A Descoberta

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O sol da manhã se infiltrava pelas cortinas mal fechadas, preenchendo o quarto com uma luz suave e dourada. A favela começava a despertar, com o som das crianças brincando do lado de fora, latidos distantes e o murmúrio das primeiras conversas nas ruas. Stella estava deitada na cama, de olhos fechados, tentando se prender à sensação de tranqüilidade que o amanhecer lhe trazia. O ambiente na casa estava carregado, Stella ainda abalada após o seu tenso encontro na noite passada com Diego, tentava esconder a confusão em seus pensamentos. Ela se sentia vulnerável, como se algo estivesse mudando em seu interior. Não entendia o porquê, mas aquela cena não saia de sua cabeça.

Suspirando, ela se levantou da cama e caminhou descalça pelo quarto, o chão ficava mais frio a cada passo que ela dava. Tudo parecia tão normal, o relógio já marcava 08h45 da manhã, mas algo a incomodava, uma ansiedade que não conseguia explicar. Aliás, havia outra preocupação que dominava sua mente: A corrente com um pingente "S". Aquela correntinha era mais que um simples acessório; era uma conexão viva com seu pai, Alberto. Foi o último presente que Stella ganhou antes de seu querido pai partir. Ela costumava usar como um amuleto, sentindo que ele sempre estava ali com ela. Levou então a mão ao pescoço, mas a correntinha não estava lá. E com isso, a memória de seu pai parecia se afastar, como se o elo entre eles estivesse desaparecendo. Mas naquele dia, o peso da falta era ainda maior.

Ela foi até a pequena penteadeira no canto do quarto, onde se olhou no espelho. A expressão abatida e os cabelos levemente bagunçados revelavam o cansaço que carregava, mesmo após uma noite de sono. Decidiu que, para hoje, não precisaria de grandes esforços. Colocou uma camiseta branca simples de seda e um short jeans curto com alguns rasgos detalhados, tentando se preparar mentalmente para mais um dia na favela, quando um som agudo interrompeu o silêncio. "Plim!"

Stella franziu a testa, confirmando o som da notificação, tirou o celular do bolso, mas viu que não era seu celular. Olhou ao redor do quarto e viu o tablet que ela quase nunca usava, esquecido em cima da cômoda. Estranho. Quem poderia estar mandando mensagem ali? Ela se moveu devagar, com o seu coração acelerando levemente com a curiosidade crescente. Pegou o tablet, e viu a tela já acesa com a notificação de uma nova mensagem. Um número anônimo.

Ela hesitou por um momento, deslizando o dedo pela tela antes de abrir a mensagem.

"Descobri algo sobre a morte de Alberto. Se quiser respostas, me encontre no endereço abaixo às 20h. Venha sozinha e não comente isso com ninguém. Não se atrase!"

Logo abaixo, havia um endereço que ela não reconhecia, em um canto distante da cidade.

O coração de Stella quase parou. O nome de seu pai, Alberto, estava ali, como uma ferida reaberta. Quem poderia saber? E o que mais poderia dizer sobre a morte dele? E agora, a possibilidade de finalmente descobrir algo sobre aquela noite estava ali, diante dela. Mas era perigoso. Quem quer que tenha escrito por trás daquela mensagem sabia demais.

Stella sentou na beira da cama, com a mente rodando. "Será que eu devo ir?" "Será que é alguém de confiança?"... Algo dizia que isso deveria ser investigado por ela mesma, pelo menos até entender o que estava acontecendo.

Ainda perdida nos próprios pensamentos, seus olhos ficaram vidrados na tela quando uma batida rápida na porta a trouxe de volta à realidade. Stella olhou rapidamente para a porta e, em seguida, para o tablet em suas mãos. Com um movimento rápido, enfiou o aparelho debaixo do travesseiro e tentou se recompor.

A porta se abriu de repente, revelando Suellen com uma expressão confusa e menos desconfiada.

— Tá tudo bem, Stellinha? — perguntou Suellen, observando o quarto com atenção. — O que você está fazendo aqui sozinha, não vai descer para tomar seu café?

A Linha Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora