A reação dos irmãos foi simultânea, franzindo o cenho. O terceiro macho parecia que não compreendia suas palavras, então nada demonstrou. Mas ele observou quando os outros dois se entreolharam e encararam os machos no covil.
Ela já havia desistido.
Então por que está se importando tanto ao ponto de dialogar com eles?
— Quer morrer de fome? — Ele pergunta.
— Não.
Mas morreria se eles não a alimentasse.
— Deseja ser morta por alguma criatura voraz?
— Sim — as feições de Dandara sequer se alteram. Ela não demonstra medo ou a mínima hesitação. — Se essas são minhas opções, quero vocês, criaturas vorazes, me matem e me poupe dessa briga de cachorro grande. É só isso que eu quero... paz!
Sem acasalamento.
Sem filhotes.
Sem dor.
Sem decepções.
Paz!
Foi a vez dos machos ficarem em silêncio. Eles se entreolharam, respiraram fundo e encararam.
— Então se aproxime.
Dandara escutou a voz de pilantra sussurrar algo em chryffthyturiano. Mas quando a compreensão veio, a humana já estava se aproximando.
— Não! — Rosnou Cuidadoso. Ele se aproximou e Dandara o olhou.
Esse erro não foi perdoado.
Crynoux se agarrou a humana, firme e letal, passando os braços pelo corpo pequeno segurando o seu pescoço. Dandara pressentiu uma agitação nas árvores e viu quando até mesmo Capacho saiu do covil completamente transformado e raivoso.
O macho cheirou seu cabelo, percebendo que, mesmo magra, estava sendo bem cuidada. Talvez ela nem sinta mais as dores de seus machucados.
Mas ela já estava tão quebrada que já não se importava com mais nada.
— Nesse momento, humana, tenho tantas opções de te matar que até me perco — ele sussurra ao seu ouvido, causando um arrepio por sua espinha. — Posso rasgar sua garganta, quebrar o seu pescoço ou simplesmente sufocá-la por me fazer perder tempo de vir até aqui atrás de você!
Dandara nada disse. Seu coração estava disparado, ela estava ofegante, mas era a razão e não o instinto a predominar.
— Não quer reconsiderar?
— N-Não...
Ele sorri. Um ronronar gutural arrepia o maxilar da humana e a deixa sem força nas pernas. Ela ouve a aproximação dos machos que vem da da floresta e dá um último olhar para aqueles que cuidaram tão bem dela.
— Que pena... — ele aumenta o aperto no pescoço, fazendo-a olhar o breu que era o teto do subterrâneo, com apenas alguns cristais lunares a favorecer a penumbra por meio da neblina.
Ela queria ver as estrelas.
— Realmente uma pena que prefira a morte do que a vingança — ele murmura. Dandara franze o cenho e, quando ele percebe, a vira para olha-lo. — Por invés de pensar no que faremos com você, não pensa no que faríamos por você?
Mandão matou por ela.
Cuidado cuidou dela.
Pilantra e Capacho a distraiam do terror.
E Comunicativo prometeu que nada lhe aconteceria naquela conversa.
— Você não vai me matar...
— Não — ele acaricia gentilmente seu rosto. — Se você me pedisse para matar por você, eu mataria. Mas não vou te matar.
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ACASALAMENTO: Lua Cheia
WerewolfO que você faria se estivesse nessa situação? Após anos de escravidão e vivendo uma rotina angustiante, Dandara vê o navio em que estava sendo arrastado por um fenômeno aquático peculiar. E um novo mundo se revela, então: Uma floresta que tinha tudo...