O Princípio

59 4 15
                                    

ALGUNS MESES ANTES...

"Às vezes o universo se alinha, colocando as pessoas no caminho umas das outras, não por acaso, mas pelo destino que sempre deveria ser."

Stella revirou os olhos e deu um sorrisinho irônico de lado, sem acreditar no que acabara de ler. "Como se isso fizesse algum sentido", pensou, enquanto fechava o livro com um leve suspiro. A luz do sol da manhã entrava pelas cortinas do quarto, iluminando o ambiente confortável e luxuoso. A cama arrumada e o cheiro suave de flores traziam uma sensação de segurança e conforto, começando seu dia de uma forma perfeita e agradável.

Deixando o livro ao lado do abajur e se levantando da cama, Stella foi até a janela e olhou para o jardim impecável lá fora, por alguns instantes ficou ali, admirando os lindos girassóis que havia plantado no verão passado. Ela sempre gostou de plantar girassóis, pois era a atividade preferida que fizera com sua mãe na infância, antes de perdê-la para o Câncer. Seus pensamentos voltaram por um momento à frase que acabara de ler. "Destino... Será que existe mesmo?" Ela balançou a cabeça de forma negativa, afastando essas idéias. Não valia a pena pensar nisso.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta. Era Rubens, o mordomo fiel da família. Ele entrou com a postura elegante que sempre teve, mantendo a discrição que ela tanto apreciava. Ele tinha sido um porto seguro para Stella após a perda de sua mãe Sheila, e o carinho e a amizade entre eles só aumentavam com o tempo.

— Senhorita Stella bom dia, venho informá-la que o café está servido. O Sr. Alberto já está à mesa esperando.

— Bom dia, Ru! — respondeu ela com um sorriso carinhoso, usando o apelido que dera a Rubens quando ainda era criança. — Tudo bem, diga que já estou descendo.

Após tomar um banho revigorante, Stella foi para o closet e vestiu seu lindo robe de seda rosa, com detalhes em renda nos punhos e na barra. Era uma peça elegante, confortável e levemente perfumada. Por baixo, ela resolveu vestir uma camisola de cetim combinando, que refletia seu gosto refinado e seu estilo de vida luxuoso. Depois de se vestir, caminhou até a sua penteadeira, que ficava ao lado de sua cama, para arrumar seus lindos cabelos castanho-claros.

Quando Stella finalizou, saiu do quarto e desceu as escadas, apreciando o som de seus passos que ecoavam pelo mármore.

Ao entrar na sala de jantar, encontrou seu pai, Alberto, já sentado à mesa. Um homem forte e decidido, que comandava tanto a família quanto o trabalho com seriedade. Ele a olhou com um sorriso, mas seus olhos mostravam uma preocupação que Stella conhecia bem.

— Bom dia querida. Achei que teria que pedir ao Rubens para levar a mesa até seu quarto, para podermos tomar o nosso café da manhã— disse ele sorrindo e folheando o jornal.

— Bom dia papai. Pode ficar tranqüilo, já estou aqui. — respondeu Stella, dando um beijo na cabeça de seu pai e sentando-se à mesa. — O que foi que o senhor está com essa cara fechada?

— Nada demais, só algumas preocupações no trabalho — disse Alberto, colocando o jornal de lado e pegando a xícara de café. — A cada dia que passa, o tráfico de drogas está se expandindo do outro lado da cidade. Veja só essas notícias. — Ele apontou para o jornal, onde uma manchete destacava o aumento da violência. — Sua tia Márcia estava preocupada com a Suelen, disse que ela está se envolvendo com alguém que não é flor que se cheire. E, como sabemos quem anda com porco, farelo come.

— Não se preocupe tanto, papai. Eu conheço a Suelen, ela não vai se deixar envolver por isso.

— Eu espero que você esteja certa. Não gosto nem de imaginar o que poderia acontecer se ela não tomar cuidado.

— Graças a Deus que a gente nem chega perto dessas bandas, se não eu ficaria doida — respondeu Stella, enquanto tomava um pouco de seu cappuccino. — Se fosse comigo, eu ligaria na hora para o Ru ir me buscar, não é Ru?

— Com certeza, eu iria protegido por 10 seguranças, mas eu iria. — ambos riram com a resposta engraçada de Rubens.

Quebrando o clima, Alberto ouve o som de uma notificação no celular. O display mostrava nitidamente "Comandante Queiroz". — Eu preciso ir agora, mais tarde a gente se fala. — Alberto se despediu, levantando as pressas e indo em direção a garagem. Stella sabia que o pai levava o trabalho a sério, mas nunca o tinha visto tão tenso. Sentia que algo estava diferente, mas preferiu não perguntar.

Enquanto terminava o seu café, ela e Rubens conversaram sobre assuntos leves, mas a mente de Stella continuava a vagar, sem saber que sua vida estava prestes a mudar.

________________________________________________________________________________

Em algum lugar distante dali, há um homem sentado numa sala escura, uma grande mesa de madeira maciça ocupa o centro, cercada por cadeiras confortáveis. A fraca iluminação deixa o ambiente ainda mais sombrio. Bitucas de cigarro espalhadas pelo chão misturavam-se com garrafas vazias de uísque. Nas paredes, havia mapas detalhados da cidade, com marcações das áreas de influência e algumas rotas de tráfico. O homem misterioso acende outro cigarro e começa a fumar. Ele sentiu o celular vibrar no bolso; uma ligação cortava o silêncio da noite. A voz do outro lado da linha era baixa e cautelosa, como quem carrega um segredo pesado:

— Ele está se movendo. — O tom era frio, quase calculista. — Queiroz não vai sossegar enquanto não acabar com o seu negócio.

Houve um momento de silêncio, seguido por uma pergunta carregada de desconfiança.

— Queiroz... O que ele sabe sobre nós?

— Ainda não sei ao certo, mas parece que ele está planejando uma operação.

— Uma operação? — o tom de dúvida e desconfiança emergiu na voz.

— Não será um problema por muito tempo, confie em mim — A voz sussurrou, deixando no ar uma ameaça não dita.

Uma risada discreta escapou dos lábios de quem estava ouvindo.

— Vamos fazer isso, então. Mantenha-me informado.

A tensão tomou conta do ambiente. Passos fortes aproximaram da sala, e um terceiro homem apareceu, interrompendo a conversa:

— Diego, encontramos o Formiga! — Ele disse com uma sensação de dever comprido.

Um leve sorriso de satisfação é demonstrado. — Preciso resolver uma coisinha agora, depois a gente se fala. — Ele fala e desliga o telefone.

Um silêncio mortal mergulhou o ambiente, mas o clima de perigo permaneceu, como se uma tempestade estivesse prestes a estourar. Algo sombrio estava em marcha, e o destino de muitos estava prestes a mudar.

A Linha Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora