CAPÍTULO 04 - A MENTIROSA E O CAFAJESTE

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— Eu gostaria de saber se você aceita sair uma segunda vez comigo. — Ele se levanta de onde estava abruptamente de uma maneira que me faz afastar dois passos para trás surpresa com aquele tipo de reação.

O que foi isso? Ele ficou maluco?

Que tipo estranho de homem é esse?

— A propósito, senhorita Anne, não pude me apresentar adequado antes. Me chamo Jonathan.

O barulho no café aumenta, dificultando que eu escute até meus próprios pensamentos que neste momento se tornam uma bola de neve.

— Eu não posso... — Consigo sussurrar porque pela primeira vez naquela tarde estou sendo honesta.

— Não pode? — Jonathan pergunta surpreso. — Mas... Por que não?

Afasto-me mais dois passos.

— Eu não quero! — Sou firme, pois preciso. Embora de alguma forma me sinta culpada por ser tão rude. — Eu não quero vê-lo de novo.

Por algum motivo, meus olhos se recusam encontrar os deles durante o tempo em que eu pronuncio cada palavra dura. Não havia outra saída. Eu não tinha ido aquele encontro para me apaixonar por um completo estranho. Meu objetivo era salvar Anne. Salvar nossas vidas.

Eu não sabia o que se passava na mente de Jonathan, mas sabia que o estava magoando. Era evidente.

Com o silêncio preenchendo o ar pela primeira vez, saio do café com os mesmos passos lentos de antes. Caminho pela calçada tropeçando nos meus próprios pés, amaldiçoando os sapatos de Anne que não eram nem um pouco confortáveis. No entanto, o carro não está lá. Anne havia me abandonado.

Eu até poderia pensar em ir ao ponto de onibus, mas isso significaria ter que amputar meus pés depois.

— Precisa de uma carona para casa?

Não… não… não.

Hoje com certeza não é meu dia.

— Não. — Respondo com frieza, não dando espaço para mais conversa.

— Você mora perto? — Questiona, se posicionando ao meu lado. — Posso te levar até sua casa.

— Eu já disse que não precisa. — Me viro para ele aumentando o tom de voz. — O meu pai vai vir me buscar.

— Parece que ele ainda não chegou. — Jonathan diz com um tom de voz que soa mais como uma provocação do que uma constatação.

OK. Em toda minha vida, nunca conheci alguém tão persistente. Se Anne tivesse vindo no meu lugar, eles realmente estariam indo para o altar agora mesmo. Ela não aguenta ser muito pressionada.

Cinco minutos… dez minutos… quinze minutos se passam. Será que Anne não vai mais vir?

— Vamos fazer alguma coisa? — Jonathan sugere com empolgação como se eu tivesse sido gentil e nada arrogante mais cedo.

Olho para os meus pés. Nem se eu quisesse ir com ele isso seria possivel.

— Aah. Parece que voce está machucada.

— Não, eu… — Tento disfarçar, mas cada movimento que faço sinto que realmente ficarei sem meus preciosos pés logo em breve.

— Volto em um segundo.

Respiro fundo enquanto observo a silhueta dele se dissolver diante da multidão. Por que eu quero que ele volte? Essa pergunta ecoa em minha mente, desafiando a lógica. Deveria estar ansiosa pelo retorno de Anne e Martin, livre daquela farsa constrangedora do encontro. Porém, contra minha vontade, sinto um desejo inexplicável de vê-lo novamente. Quero desvendar o misterio por trás da insistência dele mesmo quando recusei milhões de vezes.

Ele gosta de mim?

Impossível.

Essa é a primeira vez que nos vemos. Esse negocio de amor à primeira vista é realmente um absurdo.

Jonathan volta com uma sacola um tempo depois. Ele traz consigo uma garrafa d’agua e algumas bandagens adesivas.

— Consegue caminhar até aquele banco?

Cálculo a distância mentalmente e com esforço começo a caminhar até lá. Não é longe mas é o suficiente para fazer meus pés doerem. Jonathan abre a garrafa d’agua oferecendo-a mim. Eu não havia notado como estava com sede até lembrar que não dei um único gole na xícara de água que pedi mais cedo. Enquanto isso ele se ajoelha na minha frente e a água parece ferver minha garganta.

— Posso?

Sei ao que ele está se referindo. Está tarde demais para recusar então concordo. Seus dedos macios e ágeis, se movem com precisão enquanto ele limpa meus machucados e aplica o curativo. Não consigo evitar observá-lo. Meu coração dispara como se houvessem fogos de artificio dentro do meu peito. O que é definitivamente um exagero. Não é porque um homem me tocou que preciso ficar cheia de emoções desordenadas. Tenho certeza que depois de uma boa noite de sono esquecerei quem é Jonathan. Esquecerei desse encontro desastroso e Anne estará salva do casamento por algumas semanas.

Quando ele calça meus sapatos novamente e se senta ao meu lado, meu coração resolve se acalmar. Ficamos em silêncio observando os carros passarem em um ritmo frenético.

— Por que mentiu? — Ele rompe o silencio me pegando de surpresa.

— Eu?

Minha mente entra em pânico. Abro a garrafa d’agua na esperança de ganhar tempo com a boca cheia, mas ela está vazia.

— O lance com os 4 namorados. — Jonathan rir, provavelemente se lembrando da mentira exagerada. — Sabe, você é uma péssima mentirosa.

— Eu não menti. — Minha voz soa fraca, sem convucção.

— Vamos dizer que seja verdade. — Ele se vira para me encarar. Não faço o mesmo. — Como consegue adminstrar o tempo com todos eles?

Eu deveria ter pensado melhor antes de inventar aquela história ridícula. Por que 4?

— Você pode me dizer a verdade agora. — Jonathan continuou. — Tem medo de adimitir que gosta de mim?

— O que? — Me levanto bruscamente. — Como posso gostar de você? Nós nos conhecemos há algumas horas. Isso é impossível.

— Não é impossível. — Ele também se levanta, aproximando-se de mim. — Porque eu gostei de você.

Sinto o peso do mundo inteiro em cima de mim. Como ele pode dizer isso tão facilmente? Isso deve ser fácil para os cafajestes.

Não tenho tempo para pensar muito pois o carro de Anne chega exatamente na hora certa. Então corro o mais rápido que consigo com os pés machucados para sair da vista daquele homem maluco.

— Por favor, Martin, dirija o mais rápido possível. — Imploro, sem tirar os olhos de Jonathan pela janela do carro.

Logo estavamos em movimento, deixando-o para trás.

— Anne! — Exclamei ao notar que ela não estava no carro. — Onde Anne está?

— A senhorita Anne teve um compromisso.

Compromisso?

— Para onde estamos indo, Senhorita Emmeline? — Martin pergunta, enquanto tento desvendar que compromisso Anne teria.

— Para o Hospital. — Respondo. — Vamos para o hospital.

Uma Farsa De AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora