Provocações

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  Havia anoitecido lentamente, quase que como se o tempo estivesse brincando com a impaciência de Caitlyn, desafiando sua coragem a cada segundo mais próximo do horário que os Warwick iriam chegar.

Ela sabia que Vi não subiria por conta própria, até mesmo se pedisse. Então precisaria ficar de olho quando eles fossem surgir, caso contrário, passaria a madrugada toda sem nem perceber que a rosada e seu irmão tinham estado lá há horas.

Não foi muito difícil já que constantemente checava a janela de seu quarto. Temeu que eles fossem discretos o bastante a ponto de não a deixar notar suas presenças, porém, assim que avistou os arbustos se mexendo ao longe, deduziu ser os dois.

Até aí tudo bem, tudo muito fácil.

Cait sabia que a conversa que queria ter com Vi poderia afastá-la ainda mais de si – mais pela culpa do que vontade, até porque se dependesse dela, não desgrudaria de si um minuto sequer –, mas não podia simplesmente esquecer aquilo e seguir em frente.

Nem a própria loba conseguiria se enganar assim por tanto tempo.

E talvez fosse isso que faltasse entre elas para as coisas fluírem de verdade. Diálogo. Uma conversa sincera, sem joguinhos, mentiras, falsidade... Apenas uma conversa despida de qualquer outra coisa que não fosse honestidade. Só.

Não era um baita pedido, certo?

A Warwick aceitaria uma conversa civilizada sem choro, culpa, acusações e tons elevados. Ou pelo menos achava que sim. Descobriria apenas se tivesse sua atenção, se estivesse ali com ela. Mas, por algum milagre, não precisou se esforçar tanto para isso.

Claggor apareceu apoiado num dos galhos ao lado da janela, pedindo para que a azulada abrisse.

E assim fez, prontamente. O garoto não chegou a entrar no quarto, apenas usou a força que tinha para se segurar no batente.

– Boa noite, Cait – Lhe deu um sorriso simpático – Vamos estar aqui pro que precisar, tá bom? Subi só pra te avisar que já estamos nas redondezas.

– Ah, beleza. Obrigada por avisar – Se aproximou um pouco mais, a fim de descobrir a localização exata da mais velha ao dar uma espiadinha descarada por seu ombro – Mas tem certeza que não vai ser um problema pra vocês? Não quero de jeito nenhum incomodar.

– Relaxa, garota Kiramman – Ele lançou um olhar despreocupado – Vai ser divertido caçar a ruiva se ela aparecer por aqui. Não se preocupe, não está incomodando.

– Bom, se você diz... – Desistiu de saber onde ela estava de tanto caçar-lhe pelo campo banhado pelo escuro – Eh... ela... tá com você?

Ele demorou para responder, como se ponderando se aquela confirmação podia ser ou não dita.

– Sim, mas...

– Pede pra ela vir aqui, por favor? – Péssima transição.

– Cait... ela deixou bem claro que não entraria-

– Por favor, Claggor – Se aproximou mais do rapaz, o gesto quase que em súplica – Eu insisto! Preciso vê-la.

O garoto parecia ter coração mole, então a Kiramman pensou que não precisaria encenar toda aquela depravação afim de convencê-lo.

Mas se surpreendeu em como demorava para ceder de fato.

– Sei que quer conversar com ela e tudo... Vander por algum milagre até permitiu que ela viesse... – Se conteve, sem saber como preencher suas explicações com convicção, suspirando – Melhor não abusarmos da boa sorte, Cait.

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