cap 07

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A respiração deles ainda estava ofegante. O silêncio preenchia a cozinha, apenas interrompido pelos sons suaves de suas respirações e o leve tilintar da água na pia. A garota ainda sentia o calor das mãos dele em sua pele, o toque firme que parecia reverberar pelo seu corpo, e, ao mesmo tempo, uma estranha sensação de vazio começou a se instalar. O desejo que havia consumido seus pensamentos agora dava lugar a uma inquietação que ela não conseguia explicar.

Kay permanecia imóvel, as mãos ainda descansando em sua cintura, mas sua expressão era indecifrável, escondida atrás da máscara que nunca tirava. Ele a olhava, mas parecia distante, como se estivesse lutando contra algo dentro de si.

Finalmente, ele deu um passo para trás, soltando-a com uma gentileza inesperada. A garota se endireitou no balcão, sentindo a frieza do mármore contra sua pele. O pano ainda cobria seus olhos, mas ela não ousava removê-lo. Não queria ver a expressão dele. Não estava pronta para enfrentar a realidade que poderia estar refletida em seus olhos.

— Isso... foi um erro — a voz dele soou firme, mas havia uma nota de hesitação que ela não pôde ignorar.

— Um erro? — ela repetiu, sua voz saindo mais fraca do que pretendia. O que ele queria dizer com isso? O que havia acontecido entre eles não podia ser simplesmente descartado como um engano, algo sem importância. Pelo menos, não para ela.

Kay virou-se de costas para ela, passando as mãos pelos cabelos úmidos de suor, um gesto que indicava seu estado de confusão. Ele sabia que tinha cruzado uma linha, uma linha que, talvez, jamais devesse ter sido cruzada.

— Eu não deveria ter deixado isso acontecer. — Ele continuou, a voz mais baixa, como se estivesse falando mais para si mesmo do que para ela.

A garota desceu do balcão, puxando o pano dos olhos, e deu um passo na direção dele. Ela sentia que ele estava se afastando, não apenas fisicamente, mas de algo mais profundo, algo que ela ainda não conseguia definir. A tensão entre eles era palpável.

— Kay, por que você... por que você sempre me mantém à distância? — A pergunta escapou antes que ela pudesse contê-la. Ela precisava entender, precisava de alguma explicação para o comportamento enigmático dele.

Ele parou, os ombros tensos. Por um momento, ela pensou que ele não responderia, mas então ele se virou para ela. Os olhos dele, sempre ocultos pela máscara, pareciam ainda mais sombrios agora, como se carregassem um peso que ele jamais compartilharia.

— Porque é mais seguro assim. — A resposta dele foi simples, mas cheia de implicações.

Ela queria argumentar, queria gritar que não era justo, que ele não tinha o direito de decidir o que era melhor para ela sem sequer consultá-la. Mas as palavras morreram em sua garganta quando ele deu mais um passo para trás, criando uma distância que ela não sabia como atravessar.

— Vá para o seu quarto. — Ele falou novamente, com uma frieza que cortou o ar entre eles.

Ela sabia que a conversa havia terminado, que ele não lhe daria mais respostas naquela noite. Com o coração apertado, virou-se e saiu da cozinha, o som dos próprios passos ecoando pelos corredores escuros da casa.

Quando finalmente chegou ao quarto, fechou a porta e se encostou nela, tentando controlar as lágrimas que começavam a surgir. Sentia-se confusa, perdida entre o desejo e a dor, entre o que queria e o que sabia ser certo. Kay a tinha dominado com uma força que ia além do físico; ele estava dentro de sua mente, de sua alma.

Ela deslizou para o chão, abraçando os joelhos, e deixou as lágrimas caírem silenciosamente. Não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que, de alguma forma, estava presa a ele, a esse homem que a mantinha a uma distância dolorosa. O que quer que estivesse por vir, ela não tinha certeza se estava pronta para enfrentar, mas também sabia que não conseguiria se afastar.

Naquela noite, ela adormeceu no chão, perdida em pensamentos que misturavam medo, desejo e um crescente desespero por respostas.

"A curiosidade que antes a consumia agora dava lugar a algo ainda mais perigoso: a necessidade de entender o homem por trás da máscara."

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