Uma Farsa De Amor

CAPÍTULO 01 - COMO IMPEDIR UM CASAMENTO

Lille, 1997

— O que você acha dessas aqui?

Anne, me estende as mãos segurando pulseiras brilhantes. Fazem 20 minutos que ela vasculha suas gavetas em busca do acessório perfeito que segundo ela irá "fazer toda a diferença".

— Por que está me arrumando tanto? - Questiono suspirando enquanto observo o reflexo dela no espelho. - O Plano não é fazer com que ele saia correndo?

Ela franze a testa, reconsiderando o que eu disse.

— Mas é seu primeiro encontro! Mesmo que não seja um encontro de verdade, deve ser um dia especial. E dias especiais pedem pulseiras especiais.

Reviro os olhos para toda aquela bobagem enquanto estendo os braços para que ela prenda as pulseiras em meus pulsos. Um sorriso radiante ilumina seu rosto.

Na verdade, isso tudo era um farsa, um plano cuidadosamente elaborado para evitar que a vida de Anne fosse completamente arruinada por um casamento sem amor e sem futuro. Eu não ia permitir que nenhum homem transformasse sua vida em um tormento, pois era exatamente isso que eles faziam: Transformam sua vida em um tormento.

Tudo tinha começado há três dias, Anne e eu havíamos iniciado a jornada para organizar a festa de aniversário mais épica de todos os tempo. Anne estaria completando 21 anos em alguns dias e como diz um ditado antigo: "um dia especial merece uma comemoração memorável".

O quarto era como um campo de guerra. folhas amassadas cobriam o chão como soldados derrotados, vítimas das infinitas ideias que surgiam e desapareciam das nossas mentes. De repente, duas batidas na porta interromperam nosso momento de raciocínio. Era o pai de Anne.

— Ótimas noticias, querida! — Exclamou ele com um sorriso radiante como se estivesse prestes a anuciar a melhor notícia das nossas vidas.

O pai de Anne era um homem bom apesar de tradicional, talvez o único homem que ainda não havia sido corrompido pela "natureza masculina''. No entanto, ele ainda vivia no século passado, sonhava em ver Anne subir no altar vestida de branco para se unir a um homem "bom e honesto" e no final eles viveriam felizes para sempre como em um conto de fadas. Ele só esqueceu de um pequeno detalhe: que homem ainda é bom e honesto? Eles já foram algum dia? Ele deveria querer que Anne ficasse o mais longe possível do cromossomo XY.

— Pai, não diga que está planejando um novo encontro com um homem bom e honesto, de familia gentil e que dessa vez eu irei gostar dele.

— Estou planejando um novo encontro com um homem bom e honesto, de familia gentil e que dessa vez, eu juro que dessa vez vocè irá gostar dele.

Anne enfia o rosto nos travesseiros, abafando um gemido de frustração. Posso ouvir sua respiração alta mesmo da distância que me separa dela.

Assim que a porta se fecha, Anne levanta rápido e começa a andar de um lado para o outro como um animal enjaulado. Seus passos frenéticos ecoam pelo quarto.
— O que eu faço, Emmeline? Já são 4 encontros arranjados só nessa semana! Ele vai me enlouquecer!

Eu sabia que era inútil sugerir que ela conversasse com ele. A simples menção do nome do homem que Anne realmente gostava poderia fazê-lo explodir de raiva.

— E se ele me obrigar a casar? — Ela se assusta com as próprias palavras.

— Não! —  Protesto. Meu tom de voz cortando o ar como um raio. — Isso não pode acontecer!

A ideia de Anne presa em casamento arranjado era inaceitável. O matrimônio, é como um confinamento que sufoca seus sonhos e aspirações. Não tirei essas conclusões sem pensar. Sabia como os homens podiam ser ruins quando queriam. Eles gostam de ser o centro. Nada de mulheres com opiniões próprias.

— Vamos resolver isso! —  Afirmei com convicção. — Eu irei no seu lugar nesse encontro.

Anne arregalou os olhos, surpresa e incrédula.

— O quê? — Eu me passarei por você — Repeti. — E farei com que qualquer homem dessa cidade desista da ideia de casar com você.

Lágrimas brotaram nos olhos de Anne, ameaçando transbordar. Ela era uma pessoa sensível, facilmente tocada por gestos de afeto e compaixão.

— Você faria isso por mim? — Sua voz era quase um sussurro.

— Claro! — Respondi. — Você sabe que sou especialista em lidar com homens.

Foi então que acabei nessa enorme cilada. Não é culpa de Anne, claro. A ideia toda partiu de mim e voltar atrás era impossível. Como uma pessoa responsável, devo ao menos assumir as consequência das minhas ações.