vamos lá? — Jonathan se levanta e me estende a mão.

Como eu disse antes: Ficar com as mãos juntas é perigoso, mas não consigo negar. Se há uma chance de salvar tudo que fiz, não vou deixar ela evaporar da minha frente. Esta é uma oportunidade única de manter minha mãe no hospital e eu farei qualquer coisa para ganhar o prêmio em dinheiro.

— Vamos lá!

Seguro sua mão com determinação. Nesse momento, me torno Emmeline novamente e deixo para trás a identidade de Anne que assumi.

A rua está bem iluminada e o sol ainda não se pôs completamente. Há um tom de rosa e laranja no céu. Apesar do verão, a brisa gelada toca nossos rostos, indicando que algumas gotas de chuva poderão cair mais tarde.

Minhas mãos e as dele ainda permaneciam juntas. Como se houvesse algo de especial entre nós. No fundo, sei que não temos nada disso. Ele pode até estar dizendo a verdade sobre como se sente em relação a mim, mas se estiver, esses sentimentos não têm nada a ver comigo.

— Por que está fazendo isso por mim? — Ouso perguntar enquanto caminhamos calmamente como se não tivéssemos nada de mais importante para fazer ou nos preocupar.

Estou realmente preocupada, a tela precisa ser entregue no dia seguinte e eu teria que passar a noite inteira sobrepondo camadas de tintas até o amanhecer.

— Por minha causa você não pôde fazer o teste.

— Não foi por sua causa! — Me apresso para dizer. A culpa verdadeiramente era toda minha, eu sou a mentirosa nesta situação. — Eu fugi porque...
— Não queria me ver?

Olho para o rosto dele de relance. Nenhum sinal de tristeza ou aborrecimento.

— Não. — Penso no que eu poderia dizer, mesmo que nada venha à minha mente além da verdade. — Eu não posso te contar.

— E por que não?

— É um segredo.

Jonathan fica quieto e me sinto agradecida por ele não insistir sobre o motivo da minha fuga. No seu inconsciente, ele deve saber que eu estava nervosa o suficiente para não conseguir nem olhá-lo nos olhos sem que as mãos tremessem e o suor frio ameaçasse escorrer.

— É por ali que vamos entrar — Ele diz apontando para uma janela quase escondida por trepadeiras.

Com um misto de nervosismo, me aproximo da janela enquanto ele observa os arredores, se algum guarda noturno nos ver, será o fim. Serei desclassificada da competição por invadir a universitade na calada da noite.

A janela é alta o suficiente para eu não alcance sozinha. Portanto, entrelaçando os dedos na minha frente, jonathan me ergue. Com um salto rápido, escalo a parede e entro em uma sala escura que pelo visto não é limpa há muito tempo. Até a livraria exala um cheiro de poeira mais agradável do que aqui.

Volto para ajudar Jonathan que está bem atrás de mim e logo ele também está comigo na sala bagunçada.

— Estamos na antiga sala de música. — Ele explica, desviando de caixas velhas empilhadas no meio do caminho. — Vamos ter que passar por alguns obstáculos até chegar ao seu ateliê.

Eu nunca tinha colocado os pés no departamento de música, mas Jonathan parecia o conhece-lo muito bem. Lembro da líder de sala nos apresentando ele há 2 dias quando quase vomitei na frente de todo mundo. Jonathan é do departamento de música.

— Eu nunca o vi aqui — Confesso, sem conseguir ver seu rosto na escuridão.

— Não posso dizer o mesmo que você.

— O que?

Por um momento meu coração bate tão forte que parece querer atravessar meu peito.

— Já vi você algumas vezes carregando grandes telas para lá e para cá.
Quando ele termina de falar, me dou conta de que todos esses anos tenho estado extremamente absorta em meu próprio mundo, sem prestar atenção no mundo das outras pessoas ao meu redor. Não notar Jonathan, quando ele estava tão perto, faz minha cabeça girar.

— Então... você já me conhecia... — Digo baixo e mesmo assim ele escuta.

— Conhecer não é a palavra certa, mas devo lhe dizer que sou um grande observador.

Será que ele já viu Anne também? Pensar nessa possibilidade me deixa desconfortável, então me concentro em ajudar Jonathan a procurar uma lanterna na bagunça.

Quando a encontramos, o sigo em passos silenciosos pelos corredores. Alguns guardas estão conversando perto da árvore central do jardim e não percebem quando corremos para o departamento de artes plásticas.

Este departamento é como um labirinto, cheio de salas por toda parte, mas graças aos anos que passei aqui, sei como me virar. Portanto, assumo a liderança de guiar nós dois até o atelier onde meu estojo de pincéis e todo o resto dos materiais foram abandonados por mim.

— Estamos quase lá! — Digo para tranquilizá-lo ainda que ele não apresentasse nenhum sintomas de que estava dominado pelo medo de ser pego como eu. Talvez não tenha nada a perder, diferente de mim.

Por sorte a sala está aberta quando chegamos. Tenho muito a agradecer pela líder de sala ser esquecida e nunca lembrar de trancar a porta. Se estivesse fechada teríamos sofrido um risco totalmente à toa.

Enquanto procuro minha bolsa no chão Jonathan fecha a porta atrás de nós. Para minha surpresa, a bolsa já não está mais no chão, mas sim na cadeira que sentei no outro dia. Alguém colocou lá por mim.

— Encontrei! — Falo animadamente porque a missão de recuperar meus matérias está quase concluída.

Porém, como nem tudo são flores, em um descuido total, derrubo os materiais de outra pessoa no chão. O barulho de latas pesadas de tinta é estridente e tenho certeza que qualquer um a metros de distancia pode ter ouvido.

Olho para Jonathan em completo desespero, mas ele apenas agarra minha mão e me puxa para o depósito de materiais dentro da sala que estamos. Costumamos usar aquele depósito para armazenar itens pequenos, não foi feito para duas pessoas se esconderem dentro. Jonathan e eu temos que dividir um espaço minúsculo para escapar.

— Eu sinto muito... — Tento dizer porque estou realmente arrependida pelo que fiz, mas ele coloca sua mão direita sobre minha boca e com a outra faz sinal para eu ficar quieta.

Poucos minutos depois, a porta da sala se abre. Jonathan e eu nos encolhemos o máximo possível, tentando ocupar o mínimo de espaço.

Isso não é nada bom.

A ultima vez que estive em um lugar tão pequeno foi…

Bom, não é hora para ficar presa no passado. Porém, meus pulmões já estão falhando, a tontura toma conta de mim e a sensação de pânico é incontrolável. Mesmo assim, tudo o que consigo pensar é que se fomos pegos, além de se meter em encrenca junto comigo, jonathan ainda saberá quem sou de verdade.

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⏰ Última atualização: Aug 24 ⏰

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