Cuidadoso permaneceu imóvel.
Ele estava debruçado sobre o corpo adormecido da humana. Seu tamanho a protegia e as flores a escondiam.
O ambiente estava em total silêncio.
Ele sentia o cheiro desejoso de Dandara e ouvia a sua respiração em sincronia com o vento suave a pentear a relva.
E principalmente, ouviu o afastar das folhas e visualizou a fera muito antes dela sair de ela entrar em seu campo de visão.
Mas não era um chrynnos.
Uma criatura com escamas escuras e garras afiadas... um linda listra dourada na lateral do corpo reluziu o brilho dos cristais. Ele exibiu os dentes no momento em que percebeu não pode sentir o cheiro de sua caça.
Dandara estava totalmente camuflada afinal.
O estridente é uma das criaturas mais perigosas que existem, dotados de uma inteligência racional e garras capazes de fazerem um completo estrago num chrynnos.
E não andam sozinhos.
Cuidadoso ouviu a passar de outro a direita. E viu o levantar de cabeça do terceiro mais a frente, esticando o corpo até alcançar impressionantes seis metros de altura e olhando por cima da relva.
Cuidadoso não seria capaz de lutar e proteger Dandara ao mesmo tempo caso fosse descoberto.
O predador a sua frente não se assusta facilmente. Ele sabe de sua força. Do seu perigo.
Porém, Dandara se remexeu.
Os pelos de Cuidadoso ficaram quase tão eriçados quanto os do diazilla kamal que mal chegava a respirar. Estridentes não conversam. Eles matam!
Dandara bocejou.
Cuidadoso exibiu os dentes e procurou a melhor rota de fuga. O kamal o encarou com temor de ser abandonado.
Mas também observou a astúcia do macho.
Se uivar e pedir ajuda, os chrynnos virão. Machos ferozes, porém, ansiosos para acasalar. Esse também era o motivo pelo qual o estridente não gritou... aquela área é perigosa para eles.
Tão perigosa que não foi surpresa quando, não três, mas cinco cabeças negras olhou para cima da relva em direção às árvores. Saindo das sombras, um chrynnos se revelou.
Cuidadoso dobrou as orelhas para trás quando ouviu o rosnado familiar.
É Pilantra.
Cuidadoso não respondeu ao uivo. Talvez por estar em situações delicadas ou simplesmente por não querer revelar a sua presença. Pilantra preferiu não arriscar.
Ele estufou o peito e eriçou a pelagem rente a área do pescoço e braço, lhe dando a ilusão de um porte maior e mais robusto. Ele exibiu os dentes afiados, puxou o ar e novamente rosnou num ritmo de alerta.
Uma intimidação.
Ele não poupou silêncio ou hesitou. Outros chrynnos poderiam ouvir.
Os estridentes não recuaram.
Revidaram a ameaça mostrando suas próprias fileiras de dentes. Eles sequer saíram do local, ainda mantendo Cuidadoso numa situação delicada.
Então Pilantra saltou, grudando na árvore mais próxima e a escalando com a mesma habilidade que demonstrou no precipício. Ali ele manteria sua própria segurança até a chegada de reforços. Ele revelou sua total impaciência abrindo a boca e rosnando ainda mais alto.
Quase ao ponto de rugir.
Foi quando os estridentes vacilaram.
É um jogo de ilusão! Pilantra precisa que eles acreditem que não se importa em chamar reforços simplesmente por não saber da presença da fêmea. Ele finge ignorância ao fato de que teria que duelar com seus aliados pela atenção dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ACASALAMENTO: Lua Cheia
Loup-garouO que você faria se estivesse nessa situação? Após anos de escravidão e vivendo uma rotina angustiante, Dandara vê o navio em que estava sendo arrastado por um fenômeno aquático peculiar. E um novo mundo se revela, então: Uma floresta que tinha tudo...